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Vera Scholze Borges, Embrapa Produtos e Mercado
14/05/2015
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Muitas das áreas de reforma dos canaviais permanecem em repouso durante a primavera e verão, períodos críticos, quando os solos são mais suscetíveis à degradação por erosão. A ocupação dessas áreas para o cultivo de outras espécies representa uma oportunidade de gerar receita para as usinas de açúcar e álcool, cooperativas de produtores e agricultores familiares.
Desde a safra de 2009/10, aproveitando a disponibilização destas áreas, a Embrapa vem fazendo uma seleção de variedades de soja e amendoim, em unidades de observação, para avaliação técnica, econômica e ambiental destas oleaginosas em áreas de rotação da cana-de-açúcar, dentro de um Projeto conhecido como Rotcana.
Projeto Rotcana
Um dos objetivos do projeto é apresentar o zoneamento de áreas e variedades adequadas à produção sustentável de grãos de soja e amendoim, no período de reforma da cana. Este experimento vem sendo conduzido em Unidades de Observação instaladas nas áreas de cana-de-açúcar dos estados de Goiás, Mato Grosso do Sul e São Paulo
Pesquisas são conduzidas em Unidades de Observação instaladas nos estados de GO, MS e SP
O trabalho é coordenado pela Embrapa Informática Agropecuária (Campinas, SP), em parceria com a Embrapa Solos (Rio de Janeiro, RJ), Embrapa Soja (Londrina, PR), Embrapa Agrobiologia (Seropédica, RJ), Embrapa Agroenergia (Brasília, DF), Embrapa Agropecuária Oeste (Dourados, MS), Embrapa Produtos e Mercado (Escritório de Campinas), Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios – Apta (Campinas, SP), Usina Viralcool – Unidade Castilho, Fazenda Caçula (região de Dourados, MS). O projeto conta com o apoio da União dos Produtores de Bioenergia - UDOP e Faculdade de Tecnologia (Fatec) de Araçatuba.
A produção de oleaginosas, principalmente de soja, em plantio direto nas áreas de reforma do canavial, com colheita mecânica e sem queima, é uma oportunidade para maximizar o uso do solo e reduzir a erosão. Para a cultura da cana-de-açúcar, esta rotação oferece vantagens como: o controle de plantas invasoras; fixação biológica de nitrogênio; melhora do ambiente de produção para o futuro canavial; redução dos custos de produção da cana; menor emissão de gases de efeito estufa pelo revolvimento excessivo da terra, e amortização do capital, além do aproveitamento da mão de obra na entressafra.
Fábio Silva, coordenador do projeto e pesquisador da Embrapa Informática Agropecuária, alerta para a escolha de variedades de ciclo curto, para coincidir com o período disponível para reforma do canavial, que varia conforme a região e clima da localidade. Para isto, os usineiros e produtores de cana contam com o zoneamento de áreas de reforma de canavial para produção de soja, a partir do cruzamento do zoneamento agroecológico da cana-de-açúcar e o zoneamento de risco climático da cultura de soja.
Para transferir essa tecnologia a Embrapa vem realizando Dias de Campo, como os que realizou recentemente na Usina Viralcool e na Fazenda Caçula em março deste ano.
Resultados
Os experimentos comprovaram que a rotação cana/soja e cana/amendoim no centro-sul são tecnicamente viáveis nas áreas de reforma que estejam dentro do zoneamento de risco climático para as oleaginosas.
Nos dias de campo, foi possível demonstrar os resultados da pesquisa de produção de soja e amendoim na palhada da cana-de-açúcar, que oferece proteção às sementes emergentes em condições de temperaturas mais elevadas e de déficit hídrico, o que resulta em melhor stand (população de plantas) da cultura, quando comparado ao sistema convencional.
Pedro Freitas, pesquisador da Embrapa Solos (Rio de Janeiro,RJ), afirma que o plantio de soja na reforma do canavial promove a recuperação das condições físicas e biológicas do solo. “Os excelentes resultados obtidos para a cultura da soja e a cana subsequente, plantada na mesma área, também sem revolvimento do solo, mostraram a importância da rotação para a recuperação dos solos de textura leve da região de Andradina (SP), onde encontra-se a unidade Castilho da Usina Viralcool. A soja contribui com o melhor desenvolvimento radicular da cana-de-açúcar, dispensando o preparo intensivo do solo ou mesmo de uma subsolagem”, conclui Pedro Freitas.
Com relação as variedades de soja da Embrapa, as que apresentaram a melhor adaptação e produtividade foram as BRS 232 e BRS 282, já incorporadas na prática cotidiana das lavouras. As cultivares BRS 360 RR e BRS 334 RR se destacaram em termos de rendimento, chegando a atingir 3.800 quilos por hectares (kg/ha) ou 65 sacas/ha, nas parcelas sem preparo intensivo do solo (Plantio Direto). Entre as variedades resistentes aos herbicidas sistêmicos, que têm o glifosato como princípio ativo, as melhores alternativas são as variedades BRS 294 RR e BRS 295RR.
De acordo com José Renato Bouças Farias, chefe de pesquisa e desenvolvimento da Embrapa Soja, “as cultivares da Embrapa têm apresentado excelente desempenho na região e mostram que a cultura pode contribuir com a sustentabilidade econômica e ambiental desses sistemas produtivos”.
Flávio Rodrigo Bazzo, gerente agrícola da Usina Viralcool, diz que estão satisfeitos com o Projeto Rotcana, pois os experimentos comprovam um aumento na produtividade dos canaviais e melhor aproveitamento do solo, além de gerar receita e reduzir os custos de implantação da cultura de cana-de-açúcar.
Reportagem originalmente publicada em 17/05/2013
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