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A produção de biodiesel a partir de microalgas é tecnicamente possível, mas sua viabilidade econômica ainda está longe de ser alcançada. No Brasil o biocombustível de microalgas já é produzido em laboratórios, embora em uma escala de mililitros. Essa opção alternativa de fonte energética, além de trazer uma série de benefícios ambientais, poderia alavancar os investimentos na aquicultura brasileira.
Fora do Brasil, pelo menos 250 grandes empresas investem recursos milionários para tentar identificar espécies de microalgas que cresçam em determinadas condições e produzam um teor de lipídios suficiente para que possa ser gerado biodiesel de qualidade. Os lipídios derivam da biomassa da microalga, cuja produtividade por hectare pode ser até cem vezes maior do que aquela obtida com oleaginosas comumente empregadas para a produção de biodiesel.
— Enquanto outras leguminosas, como a soja, por exemplo, têm uma cultura por ano, a microalga pode ter uma cultura por semana. Então ao longo de um ano podemos ter mais de cinquenta culturas de microalgas na mesma área e, com isso, podemos ter produtividade de biomassa e de biodiesel até cem vezes maior do que o comum. Então o potencial biotecnológico para a produção de biocombustível é muito alto — assegura Roberto Bianchini Derner, professor do Departamento de Aquicultura do Centro de Ciências Agrárias da Universidade Federal de Santa Catarina.
Além da alta produtividade, as microalgas têm a vantagem de poder se desenvolver em ambientes impróprios para culturas tradicionais, desde que haja água. Um dos benefícios ambientais da produção é o fato de as microalgas gastarem menos águas do que as culturas tradicionais de soja, milho e girassol, por exemplo.
— A água da cultura de microalgas pode ser reutilizada por diversas vezes. Vai se retirando a biomassa, as células algais, e se vai colocando nutrientes e as culturas continuam a crescer, então a economia de água é uma das vantagens. Outra possibilidade é cultivar a microalga em água salobra ou salgada, água imprópria para s culturas vegetais — explica Derner.
O entrave econômico
O alto custo da produção de microalgas, entretanto, representa um custo para o avanço das pesquisas. O cultivo, atualmente, é desenvolvido majoritariamente em laboratórios de aqüicultura, em tanques ou sistemas de produção intensivos chamados fotobiorreatores. De acordo com o professor catarinense, hoje não há ninguém no Brasil que tenha produção em escala comercial de microalgas para produção de biodiesel.
—Tem uma série de projetos dando início a essa produtividade, mas quando falamos em biodiesel temos q falar em milhares ou milhões de litros de cultura de microalgas. E as pessoas que estão desenvolvendo as pesquisas hoje estão fazendo cultivo de microalgas em frascos de um litro, de dez litros, de mil litros. Nós, aqui no laboratório de Santa Catarina, temos possibilidade de fazer os cultivos em tanques de até 50 mil litros e mesmo isso ainda é considerado escala de laboratório, não é nem escala piloto. Então pessoas estão perdidas em relação ao volume das culturas que deve ser produzido — diz o pesquisador.
Na opinião de Derner, uma possibilidade de viabilizar o cultivo de microalgas na escala necessária seria utilizar efluentes industriais que atualmente são descartados no meio ambiente, causando impactos negativos.
— As microalgas, de maneira semelhante aos vegetais, precisam de nutrientes, sobretudo nitrogênio, fósforo e carbono. Então se esses efluentes pudessem ser direcionados aos tanques de cultivo de microalgas isso já tornaria a atividade mais barata. Temos que desenvolver co-processos e co-produtos. O esgoto de uma cidade pode, em parte, ser utilizado para esse cultivo porque tem alguns desses nutrientes. O CO2 produzido pela chaminé de uma termelétrica, que queima carvão, também poderia ser utilizados — exemplifica Derner.
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