A poda em plantas perenes é uma técnica tradicional, praticada desde que o produtor percebeu melhorias na frutificação das brotações novas. Na cultura do café não é diferente e a produção dos frutos geralmente ocorre nos ramos mais novos e enfolhados, devido à capacidade que eles têm de armazenar reservas de carboidratos e nutrientes para a formação das gemas reprodutivas, que mais tarde darão origem às flores e posteriormente aos frutos.
Ao envelhecerem, os ramos perdem a capacidade de armazenar as energias responsáveis pela floração, comprometendo a produtividade da lavoura. Assim, o objetivo da poda é recuperar ou manter a estrutura reprodutiva (ramos) dos cafeeiros, e dessa forma melhorar a produtividade, o que compensa o crescente aumento dos custos de produção. Entretanto, o procedimento deve ser feito somente após criteriosa análise e, de preferência, com acompanhamento de um especialista. Caso a poda seja feita sem critérios técnicos pode haver comprometimento da planta com perda de produção, além de aumentar os custos com a desbrota.
A poda deve ser uma das etapas do manejo integrado, que também inclui procedimentos como os tratos culturais e o espaçamento. A partir da década de 80 houve um aumento do número de plantas/ha, com adensamento na linha e/ou linha e rua. Essa evolução de adensamento aumentou a produtividade em quase dez vezes (Matiello Et Alli – Manual de recomendações da Cultura de Café no Brasil, edição 2010). O adensamento, juntamente com o uso de outros métodos, melhorou o desenvolvimento das plantas e consequentemente aumentou a importância da poda, que se tornou uma das principais técnicas de manejo e condução de lavoura.
Além de melhorar a estrutura produtiva das plantas, a poda também traz outros benefícios, como a diminuição da altura das mesmas, abertura de espaçamento, melhoramento do microclima, facilitação da colheita, entre outros. São vários os tipos de poda e a decisão sobre qual delas adotar deve ser tomada levando-se em consideração os fatores que influenciam negativamente a produtividade ou operacionalidade da lavoura.
Os tipos mais comuns são:
Recepa: é uma poda baixa, que promove a renovação total do cafeeiro e pode ser feita de duas maneiras: recepa baixa, com o corte da planta aos 20/30 cm; e a recepa alta, com o corte da planta aos 80 cm, deixando alguns ramos (também chamada de recepa com pulmão). Nos dois casos a operação pode ser feita manualmente, utilizando foices, machados e serrinhas, ou mecanicamente, empregando máquinas podadeiras mecanizadas e motosserras, sempre fazendo um corte oblíquo em relação ao tronco.
Decote: é uma poda alta, geralmente feita acima de 1,5m com finalidade de diminuir a altura das plantas para facilitar a colheita ou diminuir o fechamento das ruas. Também pode ser adotado em cafeeiros atingidos pela “seca de ponteiro” ou “geada de capote” (queima dos ponteiros das plantas).
Esqueletamento: é um tipo de poda que consiste em cortar os ramos laterais das plantas próximo ao tronco, mais ou menos a 20/30 cm, deixando somente o esqueleto da mesma.
Desponte: é um tipo de poda semelhante ao esqueletamento, variando o tamanho do corte, neste caso entre 40/60 cm. Geralmente o esqueletamento e o desponte vêm associados ao decote.
Safra Zero: é a poda sistemática feita a cada dois anos.
No caso das plantas recepadas, deve-se deixar um ou dois brotos apenas, eliminando os mais fracos. No caso de plantas decotadas é preciso eliminar o excesso de “brotos ladrões” e deixar um ou dois brotos no ponteiro. Em plantas esqueletadas ou despontadas há um excesso de brotações novas deixando as plantas mais vulneráveis ao ataque de doenças como ferrugem, phoma/ascochita e pseudomonas, exigindo um monitoramento mais criterioso e controle fitossanitário diferenciado.
Uma vez decidido o sistema de podas é muito importante definir a época de iniciar a operação. Há trabalhos que comprovam que quanto mais cedo for feito, melhor é a resposta em brotação e recuperação da área. O ideal é fazer em julho ou agosto, logo após a colheita.
Lavouras muito velhas com sistemas radiculares danificados por nematoides, cigarras, cochonilhas, moscas das raízes e fusariose respondem mal aos diferentes tipos de poda. Neste caso, a melhor alternativa é a substituição da lavoura.
Independente do tipo de poda realizado ocorre mortalidade do sistema radicular e para recuperar mais rápido as raízes e radicelas das plantas é fundamental realizar o tratamento de solo com fungicidas e inseticidas. Os mesmos têm papel fundamental por controlar as pragas e doenças e recuperar mais rapidamente a multiplicação e o crescimento do sistema radicular, melhorando a absorção de água e nutrientes que vão afetar diretamente a brotação e o crescimento dos ramos.
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