“A revolução energética do século XXI mal está começando. O que podemos dizer com certeza é que a transição da era do petróleo ao pós- petróleo será longa e que é difícil antecipar o seu transcurso... Daí a importância de conseguir simultaneamente a redução drástica do perfil da demanda energética, a substituição significativa das energias fósseis por energias não-poluentes (incluindo nessas a queima “limpa” do carvão) e, por último, o seqüestro de uma parcela significativa dos gases com efeito estufa. O desafio requer ações cuidadosamente planejadas ao nível dos Estados Nações e uma concertação efetiva em nível internacional”.
A revolução energética do século XXI, Ignacy Sachs, Professor Honorário da Escola de Altos Estudos em Ciências Sociais de Paris e pesquisador convidado do IEA-USP, Estudos Avançados 21 (59), 2007.
A eficiência de um projeto de crescimento sustentável para a região Oeste do Paraná e outras similares e em outros estados depende diretamente da capacidade de se mobilizar o potencial da agricultura familiar, que representa 85% da estrutura fundiária regional. E isso não só pela sua expressão econômica atual de produção de alimentos, ou pela sua importância fundiária, sócio-cultural e ambiental, mas também pela possibilidade real de se somar às vocações rurais tradicionais mais uma nova função: a da geração de energia.
Mobilização semelhante já ocorre nos Estados Unidos, Alemanha e outros países que anunciam seus “Planos Energéticos 20x20”, ou seja, que esperam que em 2020, 20% de toda a energia que geram, sejam originadas no campo. Já surgem na paisagem desses países os “Parques de energia”, com energia eólica, solar PV, ou mesmo com a metanização da biomassa residual e a própria biomassa tradicional (madeira, palhas e outros resíduos sólidos, como na Europa, os caroços de azeitona). De uma certa maneira a agroindústria sucro-alcooleira já vem trilhando, e bem, esses caminhos, agregando à produção valores energéticos que antes se constituíam em passivos
ambientais, como o bagaço.
Achar a nova vocação da agricultura familiar para produzir energia pode ocorrer simplesmente disponibilizando o uso da terra para plantio de lavouras direta e indiretamente com fins energéticos. Outra proposta é ampliar o alcance da nova função. Além disso, podem-se adotar novas práticas e modos de produção, que incorporem nas atividades a noção de eficiência
energética, usufruindo das possibilidades de geração de energia a partir de seus resíduos, efluentes e dejetos, ou seja, a biomassa residual resultante das próprias atividades.
A agricultura familiar, segundo o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA) e a Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO) abrange cerca de 13,8 milhões de pessoas, ou 77% da população ocupada na agricultura. São cerca de 4,1 milhões de estabelecimentos familiares, que produzem quase 40% do Valor Bruto da Produção Agropecuária, ou 60% dos alimentos consumidos pela população brasileira. Cerca de 70% do feijão consumido pelo país vem daí e também 84% da mandioca, 58% da produção de suínos, 54% da bovinocultura de leite, 49% do milho e 40% de aves e ovos.
Por outro lado o Relatório Anual-2006 do IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, indicou que a taxa de eletrificação rural do Brasil cresceu de 39% para 68% das
propridades nos últimos 10 anos (1996-2006). Enquanto isso os mesmos números também revelam que 32% das propriedades não têm acesso à energia elétrica. O maior crescimento se deu na Região Nordeste de 19,9% para 61,5%. Do total das propriedades energizadas, 3,25 milhões de propriedades ou 92,4% compram energia de distribuidoras oficiais e somente 2,1% da energia consumida é gerada pelas próprias atividades.
O segmento pouco se renova. Apenas 23% dos estabelecimentos familiares rurais acessaram financiamentos nos últimos três anos. O Governo Lula além de ter destacado a agricultura familiar, colocando-a sob orientação de um ministério específico, o do Desenvolvimento Agrário/MDA, onde se encontra a Secretaria Nacional da Agricultura Familiar, estabeleceu e vem aprimorando o Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar -PRONAF, iniciado no biênio 1994/95, ainda com dotação de 100 milhões de reais para crédito a produtores familiares. No ano de 2002 o Programa já apresentava uma linha de crédito de 2.3 bilhões de reais e hoje, depois de um
crescimento exponencial disponibiliza uma linha de crédito de 16 bilhões de reais, que pode fazer a agricultura familiar superar o padrão carencial que a caracteriza. Apesar de tudo, segundo o MDA, o segmento da agricultura familiar vem aumentando a produtividade e crescendo a 3,8% ao ano, desde a década de 90.
No Brasil, há pelo menos quatro décadas, tanto a agricultura familiar quanto a agricultura industrial orientam suas operações por especialidades, monoculturas, monoplantéis, altamente dependentes de insumos químicos. Os preços dos produtos agrícolas flutuam como montanha russa, num sobe e desce sazonal, instável, imprevisível, descapitalizante. Não há sobras para enfrentar a atualização do setor, nem para investimentos em serviços ambientais. Para produzir, o setor gera sub-produtos sem valor de mercado. São dejetos e resíduos sólidos em grandes proporções resultantes do confinamento dos animais em espaços ex&i
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