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Adubos nitrogenados para soja no Cerrado são desnecessários
Pesquisadora da Embrapa Cerrados alerta para o fato de que não há motivo para o uso de adubos nitrogenados minerais na soja
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Juliana Caldas, Embrapa Cerrados
13/02/2013

“Não existe razão para o uso de adubos nitrogenados minerais em nenhum estágio do cultivo da soja em solos do Cerrado”. É o que afirma a pesquisadora da Embrapa Cerrados, Ieda Mendes, especialista em microbiologia do solo. Segundo ela, a necessidade ou não da utilização desse insumo para elevar a produtividade das lavouras é assunto recorrente no dia a dia de quem planta e inocula soja. “Os produtores devem ficar atentos. De acordo com nossos estudos, ao se considerar os custos do adubo nitrogenado (sulfato de amônio) e o preço da saca de soja, essa prática não se mostra economicamente viável”.

Segundo a pesquisadora, foram conduzidos, de forma sistematizada, 15 experimentos na Embrapa Cerrados para avaliar as informações sobre o uso de adubação nitrogenada suplementar tardia na cultura da soja. Os resultados obtidos, no entanto, demonstraram a inviabilidade econômica dessa prática e reforçaram ainda mais os benefícios que resultam da substituição dos fertilizantes nitrogenados pela inoculação das sementes com bactérias fixadoras de nitrogênio. “A Fixação Biológica de Nitrogênio é suficiente para propiciar o nutriente em quantidade adequada para o pleno desenvolvimento e produção da cultura”, destaca.

Foto: Eduardo Bernardo

Tecnologia
A Fixação Biológica de Nitrogênio (FBN) consiste na conversão (por meio de bactérias, denominadas rizóbios) do nitrogênio presente na atmosfera em formas que possam ser utilizadas pelas plantas. No Brasil, por conta do processo de inoculação da soja, ou seja, da adição de rizóbios às sementes no momento da semeadura, não é necessário utilizar adubos nitrogenados nas lavouras. Isso representa uma economia anual para o país de cerca de R$ 20 bilhões. Os benefícios da inoculação não se restringem aos aspectos econômicos. “Ao substituir o uso de adubos nitrogenados na cultura da soja, a fixação biológica de nitrogênio influencia de forma positiva a qualidade do solo por evitar problemas relacionados à poluição”, explica a pesquisadora.

 

Posição da Embrapa sobre o uso de adubação nitrogenada em soja

A respeito do uso de adubação nitrogenada mineral visando o aumento da produtividade da soja, vimos esclarecer que não existem, até o momento, resultados de pesquisa conclusivos que atestem a viabilidade da adubação com nitrogênio mineral no aumento da produtividade na cultura.

Diversos resultados de pesquisa confirmam que a fixação biológica do nitrogênio, por meio do uso da inoculação com bactérias fixadoras de nitrogênio, bradirrizóbios, seguindo as boas práticas de inoculação, de acordo com as recomendações da pesquisa (como por exemplo: “Sistemas de Produção 15. Tecnologias de Produção de Soja – Região Central do Brasil 2012 e 2013”) tem sido suficiente para propiciar o nutriente em quantidade adequada para o pleno desenvolvimento e produção da cultura. O fornecimento de nitrogênio através da fixação biológica é uma conquista estratégica e um diferencial para a sustentabilidade econômica e ambiental da cultura da soja, por ser uma fonte barata e não poluente.

A Embrapa, visando esclarecer questionamentos a respeito da viabilidade da adubação nitrogenada em soja, tem conduzido experimentos em várias regiões produtoras de soja no Brasil e, até o momento, os resultados não justificam o uso de outras práticas, que não a fixação biológica do nitrogênio, seja qual for o nível tecnológico empregado (Boletim de Pesquisa e Desenvolvimento, 187. Adubação Nitrogenada Suplementar Tardia na Soja Cultivada em Latossolos do Cerrado e Boletim de Pesquisa e Desenvolvimento, 187. Adubação Nitrogenada Suplementar Tardia na Soja Cultivada em Latossolos do Cerrado).

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F.Cardoso
13/02/2013 20:11:40
Esse negócio de 20/30 kg/ha de N na soja só poder ser discutido analisando dois pontos:1-rapidez do sombreamento do solo para minimizar ervas invasoras; 1-altura da inserção das vagens inferiores para não haver perda na colheita mecanizada. Ao que tudo indica, a gauchada entende bem disso. Ademais será que a fixação simbiótica do N alcança a 250 kg/ha contidos em 70 sc/ha colhidos pelos campeões? Os pesquisadores da EMBRAPA precisam conversar mais com os produtores.

