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A necessidade inicial era controlar a pressão de pragas de solo que afetava sua lavoura. A saída foi dar mais atenção à cobertura do solo e à rotação de culturas – dois dos três pilares do Sistema Plantio Direto. A partir daí, Milton Zancanaro, produtor rural em Cristalina, GO, e Jaborandi, BA, teve a chance de viver na prática conceitos apreendidos durante a faculdade de Agronomia. O primeiro benefício do respeito às leis de conservação das estruturas químicas, físicas e biológicas do solo foi o seu equilíbrio nutricional. A reboque, veio um eficiente sistema de controle de doenças e pragas como os vários tipos de nematoides, coró, fusarium, mofo branco, entre outros. Equilibrado em sua estrutura básica agronômica, o sistema passou a agradecer com resultados financeiros que crescem de 5 a 10% em cada safra.
São 2.300 hectares em Goiás e 4.000 hectares na Bahia. Nessas áreas, Zancanaro planta comercialmente café, soja, sorgo, feijão, alho, cenoura, beterraba, cebola, algodão, milho, milho semente e faz confinamento. Quase 90% sob pivô central. Ali, ele planta também, porém com quase nenhum viés comercial, alguns tipos de crotalária, trigo mourisco, aveia e milheto. O time de plantas de coberturas tem a missão definida de garantir (sem custo) a sustentabilidade de um sistema produtivo azeitado, onde tudo flui “pra lá de simples” e “fica show”, orgulha-se o produtor.
Carta na manga de Zancanaro, as crotalárias estão todos os anos em algumas áreas combatendo problemas com o solo. Contra praticamente todos os tipos de nematoides e coró, ele utiliza a crotalária spectabilis e também a crotalária breviflora, apesar destas apresentarem alguns problemas com fotoperíodo, cumprem bem o seu papel de manter os nematoides sob controle. A crotalária ochroleuca vai muito bem contra o nematoide pratylenchus, mas deixa escapar o nematoide da galha e multiplica o do cisto, conforme observa o produtor. A crotalária juncea, por sua vez, se destaca no nematoide de galha, mas não tem ação contra os demais.
Flexibilidade e agilidade
Na prática, acontece assim: as atividades nas fazendas de Zancanaro são naturalmente norteadas pela preocupação com a rentabilidade e geração de receita. Então, ele monta um cronograma de plantio posicionando prioritariamente as culturas principais; por exemplo, soja ou feijão. A partir daí, o restante se estabelece em função das janelas de tempo e da consciente necessidade da rotação de culturas.
“Quando conseguimos entrar com uma safrinha no período ideal, que seria entre janeiro e inicio de fevereiro, plantamos milho, ou milho com braquiária. Quando essa janela escapa, entramos com sorgo. Quando percebemos que a possibilidade de plantio de uma das culturas principais vai diminuindo, vamos inserindo as plantas de cobertura e rotacionando. No ano seguinte, a gente inverte. Isso vai entrando na cultura do trabalho dentro da porteira e vai ficando automático: todo ano se faz uma cultura de cobertura dentro de uma cultura principal”.
O sistema é flexível e pauta-se numa análise econômica bem feita. Por exemplo, num ano em que a safrinha de milho acena com boa produtividade ou bom preço, o percentual de área plantada com milho safrinha aumenta. Num ano em que as previsões mostram que não serão tão favoráveis, Zancanaro diminui o milho e aumenta as coberturas. Tudo é feito com agilidade. Em seu processo logístico, ele tem todos os insumos e os maquinários prontos para plantar e colher qualquer que seja a decisão.
Rotação de plantas de cobertura
Hoje, o manejo de Zancanaro é estratégico e relativamente simples de ser conduzido, embora requeira um planejamento que abrange muito mais do que uma safra, pois é feito ao longo de vários anos. “Quando começamos com as plantas de cobertura, a ideia era acabar com problemas pontuais com nematoides e coró. Gradativamente, fomos inserindo outras plantas de cobertura além da crotalária e percebendo que cada uma delas era importante para alguma coisa”.
“Ao perceber que cada uma das espécies de crotalária era mais eficiente para cada um dos diferentes tipos de nematoides, fomos escolhendo a planta de cobertura mais adequada para os problemas específicos de cada área. Rotacionando as plantas de cobertura ao longo dos anos nos diversos talhões, criamos em nossa propriedade uma espécie de rotação de culturas de plantas de cobertura. Por exemplo, numa área, plantamos soja precoce com milho safrinha ou soja precoce com milho safrinha e braquiária no meio. Numa outra, soja com crotalária, ou milho com aveia e por aí vai. Do mesmo jeito que se fala de rotação de cultura, a gente foi rotacionando plantas de cobertura. Ao longo de vários anos, além da soja, do feijão ou do milho, a gente vai ter um ou mais safras de crotalária ou milheto e por aí vai”.
Adoção
Zancanaro explica ainda que uma das principais resistências dos agricultores à adoção das plantas da cobertura está, justamente, no inexpressivo resultado econômico que elas proporcionam. “Se vier algum retorno financeiro direto da venda dessa produção, encaro apenas como um acréscimo ao ganho efetivo e principal da planta de cobertura no sistema, que é o da manutenção do equilíbrio do sistema produtivo, do solo, da pressão de pragas”.
Os perigos com os nematoides são enormes. Se o produtor não tomar cuidado, pode ter sua produção reduzida a 30 ou 20% com uma infestação. Atualmente, em suas propriedades, o nematoide ainda se manifesta, mas é bem pouco. “Quando detectamos em alguma área, inserimos a crotalária para baixá-lo ainda mais”.
O cuidado maior é com as áreas irrigadas, onde a sujeição ao desequilíbrio por conta do excesso de umidade é mais elevado. Nos meses em que o pivô fica parado, ele sempre coloca uma cultura de cobertura para que o solo seja cuidado e recupere seu equilíbrio nutricional para a cultura principal.
“A falta de organização também afeta a adoção. O produtor precisa entender que ele não precisa abrir mão de sua cultura principal para aderir a um sistema que utilize as plantas de cobertura. A gente tem a nossa cultura principal, mas em todos os encaixes possíveis, entramos com a cultura de cobertura. Então, conseguimos, sem abrir mão de renda, com cuidado, gradativamente, e rotacionando as plantas de cobertura ao longo da área, manter o sistema equilibrado e produtivo. Acredito que a tendência para os próximos 5 ou 10 anos seja de crescimento para as plantas de cobertura. O produtor vai aderindo à medida que perceber que, sem abrir mão da renda e vai aprendendo, descobrindo os resultados no médio e longo prazo, ele vai aderindo. É o que já está acontecendo”, observa.
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