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O volume de chuvas no mês de junho no Paraná (média de 250 milímetros) foi o maior dos últimos 30 anos; a média histórica é de 90 mm. Com um agravante: a instabilidade se estendeu durante todo o mês. O serviço de agrometeorologia do Instituto Agronômico do Paraná (Iapar) acusou apenas cinco dias sem chuva; no período, o sol apareceu poucas vezes – suficiente apenas para dissipar o nevoeiro.
Na maior parte do Estado prevaleceu o alto teor de umidade relativa do ar. Foi um mês atípico, concorda a pesquisadora Heverly Moraes. Os produtos mais afetados foram o café, o milho e o trigo. Três especialistas do Iapar, que trabalham com esses produtos, confirmam que o clima comprometeu qualidade e produtividade em maior ou menor intensidade dependendo da região e das fases vegetativas das plantas.
Metabolismo da planta
No caso do milho, o excesso de umidade foi bastante prejudicial variando conforme a fase das lavouras. No período de enchimento dos grãos, por exemplo, a baixa luminosidade implica na redução da taxa de fotossíntese e do metabolismo da planta, afetando a translocação de fotoassimilados para os grãos.
Além de comprometer a qualidade e o teor de amido dos grãos, poderá haver perda em produtividade, conforme explica o pesquisador Antonio Carlos Gerage. Mas essas não são as únicas consequências. Nessa situação, é comum ocorrer o aumento da incidência de fungos nas espigas e nos colmos, facilitada pela umidade e temperatura, resultando no aumento de grãos deteriorados, ou grãos "ardidos", e no quebramento dos colmos das plantas.
Chuvas e vento em excesso também vencem a resistência das plantas e provocam o acamamento. Estes efeitos podem interromper o enchimento dos grãos e também prejudicar as espigas já formadas que vão ao chão, inviabilizando a colheita mecânica, além de aumentar os grãos deteriorados. Nos períodos de excesso de chuvas, é recorrente a brotação de grãos nas espigas, mesmo após a maturação fisiológica, comprometendo ainda mais a qualidade da produção, a começar pelo seu aspecto.
Inimigos do trigo
A umidade em excesso facilita o aparecimento de doenças fúngicas como as manchas foliares e a ferrugem, bem como as doenças de espiga como a brusone e a giberela, as mais comuns no Paraná.
Trigo: lavouras semeadas bem no início do plantio estão sofrendo mais com a giberela
Este ano, a incidência da giberela (também conhecida por fusariose) é a que está prejudicando mais. Ela é responsável pelo aparecimento de uma micotoxina que compromete o grão no item qualidade, na redução do peso hectolítrico (PH), e na produtividade.
A giberela é um problema fitossanitário que ocorre em anos de excessiva umidade (chuva ou neblina intensa) conjugada com períodos de baixas temperaturas. As infestações nesta safra deverão realmente comprometer o rendimento de grãos do trigo.
O pesquisador Carlos Roberto Riede observa que lavouras semeadas bem no início da época indicada para o plantio (março ou abril), combinadas com cultivares de ciclo precoce ou curto estão sofrendo mais danos causados pela doença. Outro detalhe constatado nesta safra: o controle com fungicidas não tem apresentado o efeito desejado e necessário.
Riede também considera que o fenômeno este ano constitui um evento raro para o trigo: quase um mês inteiro de chuvas e muita umidade. Mas antes de qualquer decisão precipitada (na próxima safra) o produtor deve levar em conta que o fenômeno (chuva e umidade quase um mês inteiro) é atípico, quase uma exceção.
Fermentação do café
O pesquisador Marcos Antonio Pavan informa que chuvas e umidade em excesso afetam a qualidade do café de várias formas, ressalvando que isso varia conforme as condições das lavouras. No caso dos grãos maduros, ainda na planta, conhecidos como “cereja” ou “passas” (em razão da semelhança dos grãos, nesta fase, com aquelas frutas) é possível amenizar os efeitos. Mas, como o fruto do café é, naturalmente, adocicado, a umidade cria um ambiente ideal para a proliferação de fungos.
Grãos secos ainda na planta se desprendem com a chuva e o vento e caem no chão úmido. Nesse microambiente – em contato com impurezas, fungos e outros fatores de comprometimento da qualidade –, o mercado pode rebaixar o tipo e os preços.
No terreirão, onde é feita a secagem, normalmente há condições favoráveis para manuseio e qualidade do grão. Mas, este ano, a situação foi inversa: também os terreirões apresentaram excesso de umidade e, em muitos casos, não foi possível evitar a fermentação.
As consequências das chuvas em uma fase crítica da maturação do café também transparecem nas primeiras operações de colheita. Assim, já na “rastelagem”, grande quantidade dos grãos que caíram e permaneceram em contato com a terra se mostravam mofados e, mesmo com os cuidados que estão recebendo, podem ter qualidade comprometida, depreciando o produto no mercado.
Na prática confirma-se que lotes muito afetados pela umidade tendem a ser enquadrados como “riados”, que, certamente, não é a melhor qualidade de bebida. Cafés colhidos, lavados e secados não sofrem depreciação por causa do clima, apenas exigem investimento em máquinas e mão de obra treinada. No Paraná muitas propriedades são dotadas desses recursos.
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