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Fernanda Birolo, Embrapa Semiárido
11/03/2014
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As alterações no leito e a pesca excessiva têm diminuído, ano a ano, a população de espécies tradicionais (surubim, cari, dourado, pacamã, piau e curimatã) no rio São Francisco. Em sentido contrário, a demanda dos consumidores cresce de maneira contínua. É uma situação que ameaça privar milhares de famílias ribeirinhas da sua principal fonte de alimento e de renda.
A Embrapa Semiárido e a Companhia Hidro Elétrica do São Francisco (CHESF) – querem transformar a atividade em um negócio sustentável, seja em escala familiar ou empresarial. Com este objetivo que realizaram o “Estudo da Cadeia Produtiva do Pescado no Entorno do Lago de Sobradinho”.
O documento final apresenta o contexto socioeconômico da atividade nos municípios baianos de Casa Nova, Remanso, Pilão Arcado, Sobradinho e Sento Sé, identifica problemas e entraves tecnológicos, e fatores que limitam a pesca. Por fim, propõe um conjunto de ações capazes de orientar investimentos e fortalecer a economia regional.
É um estudo pioneiro, fruto de dois workshops que tiveram a participação da Colônia e Associação de Pescadores, das prefeituras municipais, Bahia Pesca, Chesf, Codevasf, Embrapa e Universidade Federal de Santa Maria (RS), e o apoio do Fórum de Desenvolvimento Regional Sustentável do Lago Sobradinho, explica o pesquisador Rebert Coelho Correia.
“Reunimos grande quantidade de informações, ouvimos atores variados que atuam nesse negócio, e organizamos os dados e opiniões sob o enfoque de cadeia produtiva, onde o processo começa no fornecimento dos insumos para o sistema produtivo e termina no consumidor final”, afirma o pesquisador.
Para ele, a região tem a tradição de pesca do surubim e de outras espécies de peixes. A criação de tilápias em tanques-rede é outra atividade que está em expansão.
O estudo da cadeia produtiva, por sua abrangência, busca estruturar instrumentos e informações que orientem a tomada de decisão dos agentes públicos e privados.
No caso da piscicultura na área do lago, um dos objetivos foi a montagem do custo de produção para avaliar, por exemplo, quanto o pescador pode gastar na produção de 1 kg de tilápia para dimensionar o lucro a ser obtido com a venda do pescado, diz o engenheiro de pesca Rodolfo Cavalcante, membro da equipe que coordenou a elaboração do documento.
Esta é uma informação importante porque os dados do relatório demonstram que a maioria das associações de pesca ainda depende de atravessadores para comprar equipamentos e insumos.
“As instituições e associações de pesca precisam estar mais engajadas em iniciativas de capacitação dos produtores, e de planejamento e gestão financeira do setor”, esclarece Rodolfo.
No Semiárido, a demanda pelo consumo de peixe é estimada em 25 mil toneladas/ano. Os pescadores e empreendedores do Lago de Sobradinho, porém, só conseguem produzir apenas 20% dessa quantidade (5 mil toneladas/ano, em média). Este é um dado que aponta o potencial econômico da pesca e da piscicultura nos municípios da borda do Lago de Sobradinho.
Albaneide Santos, da Associação dos Criadores de Peixes de Sobradinho (Acripeixes), confirma que a produção além de ser insuficiente para atender o mercado, ainda depende da aquisição de alevinos na cidade de Itacuruba (PE), distante 360 km de Sobradinho.
Segundo ela, por causa de problemas com o transporte, a associação espera até dois meses pelos alevinos adquiridos.
Outro entrave enfrentado pela associação é o custo da ração dos peixes. “É alto e diminui os lucros dos piscicultores. A ração em grãos para alevinos chega a ser de R$ 73, a cada 25 kg”.
O estudo da cadeia produtiva da piscicultura é resultado de um dos 14 planos do projeto “Desenvolvimento de ações para produtores agropecuários e pescadores do território do entorno da barragem de Sobradinho-Ba”, em execução pela Embrapa e a CHESF
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