Em Rondônia, a cafeicultura é uma das principais atividades agrícolas. O estado produz 80% do café da região Norte e é o segundo produtor brasileiro de café “conilon”, com a área estimada de aproximadamente 160 mil hectares. Nos cafezais em formação, lavouras podadas (recepadas) e com espaçamentos muito largos, o solo nas entrelinhas do cafezal fica praticamente descoberto e sem proteção. No período chuvoso, essa área descoberta, favorece a ocorrência da erosão e o desenvolvimento das plantas daninhas, ao mesmo tempo, oferece uma oportunidade para o cultivo intercalar nas ruas do cafezal com espécies de interesse econômico, que protegem o solo contra a erosão durante esse período, evita a ocorrência de plantas daninhas, fornecem resíduos para cobertura do solo no período seco, aumentam o teor de matéria orgânica no solo, além disso, possibilitam a geração extra de renda e contribuem para a segurança alimentar do cafeicultor.
Os cultivos intercalares em Rondônia são prioritários nas áreas sem mecanização e propriedades familiares. Alguns cuidados devem ser tomados no plantio intercalar, ou seja, manter o plantio intercalar a 1,0 metro da linha do café, fazer o cultivo no período chuvoso e o corte no final do período chuvoso para formação da cobertura morta e proteção do solo no período seco. Dar preferência a plantas com porte baixo, de ciclo curto e que se adaptem a diferentes tipos de solo e manejos.
Culturas anuais
Segundo vários trabalhos de pesquisas e experiências de cafeicultores, as principais culturas intercalares, na ordem crescente do prejuízo que podem causar ao cafeeiro são: feijão, amendoim, soja, arroz, algodão, milho, girassol e mamona. Para evitar competição com o cafeeiro, recomenda-se manter o cultivo intercalar apenas nos três primeiros anos.
Cobertura Verde
Leguminosas
O plantio de leguminosas nas entrelinhas dos cafezais, além de servir como fonte de cobertura viva no período chuvoso e cobertura morta no período seco, traz benefícios para o solo e para as plantas, por meio da fixação de nitrogênio, retenção da umidade e inibição do crescimento das invasoras.
A Embrapa Rondônia testou diversas leguminosas e verificou-se que cuidados devem ser observados, como características das espécies, do solo e o manejo utilizado pelo agricultor. Em um estudo realizado pela Embrapa Rondônia, em um solo de média a baixa fertilidade, observou-se que o cultivo intercalar com a leguminosa Arachis pintoi, em cafeeiros recepados, mostrou-se uma tendência de competição com o cafeeiro, possivelmente por água e nutrientes, não funcionando como uma planta “companheira” e sim como invasora. Entretanto, em outro experimento, em solo de média alta fertilidade, a mesma leguminosa apresentou resultados de convivência benéfica, ou seja, praticamente não houve competição.
Em outro ensaio realizado pela Embrapa Rondônia, em Ouro Preto do Oeste, foram testadas as leguminosas amendoim forrageiro (Arachis pintoi), Desmódio (Desmodium ovalifolium), feijão de porco (Canavalia ensiformis), mucuna (Stizolobium sp.) em cultivo intercalar no cafezal e verificou-se que todas as leguminosas testadas não competiram com o cafeeiro e obtiveram resultados semelhantes em termos de taxas de sobrevivência, altura e diâmetro de plantas.
Gramíneas
O milheto (Pennisetum glaucum), sorgo (Sorghum bicolor) e o capim braquiária (Brachiaria sp.) são gramíneas que se adaptam bem a vários tipos de solos e podem ser utilizadas no cultivo intercalar com o cafeeiro. São plantas que tem: baixa exigência hídrica, necessitam de poucos insumos, tem alta capacidade de ciclagem de nutrientes e crescimento rápido. Além disso, as gramíneas têm como vantagens, a produção de grande quantidade de material vegetal (biomassa) e o sistema radicular é extremamente desenvolvido, que ajuda na estruturação do solo, aumenta o teor de matéria orgânica e dificulta a erosão.
Uso de milheto na implantação de cafezal em Machadinho do Oeste, RO
Manejo do mato
As plantas daninhas (mato) competem por água, luz, CO2 e nutrientes. Entretanto sabemos que o manejo adequado das plantas daninhas pode propiciar benefícios ao solo e à lavoura, pelo sombreamento do solo, evitando a incidência direta dos raios solares, amenizando os efeitos da erosão na época das chuvas, aumentando o teor de matéria orgânica do solo pela decomposição de raízes e parte aéreas, contribuindo para melhoria das condições físicas, químicas e biológicas do solo.
O controle deve ser feito antes do início do florescimento ou quando as invasoras atingirem altura média de 15 a 20 cm e sempre mantendo a área das invasoras a 1,0 m da linha do café. Geralmente esta prática é realizada, através de uso da roçadeira, que permite manter as plantas daninhas vegetando com porte baixo, evitando maior disseminação e contribuindo para deposição de resíduos no solo.
Solo coberto com plantas daninhas roçadas
Em um ensaio de controle de plantas daninhas em um cafezal, localizado em um solo de média a alta fertilidade na região de Ouro Preto do Oeste-RO, observou-se que o roço, apesar de haver maior ocorrência de plantas invasoras nas ruas do cafezal, não apresentou diferenças dos tratamentos com herbicidas e capina manual, na avaliação da produtividade. Como as plantas daninhas são muito agressivas, deve-se tomar o máximo de cuidado com o manejo das mesmas em solos de baixa fertilidade, visando evitar a competição com o cafeeiro.
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