Ieda Mendes
13/02/2013 23:59:03
A questão das altas produtividades é bastante interessante e um excelente exemplo para falar da eficiência da inoculação com rizobio, usando dados de agricultores campeões. O primeiro vencedor do desafio nacional de produtividade de soja (2008/2009, Sr. Leandro Ricci, Paraná), produziu 108, 3 sacas/ha sem o uso de adubo nitrogenado, apenas com a inoculação. O segundo vencedor desse desafio nacional com 100, 63 sacas/ha (2009/2010, Sr. Roberto Pelizzaro, Bahia), além da inoculação utilizou 18 kg N /ha (100 kg de sulfato de amônio), quantidade essa muito baixa e que por si só jamais explicaria a obtenção de tais níveis de produtividade (mesmo se considerarmos um índice de aproveitamento de 100% do adubo nitrogenado, que na realidade é da ordem de 50%). Assim, não nos parece que o N seja o fator limitante para as altas produtividades no cultivo de soja. Em ambos os casos, várias tecnologias como espaçamento e população de plantas foram alteradas. De qualquer forma, a pesquisa, em sintonia com os agricultores, vem buscando formas de cada vez maximizar os ganhos com a tecnologia da inoculação, seja através da seleção de estirpes de rizóbio de maior eficiência fixadora, seja através de novos métodos de inoculação e novas formulações de inoculantes (Ieda Mendes, Pesquisadora da Embrapa).

L. Souza
14/02/2013 09:08:25
Com relação ao uso de 20 ou 30 kg de N isso ocorre porque as fórmulas de adubos contendo pequenas quantidades de N muitas vezes são mais baratas que as fórmulas que contêm zero desse elemento. A questão da adubação nitrogenada é um verdadeiro cabo de guerra. O impacto que o uso de apenas 20kg de N/ha teria nos 25 milhões de ha cultivados com soja, dá uma idéia dos fortes interesses econômicos por trás dessa questão. Isso sem mencionar as pegadas de carbono que a produção desses adubos deixa tanto na sua produção como na sua utilização. Embora pareça ser uma luta inglória, a pesquisa com fixação biológica do nitrogênio na soja realizada no Brasil é exemplo de sucesso no mundo inteiro.

Gustavo S A Castro
14/02/2013 10:44:43
Creio que o equívoco cometido no título da mensagem recebida pelo e-mail (Adubos nitrogenados no Cerrado são desnecessários) é uma flecha disparada, sem volta. Omitir a cultura da soja no título minou a credibilidade das noticias veiculadas dentro do e-mail. Muito cuidado na próxima, pois sabemos que a flecha disparada não tem volta.

No mais, boa matéria.

Marcelo Pimentel - Portal Dia de Campo
14/02/2013 12:41:30
Prezado Sr. Gustavo Castro,

obrigado pelo contato e pela observação. Gostaríamos de esclarecer, porém, que as "notícias veiculadas dentro do e-mail" são exatamente as mesmas encontradas em qualquer outra área do site. Não há distinção entre o conteúdo veiculado na newsletter e o conteúdo apresentado no site. O senhor se refere, provavelmente, apenas ao campo destinado ao "assunto" da newsletter; no qual há uma limitação do número de caracteres. Não obstante, no próprio corpo da newsletter disparada ontem, dia 13/02/2013, nas veiculações em nossas páginas no Facebook e no Twitter, bem como na própria homepage da matéria no site (que são as únicas formas de acesso ao link da matéria), a menção específica à cultura da soja foi mantida. Assim sendo, qualquer que seja o caminho de acesso ao conteúdo reportagem necessariamente passa pela palavra "soja".
De qualquer forma, agradecemos pelo alerta, o que nos fará redobrar ainda mais os cuidados que tomamos desde o lançamento do site com todo o conteúdo que publicamos.

Cordialmente,
Marcelo Pimentel

F.Cardoso
15/02/2013 14:23:43
Prezada colega Ieda:
Estou a par das elevadas produções com pouco adubo. Pode ser que grande parte do N venha do solo, seja pela oxidação da MOS, seja pela ação de bactérias assimbióticas que prosperam nessa MOS. O que duvido é que a simbiose junto às raizes venha a alcançar os 250 kg/ha de N contidos em 70 sc de soja.V. teria literatura a respeito? Cordial abraço.

Marco Antonio Malburg
15/02/2013 15:52:13
Muito interessante a discussão, a argumentação usada por quem é favorável e contrário. O fato é que está se usando cada vez mais, e com a alta rentabilidade economica da cultura nestes anos, a relação custo x benefício tem sido favorável, se não o produtor chorão coo é, não estaria usando.

Marcos
16/02/2013 19:59:35
Em sistemas com altas produtividades, na fase de enchimento de grão a demanda de N é muito alta e a FBN não é suficiente. Por isso diversos produtores tem alcançado respostas positivas e econômicas com a adubação nitrogenada, principalmente foliar. Os pesquisadores da Embrapa necessitam conhecer melhor a realidade no campo.

