Ouve-se muito dizer que o curral faz o gado perder peso. Acreditando nisso, muitas fazendas optam por manter os animais no pasto, com o menor contato possível, e só levá-los ao curral quando é inevitável, para vacinação, embarque etc.
Essa prática, no entanto, em vez de preservar o animal, aumenta os riscos de acidentes e estresse no manejo e é, segundo o médico veterinário e consultor em manejo racional Renato dos Santos, justamente o que faz com que o animal perca peso no curral. “Na verdade, o que tira peso do boi é manejo ruim e estresse”, garante o veterinário. “O fato de o curral ser identificado pelo gado como uma novidade e um ambiente hostil contribui muito para isso.”
O rebanho, invariavelmente, vai passar pelo curral antes do abate – tanto no manejo de embarque, quanto no frigorífico. Para que esse manejo não seja traumático, o animal deve estar acostumado ao curral e precisa associar esse espaço a algo agradável, com bons tratos, inclusive com água, comida e sombra.
Manejo
“Todo e qualquer manejo a ser feito com gado envolve contenção”, alerta o veterinário. E a contenção envolve, quase sempre, a lida no curral.
Principalmente na fase de acabamento, a rês deve ter bastante contato com os tratadores e com o curral, até que o manejo torne-se uma rotina para ela. O objetivo é preparar o animal para o manejo pré-abate no frigorífico, onde o gado estará em contato direto com pessoas e ficará um longo período no curral e nos corredores.
Uma pesquisa realizada pelo Etco (Grupo de Estudos e Pesquisas em Etologia e Ecologia Animal da Unesp – Jaboticabal, SP), aponta que o Brasil perde de 10 a 12 milhões de kg de carne/ano devido a lesões geradas no manejo, das quais quase 40% são originadas na fazenda. O veterinário Santos lembra que a responsabilidade da fazenda é ainda maior, pois o manejo feito no transporte e no frigorífico e, consequentemente, o índice de lesões geradas nesses manejos, depende diretamente da reatividade dos animais que a fazenda entrega.
Se o manejo não for novidade, a rês sofrerá menos estresse e ficará mais calma. A consequência disso são menos lesões, melhor qualidade de carne e mais rendimento de carcaça.
O curral
Estudos do Etco também já mostraram que rampas de difícil acesso, farpas, parafusos à mostra, buracos e outros pequenos detalhes são prejudiciais ao animal e, logo, ao bolso do pecuarista. Cantos, quinas e áreas mal planejadas, assim como equipamentos velhos e sem manutenção adequada dificultam o manejo, estressam o gado e fazem o trabalho – e o gado – render menos.
Uma vez que a infraestrutura influencia diretamente na qualidade do manejo, em tempos de boa gestão da pecuária o curral precisa ser otimizado. Seringas, brete coletivo, tronco de contenção e embarcador têm de mostrar eficiência, sem causar traumas, distrações ou nervosismo.
A construção ou a reforma do curral exige soluções adequadas aos conceitos de manejo racional. Uma boa planta de curral deve ser desenhada considerando características específicas de cada propriedade. Questões como localização, para evitar que o animal caminhe muito para chegar ao curral, zona de fuga, visão do bovino, forma de reação dos animais, posição da cobertura (para haver sombra em todo o período de trabalho e proteger produtos como vacinas) precisam ser levadas em conta na hora de projetar o curral, para garantir que a infraestrutura seja adequada para gerar o retorno esperado.
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