Atualmente, o dia a dia da produção rural é tão envolvente, e os seus desafios operacionais são tantos, que muitas vezes ficamos envolvidos no cuidado das árvores e esquecemos de olhar a floresta. Hoje, por exemplo, a helicoverpa armigera tira o sono e a margem do produtor de algodão, o custo da ração transforma o suinocultor em um equilibrista, a logística congestiona o coração e o contas a pagar do sojicultor e até o plantador de tomates esquece o mundo para ganhar a batalha contra fungos e nematoides.
Entretanto, do outro lado da moeda as oportunidades são imensas: cenário internacional positivo para o agronegócio brasileiro pelos próximos 15 anos; renda de grande parte da população mundial crescendo rapidamente; consumo alimentar – e de proteína animal em particular – aumentando no país e no mundo; temos liderança tecnológica no mundo tropical; e o Brasil consolida seu papel estratégico no abastecimento mundial.
O problema é que essas e outras vantagens estratégicas perdem-se na fervura diária para “tocar os negócios” e podem trazer uma letargia com o futuro. E não vamos nos iludir: o futuro só acontece para quem está preparado para recebê-lo. No agronegócio isso quer dizer, sobretudo, três coisas: atualidade tecnológica, gestão de precisão e capacitação contínua dos recursos humanos – pois no século XXI competitividade significa volume de conhecimento aplicado por hectare ou unidade/animal, como bem resume o gaúcho Dirceu Gassen, da Cooplantio.
A esses três pontos, ainda agregaria um quarto fator estratégico: a defesa da demanda dos produtos do campo. Ou seja, o marketing da produção rural, pelo menos nas principais cadeias produtivas – de consumo interno e exportação, pois os mercados serão mais e mais competitivos e até uma desaceleração pontual de preços agrícolas é hipótese presente no tabuleiro.
Tenho comigo que para um agronegócio que conquistou sua maioridade em duas décadas de preços declinantes das commodities, nada disso há de ser barreira. Maioridade, aliás, que trouxe consigo um progresso notável na sustentabilidade do campo e hoje, com a utilização de 1 hectare de grãos, produzimos quase 8 vezes mais suínos e 9 vezes mais frangos.
Os sinais para uma evolução sustentada do nosso agronegócio estão aí. Mas nada acontece sozinho. Por exemplo: se a qualidade genética, como se diz, é a base para transformação de insumos em carne suína, ter políticas e estratégias para viabilizar a atualidade genética das granjas é crucial para sustentar vantagens competitivas. Principalmente quando lembramos que o custo genético representa cerca de 2,5% do custo total de produção.
Esse foi apenas um exemplo, entre tantos outros possíveis sobre competitividade estratégica. O Brasil vive um grande dinamismo no campo, aprendemos a crescer e ganhar dinheiro com o agronegócio, e o futuro é ainda mais promissor. Mas para chegar lá não basta cuidar somente das árvores. Antes, precisamos enxergar a floresta e “não dar sorte para o azar”, como diz um velho adágio popular.
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