Nos últimos 20 anos, tem se falado muito sobre a necessidade de adoção de medidas que viabilizem o uso sustentável dos recursos hídricos no país. Fóruns de discussão técnico-científicos têm abordado sistematicamente sobre a urgência nas ações de proteção dos mananciais, tanto superficiais quanto subterrâneos.
Programas de Educação Ambiental nos âmbitos municipal, estadual e federal, têm se multiplicado pelo país afora, aliados a tantos outros sobre “recomposição de vegetação de mata ciliar”, “recuperação/proteção de nascentes” e “produtor de água”, além ainda, daqueles relacionados à construção de açudes, barragens e reservatórios, estes principalmente nas regiões de baixo índice pluviométrico ou semiáridas.
No entanto, na prática, o conjunto de programas citados não tem se traduzido em resultados de alto impacto positivo, salvo algumas exceções, uma vez que os problemas relacionados não só à deficiência de cobertura vegetal, tanto junto às nascentes quanto nas faixas de matas ciliares, como também à escassez e ao déficit hídrico continuam de modo persistente.
Não se trata aqui de uma análise crítica aos programas existentes do ponto de vista conceitual e metodológico, mas de uma reflexão sobre como dimensionar e resolver ou, pelo menos, minimizar o problema hídrico que tende a se agravar com o aumento da população e com as mudanças climáticas em curso em todo o Planeta. Aliás, esse cenário é endossado pela existência de um desequilíbrio entre o contingente populacional e a disponibilidade hídrica, afetando praticamente todo o país. Somente a região Norte ainda apresenta algum conforto, diante da oferta considerável de água para a população, considerando apenas o aspecto quantitativo, seguida de parte da região Centro-Oeste. As demais regiões do país, apresentam alta vulnerabilidade quanto à escassez de água para consumo.
Associado ao problema da escassez de água, existe um consumo desequilibrado entres as atividades que mais demandam água – agricultura irrigada, indústria e uso doméstico, aliado ainda a grandes desperdícios, principalmente no processo de distribuição nos centros urbanos. Aproximadamente 72% de toda a água potável ou em condições de ser tratada para consumo humano é utilizada para irrigação, enquanto as atividades industriais consomem cerca de 18% e o uso doméstico cerca de 10%, de acordo com relatório da ANA (2013).
A sustentabilidade desse consumo nas três atividades citadas passa, necessariamente, pelo reuso da água em duas delas - industriais e domésticas e pela consolidação das áreas de proteção de nascentes/matas ciliares, aliadas ao manejo racional do solo e da água no meio agrícola. No entanto, na prática, não se pode dizer que a irrigação consome 72% de água disponível para consumo, pois existe um volume significativo, quantificado a partir do balanço hídrico, que recarrega o lençol freático e assim retorna ao ambiente contribuindo para a formação de diversas nascentes d’água.
De qualquer modo, o conjunto de cenários expostos, remete pois a uma ação coordenada e integrada por parte dos gestores ambientais, públicos e privados. Só assim, o país conseguirá enfrentar os desafios da restrição hídrica que já se iniciou e que deverá se intensificar nas próximas décadas.
Fonte:
Recursos hídricos no Brasil: problemas, desafios e estratégias para o futuro / José Galizia Tundisi (coordenador). – Rio de Janeiro: Academia Brasileira de Ciências, 2014. 76 p.: 25 cm.
Relatório de Conjuntura dos Recursos Hídricos no Brasil 2013 disponível em:
http://arquivos.ana.gov.br/institucional/spr/conjuntura/webSite_relatorioConjuntura/projeto/index.html
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