A integração do cultivo de pastagens com lavouras (ILP), na região do Cerrado, teve inicio com um sistema de parceria entre agricultores e pecuaristas ainda na década de 70. Muito perspicaz, o agricultor percebeu que a pastagem cultivada após ciclos de cultivo de lavoura era vigorosa, apresentava boa capacidade de suporte, e resultava em excelentes índices de produtividade animal, e decidiu integrar estas atividades sistematicamente. Diversos arranjos foram testados durante este período, incluindo a adoção do Sistema Plantio Direto como premissa básica de um sistema de ILP sustentável.
A característica marcante deste sistema de produção é o benefício mútuo da pastagem e da lavoura, entre os quais pode-se mencionar a melhoria na qualidade do solo, da água e do ar. A qualidade do ar está intimamente relacionada ao acúmulo de matéria orgânica no solo. Ao acumular matéria orgânica no solo, através da adição de resíduos vegetais, a ILP retira da atmosfera CO2, um dos principais gases de efeito estufa (GEE), responsável pelo aquecimento global. O CO2 é convertido, pelo processo de fotossíntese, em carbono orgânico presente no tecido das plantas forrageiras. Uma vez que este resíduo (a sobra da pastagem + aqueles oriundos do sistema radicular) se decompõe no solo, o CO2 é armazenado na matéria orgânica do solo sob a forma de carbono orgânico, o que contribui para a qualidade do solo e do ar simultaneamente.
A quantidade de CO2 armazenada sob a forma de matéria orgânica do solo pode variar de região para região devido ao clima, mas de maneira geral, o principal limitante é a quantidade de resíduo vegetal que é adicionado ao solo, via parte aérea e sistema radicular das culturas. Num estudo conduzido em Dourados (MS) num Latossolo argiloso, verificou-se que, durante 15 anos, um sistema ILP retirou da atmosfera o equivalente a mais de 38 toneladas de CO2 por hectare. Numa análise mais profunda, o potencial de retirada de CO2 da atmosfera por sistemas ILP foi ainda maior quando se considerou o acúmulo de C que ocorreu em camadas abaixo de 30 cm de profundidade, visto que a produção de massa pelas raízes das pastagens é bastante significativa.
Atualmente, é crescente a preocupação da sociedade com as mudanças climáticas e suas implicações. O aumento da concentração de GEE, como o CO2 tem provocado mudanças no sistema climático em níveis globais. Entre as mudanças climáticas, a mais perceptível é o aumento médio da temperatura global, estimada em 0,74oC nos últimos 50 anos. Essa taxa de aquecimento, se não contida, pode promover já na próxima década profundas modificações na geografia da agricultura brasileira, com redução da área indicada para cultura de soja e impacto negativo na produção nacional.
Estima-se que a área potencial a ser cultivada integrando lavouras e pecuária no Centro Oeste do Brasil, pode atingir 27 milhões de hectares (PROBIO, 2002). Se 50% desta área adotar a ILP, o benefício da retirada de CO2 da atmosfera, por esta tecnologia, pode atingir 34 milhões de toneladas ao ano, o que é equivalente a 10% de todo o CO2 emitido no bioma Cerrado pela mudança do uso da terra, segundo os novos dados do inventário brasileiro de gases de efeito estufa sob consulta no Ministério da Ciência e Tecnologia. Por seus ganhos ambientais a integração lavoura-pecuária figura na lista de atividades apresentadas pelo Brasil para o atingimento das metas voluntárias de redução da emissão de gases de efeito estufa.
Artigo originalmente publicado em 26/01/2011
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