O aumento contínuo da população mundial, a evolução das economias emergentes como China e Índia e a demanda por biocombustíveis criaram um cenário no qual a demanda por alimentos é crescente. Hoje já somos 6,8 bilhões de pessoas no mundo e a previsão da FAO é que seremos 9 bilhões de pessoas em 2050.
Em 40 anos, portanto, a população mundial será 30% maior. Além do crescimento populacional, a expansão econômica dos países emergentes gerará aumento de renda e isso acelerará o consumo de alimentos de milhões de indivíduos, que passarão a se alimentar cada vez melhor.
A combinação do crescimento da população, expansão econômica dos países emergentes e a demanda por biocombustíves, gerará a necessidade de produzir, em poucas décadas, o dobro da quantidade de alimentos que levamos milhares de anos para alcançar. Se não mudarmos a forma que produzimos alimentos hoje, isto significa que serão necessários dois planetas Terra para que tenhamos água, solo e clima adequados para atender a demanda por alimentos, ração e energia.
O lado bom é que esse crescimento vai gerar bilhões de novos consumidores que, além de alimentos, vão demandar imóveis, carros e energia. O risco é que essa aceleração econômica pode impactar os recursos naturais, alterando o clima e limitando a capacidade de 9 bilhões de pessoas alcançarem um estilo de vida compatível com os padrões predominantes atualmente.
Essa conclusão faz parte do Relatório “Visão 2050: A Nova Agenda Para o Negócio”, elaborado pelo World Business Council for Sustainable Development (WBCSD) – entidade que reúne 29 empresas de 14 setores diferentes e situadas em 20 países. Representantes dessas companhias dialogaram com as instituições públicas e governos para analisar como será a vida no planeta em 2050.
Como os recursos naturais não crescerão em proporção à demanda, o Relatório Visão 2050 alerta para a necessidade de mudanças no modelo de crescimento econômico. O princípio básico será explorar os recursos naturais com racionalidade e equilíbrio e investir mais em fontes renováveis de energia.
A necessidade de aumento de produção agrícola terá que coexistir com a um novo modelo de negócio sustentável. Esse é um desafio para o setor e uma oportunidade para governos com visão de futuro, indústrias criativas e pesquisadores dedicados e bem preparados. Neste aspecto, o Brasil vem cumprindo o seu papel, preparando uma agricultura forte que alimentará a sua população e também a de outros países, respeitando o meio ambiente cada vez mais e seguindo o desafio de “produzir mais com menos recursos naturais”.
Para isso, a indústria está focando em inovação e alcançando produtos de altos níveis de tecnologia que asseguram mais produtividade e rentabilidade e menos impacto ambiental. Este desafio de aumentar a produção terá que ser alcançado sem que a área cultivável avance sobre áreas de preservação natural. A solução será produzir mais na mesma área. Os governos, o mundo acadêmico e a indústria vão ter que investir pesadamente na agricultura para que possamos aumentar a produtividade agrícola. Novas técnicas agrícolas, sementes mais produtivas, fertilizantes mais eficientes e melhores soluções químicas e biológicas são iniciativas que vamos ver com mais freqüência nos próximos anos.
Caso não consigamos fazer crescer a produção agrícola na proporção do crescimento da demanda por alimentos, seus preços subirão e mais pessoas passarão fome no mundo. Atualmente já existe cerca de 1 bilhão de habitantes subnutridos, e este número se elevará ainda mais caso não sejamos capazes de responder, hoje, ao desafio que a produção de alimentos nos impõe para 2050.
Muitos países olham para a agricultura no curto prazo, dificultando a inserção de novas tecnologias, principalmente por razões políticas e não técnicas. Outros países taxam suas exportações agrícolas, impedindo que seus agricultores se capitalizem e produzam mais. Por fim, há governos que não valorizam a propriedade intelectual da indústria que investe para aumentar a produtividade agrícola, reduzindo os incentivos para que esta indústria cresça e suporte o crescimento da produção.
Cada um destes governos acaba focando no desafio imediato que seus habitantes têm, esquecendo de considerar que somos parte de um planeta que, em apenas 40 anos, necessitará do dobro da produção agrícola que temos em 2010. Precisamos pensar na demanda global de alimentos e nos meios de produzi-los em quantidade suficiente para que sejam baratos e acessíveis a toda a humanidade. Assim, em um mundo globalizado como vivemos hoje, o preço dos alimentos será condizente em todos os países de economia aberta.
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