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Vivian Chies, Embrapa Agroenergia
22/10/2013
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Cientistas querem aproveitar resíduos das usinas sucroenergéticas para cultivar microalgas, gerando óleo para produção de biodiesel e biomassa residual que pode servir de matéria-prima para etanol, carotenóides e outros pigmentos de alto valor agregado. A pesquisa é liderada pela Embrapa Agroenergia e deve durar pelo menos três anos.
As microalgas são organismos microscópicos encontrados em corpos d’ água doce, salgada e salobra em todo o mundo. Cultivadas comercialmente em tanques de água a céu aberto ou em fotobiorreatores fechados, elas são capazes de fornecer mais biomassa e óleo por área utilizada na produção do que qualquer espécie vegetal conhecida. Para que se tenha uma ideia do ganho de produtividade, estimativas apontam que, para substituir todo o petróleo consumido nos Estados Unidos por óleo de soja, seria preciso cultivar o grão em uma área três vezes maior do que todo o território continental norte-americano. Substituindo o óleo de soja pelo de palma (dendê), o espaço necessário cairia para 23% do território. Por sua vez, o cultivo de microalgas para o mesmo fim ocuparia menos do que 4% da área daquele país.
A produção comercial de microalgas já existe, especialmente na China, Japão e Estados Unidos. Elas são empregadas nas indústrias de cosméticos, rações e alimentos funcionais, já que são fonte de substâncias como betacaroteno e ômega-3. Contudo, esses são produtos de alto valor agregado, especialmente os alimentos funcionais e os cosméticos. O custo de produção das microalgas ainda é muito alto para o mercado de biocombustíveis. “Um quilo de betacaroteno chega a custar 2.000 dólares, então, é possível obtê-lo a partir de microalgas com a tecnologia disponível hoje. Mas, para gerarmos biocombustíveis, ainda precisamos reduzir muito o custo”, explica o pesquisador da Embrapa Agroenergia Bruno Brasil.
Na expectativa de dar um passo à frente na busca pela viabilidade do uso de microalgas como matéria-prima para biodiesel e etanol, o projeto capitaneado pela Embrapa está buscando microalgas de alto rendimento na biodiversidade brasileira, especialmente na Amazônia e no Pantanal. Estirpes serão isoladas, testadas e selecionadas quanto à capacidade de crescimento em meios a base de vinhaça e aerados com diferentes concentrações de gás carbônico (CO2), dois resíduos abundantes de usinas de açúcar e etanol. A vinhaça é rica em Nitrogênio, Fósforo e Potássio (NPK) – nutrientes tão essenciais para as microalgas quanto para as plantas. Além de agregar valor a esse resíduo, hoje empregado na fertirrigação de canaviais, as microalgas poderiam consumir o carbono liberado na produção de etanol, tornando-a ainda mais sustentável.
A abundância de nutrientes da vinhaça vem acompanhada de características menos favoráveis, como ser ácida e pouco translúcida, o que pode comprometer a capacidade de as microalgas fazerem fotossíntese. É o que explica o professor Marcelo Farenzena, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Ele e a equipe da universidade gaúcha trabalharão no escalonamento da produção das cepas que se mostrarem mais promissoras nas bancadas. O desafio será encontrar o ponto ótimo entre o fornecimento de insumos, o crescimento das microalgas e a obtenção de óleo e biomassa.
Outra instituição gaúcha que participa da iniciativa é a Fundação Universidade do Rio Grande. Na opinião do professor Luis Fernando Marins, a integração com uma indústria de biocombustível já estabelecida no País é um dos diferenciais do projeto. Isso reforçaria a inserção das usinas sucroenergéticas e do cultivo de microalgas no conceito de biorrefinaria, que prevê o aproveitamento total da biomassa, minimizando a geração de resíduos.
Melhoramento
Em busca de estirpes com alto rendimento, os pesquisadores também vão fazer a caracterização genômica das linhagens promissoras. “Essa é uma área ainda carente de resultados científicos”, ressalta Bruno Brasil. O primeiro sequenciamento de genoma de uma microalga promissora para a produção de biocombustíveis só foi divulgado no ano passado.
Outro trabalho será o desenvolvimento de protocolos de transformação gênica para melhoramento. “Precisamos desenvolver cepas de microalgas que estejam adaptadas às diferentes condições climáticas do Brasil, que sejam resistentes a pragas e boas competidoras em sistemas de cultivos abertos”, afirma o pesquisador Bruno Brasil.
O projeto tem como foco a obtenção de uma nova fonte de óleo para a produção de biodiesel. No entanto, os cientistas também vão caracterizar a biomassa residual buscando potencial para geração de produtos de alto valor agregado, como carotenoides e outros pigmentos. Avaliarão ainda a possibilidade de ela ser utilizada para produzir mais um biocombustível, o etanol celulósico. A ideia é que os biocombustíveis não sejam os únicos produtos responsáveis por “pagar” a produção das microalgas, mas que o custo seja dividido com outros itens.
Para atingir os objetos da pesquisa, a Embrapa Agroenergia reuniu uma rede de instituições com experiência em diferentes áreas que envolvem o cultivo de microalgas. Na Embrapa Suínos e Aves (Concórdia/SC), por exemplo, elas estão sendo utilizadas no tratamento dos efluentes da geração de biogás a partir dos resíduos das granjas. Outras linhas de pesquisa na unidade catarinense são a suplementação de rações e a avaliação de produção de carboidratos e etanol. O pesquisador Márcio Busi acredita que essa experiência e a dos outros parceiros são complementares e constituem um diferencial do projeto.
A rede de instituições inclui a Embrapa Agroenergia, a Embrapa Amazônia Oriental, a Embrapa Pantanal, a Embrapa Suínos e Aves, a Fiocruz, a Fundação Universidade Federal do Rio Grande (Furg), o Instituto Botânico de São Paulo e a Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
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Elemar Voll
30/10/2013 10:09:19
Pesquisa avalia o cultivo de microalgas em vinhaça Objetivo é obter matéria-prima para biodiesel, etanol e outros produtos
Além do objetivo de obter matéria-prima para biodiesel, etanol e outros produtos a partir da cana-de-açúcar, segundo a literatura é a planta que mais produz ácido aconítico. Por sua vez, essa é uma substância com atividades alelopáticas, que pode retornar ao solo via vinhaça, ou ser exsudada pelas raízes de plantas e atuar no controle de plantas daninhas, reduzindo os seus períodos de sobrevivência no solo. O ácido aconítico (C6H6O6 - estruturalmente diferenciado) é encontrado no solo junto com outros ácidos fracos, juntamente com o K, sendo ambos os componentes mais importantes contidos na vinhaça. Pode também servir de matéria prima para a produção de plásticos (HPB), compor adjuvantes de produtos químicos e participar na indústria de alimentos. No sistema de plantio integrado milho/braquiária-pastagem/soja, as braquiárias, também produtoras de ácido aconítico, tem mostrado a sua importância no controle de espécies de buvas, que podem apresentar resistência ao controle de herbicidas com o seu uso continuado, como no caso do glifosate. Coberturas de solo com outra espécie de braquiária resultou em significativa redução da sobrevivência de um banco de sementes de trapoeraba, sendo mais eficiente do que a aplicação anual de herbicidas. Assim, o cultivo de microalgas em vinhaça para produção de etanol tem sua grande importância. De outro modo, com a sua concentração, pode ter a sua aplicação como reposição de nutrientes e melhoria de propriedades físicas e químicas em áreas de produção orgânica de alimentos, bem como do controle de espécies de plantas daninhas.
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