dia de campo

a
Esqueceu a senha?
Quero me cadastrar
     02/02/2025            
 
 
    

A conversão termoquímica de biomassa é uma rota tecnológica que funciona em temperaturas elevadas. O uso de calor é a sua principal característica. A agroindústria brasileira utiliza exaustivamente os processos termoquímicos, sendo que, os seus principais exemplos são a queima de biomassa como casca de arroz, bagaço de cana e cavacos de madeira para gerar eletricidade e calor (cogeração) e a carbonização de lenha para produzir carvão vegetal, importante fonte de energia e bioredutor para a indústria siderúrgica.

Porém, os dois exemplos citados acima não são os únicos. Através da gaseificação e da pirólise rápida de biomassa residual é possível produzir biocombustíveis como bio-óleo, diesel e gasolina sintéticos, via síntese de Fischer-Tropsch, além de fertilizantes como uréia e fertilizantes de liberação lenta. Em todos esses casos existem diferentes graus de inovação tecnológica.

Biorrefinarias é um caminho desejável, mas ainda é um conceito muito acadêmico e precisa ser lapidado para virar realidade e superar as barreiras econômicas. Uma biorrefinaria é uma instalação industrial na qual entra a matéria-prima e saem diversos produtos. Estamos falando de diversificação da produção, integração energética, eficiência energética e de aumento da complexidade das instalações. Por outro lado, a realidade na produção em larga escala nos mostra que o caminho natural para o setor produtivo é o da especialização e isso passa pela produção de um único produto para ganhar competitividade.

Especificamente, no caso brasileiro a saída mais segura para a economia em bases sustentáveis é a inovação tecnológica. Isso significa agregar valor aos nossos produtos primários e não apenas exportar a maior parte da produção na sua forma in natura. Então, o que seria realmente inovador quando falamos de termoquímica para a geração de bioenergia, produção de biocombustíveis e a fabricação de matérias renováveis?

Toda a família de processos termoquímicos é conhecida e como exposta acima já fazem parte de cadeias produtivas importantes na economia do país. O campo fértil da inovação está literalmente aberto e a disposição para o desenvolvimento de novas tecnologias, ou seja, máquinas, equipamentos, dispositivos e sistemas para executarem esses processos e serem inseridos nas cadeias produtivas já existentes ou em desenvolvimento.

O alto risco está inserido na inovação tecnológica. Assim, o desafio de introduzir as inovações necessárias à indústria brasileira será um trabalho conjunto entre os setores públicos e privados objetivando a diminuição desses riscos. Historicamente, a indústria brasileira, a despeito de ser a mais desenvolvida da região latino-americana, é ainda muito dependente dos países desenvolvidos. Essa indústria nacional sempre inovou na produção via importação de máquinas e equipamentos de tecnologias de ponta desenvolvidas em outros países. Assim, o desafio da indústria brasileira é incorporar a inovação gerada localmente seja em laboratórios próprios seja em universidades ou institutos de pesquisa.

O componente inovador da biorrefinaria é ponto de consenso, porém a forma de como atingir essa indústria de produtos e serviços de alto valor agregado é que ainda está em plena discussão. No caso particular do desenvolvimento da conversão termoquímica de biomassa fica bem claro que existe grande demanda pela industrialização dos processos, principalmente a pirólise e a gaseificação, além é claro da própria combustão. No setor siderúrgico com carvão vegetal a demanda é evidente e óbvia. Por se tratar de um setor altamente competitivo e atender completamente o apelo por tecnologias mais limpas e mitigadoras das emissões dos gases de efeito estufa, o carvão vegetal para bioredutor de minérios é candidato privilegiado a incorporar as inovações nacionais.

Para tentar explicar mais claramente a situação singular da siderurgia brasileira a carvão vegetal, é necessário entender inicialmente que esse é um setor energético relevante no Brasil. Trata-se de um setor denominado energo-intensivo, termo que significa grande consumidor de energia. Característica de uma típica indústria de base. A sua grande importância está no fato de ser o substituto natural do carvão mineral, a fonte fóssil que mais polui no mundo inteiro. As características principais desse setor são: baixa inserção tecnológica, baixa qualificação da mão-de-obra e baixo custo da matéria-prima.

Existem exceções. E são nessas exceções que estão as respostas para a mudança de paradigma da siderurgia a carvão vegetal. Essa mudança necessária deve ser na valorização da matéria prima passando de extrativismo insustentável para a produção sustentável, na capacitação da mão-de-obra e profissionalização dos técnicos e operadores e na transformação tecnológica que passa pelo abandono dos tradicionais fornos de alvenaria para uma agroindústria tecnificada e com um forte viés de biorrefinaria. Exatamente porque além de produzir o desejado carvão vegetal em bases sustentáveis também produzirá a fração líquida rica em vários produtos químicos de alto valor agregado. São essas as bases para a indústria carboquímica vegetal, na qual não apenas a biomassa lenhosa será a matéria prima, mas também outros resíduos lignocelulósicos poderão ser convertidos em produtos energéticos ou materiais e insumos químicos.

