Em qualquer papo de boteco sobre futebol, ou mesmo entre a crônica esportiva, existe hoje uma verdade: para ganhar campeonato, no disputado futebol atual, é preciso ter elenco. Tem que haver um bom plantel de jogadores, pois é assim que se mantém o padrão de jogo e a competitividade do time.
Com o portfólio de tecnologias e insumos que o produtor rural tem para realizar a sua produção, ocorre algo bastante parecido. Se faltar milho ou soja para a ração, por exemplo, a alimentação animal pode ficar mais pobre e a produção menor, pois eventuais grãos substitutos tem outro perfil nutricional.
Substituir e adaptar faz parte do jogo. Se for para melhor e sob uma relação custo benefício competitiva, tudo bem. Mas substituir sem horizontes claros de melhoria, ou com riscos potenciais de eficácia, requer uma boa avaliação sobre o custo estratégico da mudança.
Na proteção vegetal temos outro caso que lembra essa questão de elenco. Nesse setor, a proibição e liberação de produtos sempre atendem a uma boa causa – como melhorar a eficiência de proteção ou reduzir o risco dos tratamentos para o aplicador, o consumidor e o ambiente. Mas nem sempre o sinal vermelho e o sinal verde estão sincronizados.
Se um produto ou tecnologia não tem similar de eficiência equivalente, à primeira vista não deve ser substituído, considerando-se a necessária estabilidade competitiva das cadeias produtivas, principalmente em um agronegócio maduro e internacionalizado como o nosso.
Contudo, se os seus efeitos tóxicos tornaram-se insustentáveis, então sua defesa perde valor e a ponderação tem que priorizar um balanço de perdas e ganhos sob o ponto de vista do bem estar humano, da sociedade e da sustentabilidade.
Mas há outra questão: e por que não há substituto? Se for pelo aumento inesperado do desafio sanitário, isso poderia ser natural, pois muitas vezes a ciência demora a vencer seus desafiantes. No entanto, se for por descompasso entre processos de substituição (proibição e novo registro), isso torna-se uma questão de competitividade.
Segundo dados do Giagro 2012*, o tempo médio (em meses) para registro de um defensivo novo, aqui no Brasil, mostra-se 30% a 100% maior em relação ao período gasto em países concorrentes, como Estados Unidos e Europa. No mínimo um ano a mais. Pode ser um detalhe; mas certamente tem lá seu custo sobre a competitividade do nosso agronegócio.
Por último, se a falta de produto substituto for porque os investimentos em pesquisa recuaram e a indústria acomodou-se às suas velhas “vacas leiteiras”, isso refletiria uma falta (consciente) de dinamismo tecnológico, que também se choca com a estabilidade competitiva das cadeias.
Seja qual for dessas causas, teríamos uma certeza: de que é preciso buscar um novo compromisso entre governo, indústria e produção, pois a liderança no evolutivo agronegócio do século XXI exige precisão e agilidade - e não mais permite métodos e visões de gestão do século passado.
*Giagro – Banco de dados de informações sobre agrotóxicos.
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