No Brasil, a pecuária extensiva é responsável por cerca de 93% do rebanho bovino, tendo nas pastagens sua principal fonte alimentar. Esse tipo de sistema de produção de carne apresenta um dos menores custos do mundo, estimado em 60% e 50% dos custos da Austrália e Estados Unidos, respectivamente. No entanto, por esse mesmo motivo, a degradação das pastagens tem sido um grande problema para o setor, causando prejuízos econômicos e ambientais. Fenômeno complexo, o processo de degradação de pastagens envolve causas e consequências que levam à gradativa diminuição da capacidade de suporte da pastagem. As causas variam com a situação específica de cada bioma, podendo ser relacionadas a práticas inadequadas de pastejo e manejo, falhas em seu estabelecimento, pragas, doenças, excesso ou falta de chuvas, baixa fertilidade e drenagem insuficiente dos solos.
Superar a escassez de dados e informações e dimensionar de forma ampla e eficiente a magnitude do problema das pastagens degradadas no Brasil são alguns dos desafios do projeto de pesquisa GeoDegrade, que vem sendo desenvolvido pela Embrapa Monitoramento por Satélite, desde 2011. O objetivo é utilizar as geotecnologias para identificar e monitorar os processos de degradação de pastagens, em escalas regionais e nacionais, oferecendo subsídios às políticas públicas e tomadas de decisão sobre a recuperação, o manejo e o uso dessas terras.
A presença de pastagens degradadas é particularmente comum em áreas de fronteira agrícola do País, como as regiões Norte e Centro Oeste. Nesses locais, esse fenômeno está diretamente associado à baixa produtividade da pecuária e ao aumento do desmatamento. Diversas fontes indicam que, dos 172 milhões de hectares de pastagens do Brasil, mais de 60% encontram-se em algum estágio de degradação. Em áreas de Cerrado, que responde por 60% da produção de carne do País, cerca de 80% dos 45-50 milhões de hectares com pastagens cultivadas apresentam algum grau de degradação, com capacidade de suporte inferior a 0,8 UA (unidade animal) ha-1 ano-1. Nestas áreas, considerando-se somente a fase de engorda, a produtividade de carne está em torno de duas arrobas ha-1 ano-1, enquanto que, em áreas de pastagens em bom estado, pode-se atingir, em média, 16 arrobas ha-1 ano-1.
Levantamentos recentes estimam que cerca de 30 milhões de hectares das áreas de pastagens hoje existentes na Amazônia Legal, que abriga cerca de 40% das pastagens e 35% do rebanho bovino nacional, estariam em processo de degradação ou já degradadas. Nesta região, o crescimento do rebanho bovino tem sido o maior do País – 100% entre 1998 e 2010, segundo a Pesquisa Pecuária Municipal do IBGE. Para os próximos anos, é esperado um aumento significativo na produção brasileira de carne bovina, catalisando a exposição dos sistemas nacionais de produção para mercados consumidores potenciais. Nesse sentido, deverão crescer as pressões internas e externas para que a carne produzida no Brasil, além de atender as demandas quantitativas do mercado, se adeque às exigências de qualidade e origem do produto. Assim, é importante que se fortaleça um modelo produtivo eficiente e sustentável, baseados em sistemas modernos de produção, adaptados à nova realidade de um mercado globalizado.
Para que esse objetivo seja alcançado, grande parte dos sistemas de produção praticados no País deve ser modernizada. A base dessa modernização deverá ser o melhoramento das pastagens através da reutilização das áreas onde a cobertura vegetal original foi erradicada, e que atualmente se encontram abandonadas ou subutilizadas, reduzindo desmatamentos e tornando a atividade mais sustentável. Dessa forma, a recuperação de pastagens degradadas deverá ter papel decisivo nesse processo de modernização, tornando possível o aumento da produção sem promover a expansão das áreas de pastagem via desmatamento.
Seja para adequar-se às novas regras ambientais do mercado internacional e nacional, seja para liberar área para a agricultura, ou ainda, para aumentar a lucratividade do setor, a recuperação das áreas degradadas deve ser prioridade no setor pecuário, já que até 2018 a atividade necessitaria incorporar mais 5 milhões de hectares para um aumento do rebanho bovino em cerca de 20 milhões de cabeças. O conhecimento do espaço e do território, proporcionado pelas novas tecnologias, tornou-se fundamental para a superação destes desafios e a promoção do desenvolvimento sustentável da agropecuária brasileira.
Mais informações: http://www.geodegrade.cnpm.embrapa.br/
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