Finalmente, para descrever um pouco em números o significado do setor do carvão vegetal e da lenha no Brasil, e citando os dados do Balanço Energético Nacional, publicado anualmente pela Empresa de Pesquisas Energéticas – EPE – nas suas séries históricas mostra que a produção e o consumo de carvão vegetal são de 10 milhões de toneladas anualmente. O principal consumidor é a siderurgia. A taxa média de conversão adotada é de 25% em massa. Assim, um rápido cálculo mostra que cerca de 40 milhões de toneladas de lenha são consumidas para manter essa produção. Sendo uma produção constante ao longo das últimas décadas e tendo em vista o crescimento econômico do país e junto o aumento do consumo de energia, pode-se concluir que é um setor condenado ao desaparecimento se nada do exposto acima for feito.

O desperdício de 75% da matéria-prima e da energia contida na biomassa lenhosa convertida a carvão vegetal é simplesmente o desperdício da oportunidade de ter a indústria da carboquímica vegetal renovável e sustentável. Assim, será a abundância a nossa maior desgraça ou será que o consenso sobre a inovação na indústria brasileira está sendo erroneamente conduzido?

Aviso Legal
Para fins comerciais e/ou profissionais, em sendo citados os devidos créditos de autoria do material e do Jornal Dia de Campo como fonte original, com remissão para o site do veículo: www.diadecampo.com.br, não há objeção à reprodução total ou parcial de nossos conteúdos em qualquer tipo de mídia. A não observância integral desses critérios, todavia, implica na violação de direitos autorais, conforme Lei Nº 9610, de 19 de fevereiro de 1998, incorrendo em danos morais aos autores.
Ainda não existem comentários para esta matéria.
Para comentar
esta matéria
clique aqui
sem comentários
Plantas daninhas ganham espaço e requerem controle contínuo
Com níveis de infestação de plantas daninhas cada vez maiores, produtores devem intensificar métodos de controle e ações ao longo do ano todo
Baixa tecnificação, pragas e doenças: os desafios para a banana em RO
Sigatoka negra é doença mais prejudicial à bananicultura e afeta produtividade média do estado
Interação vital: serviços ecossistêmicos e produção agrícola
Estudo avalia potencial de prestação de serviços ecossistêmicos por fragmentos florestais em áreas agrícolas
Potencialidades do guandu como adubação verde
A grande quantidade de operações mecanizadas realizadas em curtos espaços de tempo faz com que os solos sofram degradação. Adubação verde tem sido adotada para ajudar
A plataforma termoquímica aplicada à biorrefinaria
Biorrefinarias é um caminho desejável, mas ainda é um conceito muito acadêmico e precisa ser lapidado para virar realidade e superar as barreiras econômicas
Futebol e Agricultura
Para ganhar campeonato, no disputado futebol atual, é preciso ter elenco. Tem que haver um bom plantel de jogadores, pois é assim que se mantém o padrão de jogo e a competitividade do time
Termografia como ferramenta de monitoramento do bem-estar animal
A termografia por infravermelho converte a radiação térmica emitida pela superfície de um objeto em imagens visuais detalhadas do perfil de temperaturas (termograma)
Agricultura irrigada e desenvolvimento
Depois de 17 anos circulando e sendo discutida no Congresso Nacional temos um marco regulatório que deve receber uma atenção especial dos diferentes gestores públicos
Manejo da fertilidade do solo para altas produtividades
Sistemas demandam o conhecimento detalhado das áreas e principalmente, o planejamento das ações, pois a adoção de novos cultivos implica no aumento da complexidade na gestão do empreendimento
Polinização animal exige conservação ambiental
Destruição de vegetação natural reduz população de abelhas polinizadoras e interfere no processo de formação de frutos
Pagamento por serviços ambientais é necessário
Especialista diz que agricultor que cumpre regras sustentáveis pode ir à falência ao arcar sozinho com custos
Consórcio milho-braquiária beneficia o solo e o agricultor
Tecnologia gera uma extensa série de benefícios para todo o sistema produtivo
Técnica melhora produtividade do rebanho leiteiro
Acasalamento corretivo promete corrigir imperfeições genéticas através de cruzamentos programados entre bovinos

Conteúdos Relacionados à: Agroenergia
Palavras-chave

 
11/03/2019
Expodireto Cotrijal 2019
Não-Me-Toque - RS
08/04/2019
Tecnoshow Comigo 2019
Rio Verde - GO
09/04/2019
Simpósio Nacional da Agricultura Digital
Piracicaba - SP
29/04/2019
Agrishow 2019
Ribeirão Preto - SP
14/05/2019
AgroBrasília - Feira Internacional dos Cerrados
Brasília - DF
15/05/2019
Expocafé 2019
Três Pontas - MG
16/07/2019
Minas Láctea 2019
Juiz de Fora


 
 
Palavra-chave
Busca Avançada