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Demanda maior que consumo. Consultas constantes para fornecimento ao mercado externo. Aumento de poder aquisitivo e ascensão financeira de classes sociais com o conseqüente aumento de consumo de alimentos. Existe cenário melhor que este para qualquer segmento da economia? Pois é justamente esta a situação atual da ovinocultura no Brasil. Já há algum tempo o País tem maior procura pelos produtos ovinos que possibilidade de oferta para atender as encomendas do mercado. E isto acontece não só para o consumo de carne, mas a pele, a lã e agora o leite. Portanto, chegamos ao patamar ideal para o agronegócio ovino, e podemos agora somente administrar os processos de comercialização, de concorrência entre produtos e todas as técnicas de vendas que se conhecem até hoje.
Mas, porém, contudo, entretanto, todavia, devemos dizer que seria ótimo SE (e infelizmente temos que colocar esta condicional) tudo isto estivesse funcionando as mil maravilhas. Todos que atuam nesta atividade sabem que nosso rebanho é de apenas 16 milhões de cabeças. E que por conta disto não conseguimos atender nem 50% do consumo interno de carne ovina, tendo que importar (gastando divisas) o restante de outros países, principalmente o Uruguai. Também não temos a produção de peles suficientes para o consumo interno. Na realidade até podemos ter, mas teremos que lutar contra o abate informal, que geralmente carrega estas peles para o lixo ou qualquer outro destino que não os curtumes.
Na lã temos mantido uma produção anual em torno de 10 a 11 mil toneladas o que também não nos permite auto-suficiência. E o leite em si, está no início do processo de formação de mercado, mas já tem conquistado boas referências nos consumidores, principalmente através dos produtos industrializados, como o queijo ou o iogurte. A primeira vista ou leitura parece que estou pintando um quadro pessimista de quem acha que tudo vai mal em nossa atividade. Mas em realidade, apenas estou expondo a situação atual em que nos encontramos. O interesse de consumir os produtos advindos do ovino está maior que a capacidade de “fabricação” dos mesmos. Algumas pessoas poderiam até pensar ou mesmo dizer que não é ruim termos maior procura que oferta, pois assim, temos maior preço nos produtos. Em alguns casos até temos, em outros não. E, na verdade, se temos maior preço, esta diferença não está chegando na mão do produtor e sim, ficando em algum dos elos do sistema produtivo. E mais, quando temos maior preço, como sei que acontece em certos supermercados em relação à carne ovina, acaba por inibir o consumo, pois o valor fica até proibitivo para o consumo em maior escala. E neste caso cabe até uma pergunta para uma reflexão; o que queremos com o nosso produto ou mesmo trabalho. Produzir algo para nicho de mercado ou para consumo em grande escala?
Vou deixar esta pergunta no ar porque em realidade, na minha opinião, o que precisamos olhar, neste momento é justamente esta fantástica oportunidade de mercado que se apresenta em nossa frente, para o nosso negócio que é ovinocultura. Quando falei que temos maior demanda que produção e a entrada de novos consumidores no mercado de alimentos, estou definindo um número diante da atual população brasileira. Pegando aleatoriamente partes de cada classe social brasileira que possam se interessar em consumir os produtos ovinos. Imaginemos então que eles somem 10 milhões de consumidores. Quantos cordeiros precisaríamos produzir e entregar mensalmente para que eles possam consumir carne ovina ao menos uma vez por semana, ou sapatos com couro que venham da pele ou produtos que tenham lã ou um queijo para acompanhar um vinho? Já fizeram esta conta? E já perceberam que se produzirmos o volume necessário para atender a esta demanda, ela tende a crescer ainda mais e o processo vai exigir mais animais, mais criadores, mais investimento em genética e vai gerar mais renda para nós?
O mais interessante nisto tudo é que não estou falando de algo remoto, de algo que poderia ser e que precisamos lutar para que aconteça. Estou falando de algo que está aí, nas nossas porteiras, gritando em alto e bom som. Algo que se chama mercado consumidor e que está ávido pelos nossos produtos. Sei que este é um assunto que se fala muito em todos os encontros de ovinocultores. Que ficam “batendo cabeça” para encontrar um caminho. Neste momento eu gostaria mais é de deixar uma nova provocação perguntando quanto tempo mais deixaremos o mercado esperando? Quando que realmente todos os produtores irão se unir para agir em conjunto no sentido de dar um retorno aos anseios do Sr Mercado? Percebam que estamos numa situação que não precisamos mais discutir se existe consumo e sim, discutir (por pouco tempo) para determinar formas práticas e de fácil execução, de atender a esta demanda que se hoje já é grande, amanhã será enorme? E então, quanto tempo mais ficaremos olhando o cavalo encilhado passar nas nossas porteiras?
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