A cada dia, mais do que buscar nas gôndolas dos supermercados carnes com qualidade, o consumidor tende a buscar produtos dos quais tenha a certeza de que chegaram ali cumprindo os mais rigorosos processos de abate e manejo. E esta preocupação passou a se tornar uma exigência porque os consumidores querem carnes cada vez melhores e, agora, provenientes de abatedouros que não causem sofrimentos aos bois abatidos.
Esta é uma tendência sem volta, estabelecida por uma nova ordem que valoriza a busca pela qualidade de vida e preservação do planeta, e preocupa-se com os direitos reservados aos animais. Diante desse cenário, a discussão do “abate humanitário” ganha espaço. O abate humanitário consiste em uma série de práticas e procedimentos que visam preservar o bem-estar do animal, minimizar seu estresse e sofrimento, desde seu embarque na fazenda, até a sala de abate no frigorífico.
A legislação brasileira prevê o respeito ao bem-estar animal como uma obrigação e ações recentes do MAPA têm sido direcionadas para um trabalho efetivo de intensificação de iniciativas nesse sentido, como o Programa Nacional de Abate Humanitário, lançado em 2009 e parceria com a WSPA (Sociedade Mundial de Proteção Animal) e a recém-criada Comissão Técnica Permanente de Bem-Estar Animal (CTBEA).
Essa preocupação também já está presente em boa parte dos frigoríficos brasileiros, e não apenas com relação a carnes destinadas a exportação, mas também para o mercado interno, dependendo da exigência dos compradores. Um exemplo de parâmetros que são adotados por frigoríficos são os critérios recomendados pelo American Meat Institute, utilizados por diversos compradores para a aprovação de plantas. Esses critérios estabelecem limites para ocorrências como choque e escorregões, e reprovam plantas frigoríficas que usem a força ou agressões diretas no manejo com os animais, não forneçam água suficiente, negligenciem ou abuse do gado. Determinam também um índice mínimo de 95% de eficácia no atordoamento (animais atordoados no primeiro disparo).
Mas é importante lembrar que essas práticas de manejo não podem se resumir ao frigorífico. Elas precisam começar na fazenda, que tem grande responsabilidade na composição do produto final que chega à mesa do consumidor. Um estudo do Grupo Etco (Grupo de Estudos e Pesquisas em Etologia e Ecologia Animal da Unesp de Jaboticabal, SP) mostra que 40% dos hematomas que aparecem nas carcaças são originados na fazenda – percentual de um índice bastante elevado de perdas para a produção nacional: 12 milhões de quilos de carnes jogadas fora por ano em decorrência de lesões que se apresentam em 50% das carcaças de animais abatidos no Brasil.
A responsabilidade da fazenda, no entanto, é ainda maior do que os 40% mostrados pela pesquisa, uma vez que é o manejo recebido pelo gado na fazenda o principal fator que determina o comportamento e reatividade dos animais que são entregues ao frigorífico. Um animal mais reativo tende a dificultar o manejo tanto no transporte quanto no frigorífico, aumentar o risco de acidentes e lesões, e a ter um nível de estresse mais alto, o que prejudica a qualidade da carne. E o impacto disso, além de implicar em restrições de mercado também afeta o bolso do produtor.
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