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Uma equipe de 44 docentes e estudantes de seis universidades chinesas está no Brasil e vai passar uma semana conhecendo as novas tecnologias para a produção de energia que estão sendo desenvolvidas em território nacional. Entre os materiais estudados, que serão introduzidos no mercado dentro de alguns meses, estão a casca de bananeira, palha de trigo, folhas de abacaxizeiro, casca de arroz, haste de trigo, lodo industrial e até resíduos da construção civil como sobras de deques de piscina e esquadrias de portas e janelas. O especialista Alcides Lopes Leão, professor do Departamento de Recursos Naturais da Faculdade de Ciências Agronômicas da Universidade Paulista de Botucatu, é um dos pesquisadores que estão no comando dos estudos. Ele será o palestrante que vai apresentar as tecnologias brasileiras aos chineses durante o Workshop Brasil-China em Energia Sustentável, que acontece nesta quinta-feira, 19 de agosto, no Estado de São Paulo.
— A classe-média da China, hoje, está praticamente representando os Estados Unidos todo, então você imagina 250 milhões de pessoas consumindo com poder aquisitivo americano. Toda e qualquer tecnologia que esteja apta, preparada para ser utilizada por eles vai implicar para o Brasil um grande ganho econômico. Os chineses podem ser nossos parceiros no sentido de que nós vamos fornecer produtos tecnológicos e eles vão comprar. Até agora, a nossa vocação era fornecer matéria-prima e commodities de baixo valor, mas nós iremos reverter isto e vamos entendê-los como uma sociedade desenvolvida que está apta a comprar produtos tecnológicos e não só ficar vendendo grãos e minérios que são de baixo valor agregado e importando tecnologia. A gente tem plenas condições de atender este mercado com produto bom e de preço competitivo — alerta Leão.
Entre as diversas tecnologias de energia sustentável que estão sendo desenvolvidas, Leão destaca a nanocelulose e os resíduos da construção civil, como o reaproveitamento de deques de piscinas e marinas ou a sobra de esquadrias de portas e janelas. Ele diz que todas elas são recentes no Brasil, mas já estarão disponíveis para o mercado brasileiro até o fim deste ano de 2010. O pesquisador ressalta que, nesta área de tecnologia de ponta, as coisas avançam muito rápido e, por isso, as novidades já poderiam ficar prontas para uso em tão pouco tempo. O uso de deques, por exemplo, já é feito em outros países, em que se mistura resíduos agrícolas e plástico na composição. Leão diz que outro benefício é o baixo custo da matéria-prima oferecida, o que faz os produtos ficarem interessantes também do ponto de vista econômico.
— Entre as crises de energia que estão se desenhando como a questão do declínio da produção do petróleo e as alterações climáticas vão levar ao seguinte: várias alternativas para energia vão surgir nos próximos anos, mas nem todos os lugares vão ter a possibilidade de ter materiais a preços que o Brasil tem. O Brasil é o maior produtor do mundo, em quantidade e preço, de celulose e nenhum país do mundo tem condições de competir conosco em eucalipto, em cana-de-açúcar. Temos capacidade de gerar material barato e com altas propriedades mecânicas que irão competir com outros artificiais ou feita de material mais caro, como por exemplo a fibra de carbono. Estamos chegando no estágio de conseguir produzir um material bem similar à fibra de carbono, mas com material feito a partir de celulose — comemora.
Um grande benefício do uso destes materiais naturais é que eles eram totalmente desprezados ou subvalorizados e acabavam se tornando passivos ambientais e um problema para a agroindústria. Com a utilização destas biomassas, os materiais não são jogados no solo, prejudicando o meio ambiente, e podem significar uma boa redução de custos no mercado energético porque custam muito barato.
— Acho importante dizer ao nosso produtor e ao nosso consumidor que, quando eles pensam que uma coisa feita de um produto natural como uma casca de banana ou de arroz e folha de abacaxi não presta ou não tem qualidade, é um conceito errado. Quando a gente pensa em fazer algo com um material que era descartado, ou queimado pode ter certeza que ele foi muito estudado e tem propriedades iguais ou melhores do que os produtos que existem hoje no mercado. O consumidor está errado em pensar que nós estamos utilizando este material porque “é coisa de país pobre”, pelo contrário, estes materiais são de alto valor agregado e de alta tecnologia e só vão enriquecer o mercado brasileiro e competir de igual para igual com tecnologias de outros países. Se é para exportar, vamos exportar bastante e sem esquecer de exportar produto com alto valor — diz Leão.
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