Ieda Mendes
16/02/2013 20:02:46
Boa noite Dr. Fernando,

Muito obrigada pelos seus questionamentos aos quais responderei por partes.
Primeira parte: "Contribuição da mineralização da MOS e dos microrganismos assimbióticos nas áreas de alta produtividade do desafio nacional de soja"
Na fazenda do Paraná, com certeza houve contribuição do N do solo pois se trata de solos com elevados teores de MO. Entretanto, o solo da fazenda Veneza em Correntina ( com apenas 1,5% de MO e 22% de argila) dificilmente mineralizaria os 328 kg de N /ha ( que foi a quantidade de N extraída nos 108 sacos de soja produzidos naquela fazenda campeã). Com relação a contribuição doas assimbióticos, como a soja é uma planta com capacidade de se beneficiar da simbiose com rizobio, a contribuição dos microrganismos assimbióticos é pouco relevante se comparada a quantidade de N fixada pelo rizóbio.
A segunda parte da sua pergunta responderei em outro comentário.

Ieda Mendesd
16/02/2013 20:17:48
Boa noite Dr. Fernando,

Dando continuidade, com relação a segunda parte do seu comentário sobre as 70 sacas de soja e dados da literatura:
No trabalho de 2007 cujo link nós disponibilizamos acima (Boletim de Pesquisa e Desenvolvimento, 187. Adubação Nitrogenada Suplementar Tardia na Soja Cultivada em Latossolos do Cerrado e Boletim de Pesquisa e Desenvolvimento, 187.) reportamos dados de 15 experimentos sobre adubação nitrogenada suplementar tardia conduzidos no período de 2001 a 2006, em três locais distintos. O senhor poderá verificar na Tabela 3 da página 13, que na safra 2001/2002 o tratamento testemunha com inoculante padrão (IP) produziu 4159 kg/ha(=69,3 sacos) enquanto que os tratamentos adubados com nitrogênio (independente da dose, fonte e momento de aplicação) produziram em média 4363 kg/ha, uma diferença de 204 kg/ha (=3,4 sacas). Como pode ser verificado na tabela, as diferenças não foram estatisticamente significativas, mas nem vamos levar isso em consideração. Veja que um dos tratamentos era com 200 kg N/ha na forma de ureia. Com esses dados eu gostaria de chamar atenção para três coisas:
1- De fato, o desempenho da inoculação pode ser melhorado (ou seja temos que avançar na seleção de estirpes mais eficientes) mas, mesmo com 200 kg de N na forma de ureia, a diferença foi de apenas 3,5 sacos ( com uma relação custo/beneficio totalmente desfavorável).
2- Ainda com esses dados, uma vez que as doses de 50 e 200 kg N não diferiram fica evidente que outros fatores tais como o potencial produtivo da própria cultivar de soja podem ter atingido seu limite, por isso quantidades maiores ou menores de N não diferiram entre si (hoje, com cultivares de melhor potencial produtivo temos dados ainda não publicados de soja apenas com inoculação produzindo 4900 kg/ha).
3- Mesmo no caso do uso de 50kg de N na forma de sulfato de amônio ( a um custo de R$361,00), o ganho de 223kg/ha = 3,7 sacos (mesmo com a saca de soja custando R$60,00), não traria lucros para o agricultor.
Espero ter esclarecido. Muito obrigada por todos os questionamentos e pela rica discussão,
Um cordial abraço, Ieda Mendes

Celso Fehr
17/03/2013 19:19:03
Parabéns Dra. Ieda
Tenho certeza de que assim que os agricultores deixarem cair a ficha, verão que chegou a hora de acabar com os pacotes goela abaixo.
Paradigmas são feitos para serem quebrados,sem pesquisa e desenvolvimento nenhum pais cresce e depende sempre dos outros.
Che ga de aplicar adubos em excesso por perdas naturais.

Solon C. de Araujo
02/04/2013 17:48:52
Chego meio tardiamente para comentar este assunto, mas vamos lá.
Está provado e comprovado que a FBN é capaz de fornecer todo o N necessário para as mais elevadas produtividades. Mas a história de se usar N mineral é antiga: quando me formei (há muito tempo...) um colega me dizia que quando a soja passasse dos 1.500 kg/ha seria necessário N mineral. Depois passou para 2.000, 3.000 e agora chegam ao 6.000. Há poucos meses conversava com um melhorista de soja que me dizia que a empresa dele tem linhagens que produzem 6.000 kg/ha e não entra uma grama de N químico, nem no inicio, meio ou final de ciclo.
Mas porque ha casos em que o fertilizante nitrogenado dá resultados? Alguma falha na inoculação. O uso de inoculante é para BONS agricultores, conscientes de que é um produto biológico e requer alta tecnologia em seu uso.
O inoculante foi feito para funcionar e tem que funcionar. Se não funcionar corretamente, houve algum erro, seja de produto, seja de uso, seja de condições ambientais.

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