Uma das grandes dificuldades para acelerar o progresso genético da bovinocultura leiteira está relacionada ao maior intervalo entre gerações, ou seja, idade média dos pais quando os filhos entram em reprodução, quando comparado ao de outras espécies animais. Nas condições de criação das fazendas brasileiras o tempo médio para isso acontecer varia entre cinco e seis anos para as raças mais precoces e, em alguns casos, de oito até dez anos para raças mais tardias. A razão para isso está no modelo de melhoramento genético utilizado, onde o mérito genético dos touros (e também das mães) é avaliado segundo o desempenho das suas respectivas filhas (acurácia), chamado de avaliação fenotípica. Assim, para um touro se tornar de fato reconhecido pelo mercado como multiplicador de genética superior são necessários sete ou oito anos.
A tecnologia dos marcadores moleculares, mais recente descoberta da biotecnologia molecular para encurtar o ciclo de criação da pecuária de leite e identificar precocemente o verdadeiro mérito genético de touros e matrizes usados na reprodução, permite avaliar, por meio da análise do DNA, os genes e/ou seqüências gênicas responsáveis por características de interesse econômico; produtivas (leite, gordura e proteína), conformação (frame, força leiteira, úbere, pernas e patas e conformação final) e funcionais (longevidade, fertilidade e sanidade). Entre os maiores centros de pesquisa do mundo nesta área estão a Universidade de Liège, na Bélgica, e de Wageningen, na Holanda. Ambas desenvolvem em conjunto com o Grupo CRV, desde 1994, a validação de 60 mil SNPs (marcadores moleculares) aplicados ao genoma bovino da raça holandesa. Esta descoberta científica, e a sua aplicação dentro do programa de seleção da CRV, permitiram vários progressos, tais como aumentar a qualidade e quantidade de linhagens maternas e de bezerros jovens, que serão os futuros touros provados.
Dessa forma, permitiu-se aumentar a pressão de seleção, o valor genético médio destes animais e, ainda, a quantidade e qualidade dos touros TOP. Para se ter uma ideia prática da ordem de grandeza destes números, no momento, o Grupo CRV produz e seleciona, via marcadores moleculares, 1 mil bezerras e 1 mil bezerros, provenientes dos melhores touros do mundo e, ainda, de um rebanho total de 14 milhões de fêmeas, espalhadas principalmente pela Europa e América. Desse universo de animais avaliados com marcadores moleculares, os 200 melhores são selecionados para o teste de progênie convencional, ou seja, cujos resultados são provenientes das avaliações fenotípicas das suas próprias filhas. A nata destes bezerros jovens de qualidade genética superior já está sendo disponibilizada para uso comercial, por meio de um produto denominado Insire, que consiste num grupo composto por seis destes touros jovens, com valores genéticos elevadíssimos. Os marcadores moleculares permitem elevar a acurácia dos valores genéticos preditos destes animais jovens, que é de 30%, quando calculado somente pelo pedigree para até 70%. No caso do Insire, que agrega num pacote seis reprodutores jovens, a acurácia média é superior a 92%.
No Brasil, o pacote selecionado tem foco em Leite e Conformação, cujos valores mínimos são de 1.300 quilos para leite, 250 para longevidade e 109 para conformação final. Significa um grande salto no melhoramento genético de bovinos leiteiros, aumentando a velocidade de ganho genético destas características superiores, de elevado interesse econômico e aumentando a rentabilidade dos produtores. Isso permite o aumento da quantidade e qualidade de touros TOP com novas linhagens maternas, fato que reduzirá a consanguinidade; maior eficiência e rapidez na avaliação genética, ofertando ao mercado um maior número de opções ainda mais atrativas do ponto de vista econômico. E também acelerar significativamente o progresso genético dos bovinos leiteiros, especialmente da raça holandesa, seja pelos ganhos significativos gerados dentro do programa de seleção e identificação de animais superiores, seja pelo fato de aumentar ainda mais o acesso e penetração desta tecnologia nas fazendas distribuídas pelo mundo todo, especialmente no Brasil.
Trata-se, portanto, de um novo momento na área de melhoramento genético de bovinos leiteiros, que antecipa a genética do futuro, de forma rápida e segura, fato que trará maior competitividade para a cadeia produtiva do leite e possibilidades de maiores ganhos para os produtores, principalmente aqueles que estiverem desfrutando, de forma pioneira, dos seus benefícios.
|