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Juliana Caldas, Embrapa Cerrados
26/11/2014
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Segundo maior Bioma brasileiro em extensão, com mais de dois milhões de quilômetros quadrados, o Cerrado tem a sua maior parte localizada no Planalto Central do Brasil. O espaço geográfico ocupado por este Bioma desempenha papel fundamental no processo de distribuição dos recursos hídricos pelo país. "Por estar em área alta e central, o Cerrado é a origem das grandes regiões hidrográficas brasileiras e do continente sul-americano, fenômeno apelidado de Efeito Guarda-Chuva”, destaca um dos pesquisadores da área de hidrologia da Embrapa Cerrados, Jorge Werneck (imagem abaixo).
Por conta dessa característica, o Cerrado é considerado o berço das águas do Brasil. Nascentes de oito das 12 regiões hidrográficas brasileiras estão localizadas neste Bioma. “Os recursos hídricos do Cerrado possuem uma importância que extrapola em muito as dimensões do bioma”, afirma Werneck. Segundo ele, sob a perspectiva da manutenção desses processos de produção e distribuição de águas pelos rios do Brasil, e não apenas os do bioma, torna-se ainda mais importante a adequada gestão dos solos e dos recursos hídricos do Cerrado e a preservação de suas nascentes. Por ser um recurso finito, a água precisa ser usada da forma mais correta possível.
Nesse sentido, umas das linhas de pesquisa da Embrapa Cerrados, Unidade da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), sendo um centro de pesquisa ecorregional com foco na sustentabilidade da agricultura no Bioma Cerrado, é o desenvolvimento de tecnologias e estudos que favoreçam o manejo e a conservação de solo e de água. São estudadas técnicas que possibilitam o uso racional dos recursos naturais como forma de otimizar seu aproveitamento, minimizando os conflitos e os impactos ambientais decorrentes das atividades antrópicas, especialmente da agricultura.
Dentre esses estudos que buscam estimular o uso racional dos recursos hídricos na agricultura, destacam-se aqueles relacionados à questão do manejo de irrigação. A irrigação é uma prática importante para garantir a produtividade e a estabilidade da produção agrícola na região, uma vez que as chuvas no Cerrado não ocorrem durante todo o ano. Estimativas dão conta de que o Cerrado possui cerca de 10 milhões de hectares aptos à irrigação. “Atualmente, no entanto, apenas por volta de um milhão de hectares são efetivamente utilizados para esse fim. Isso indica que a prática da irrigação ainda tem grande potencial de expansão nesse bioma”, afirma o pesquisador Jorge Werneck.
Mas, mesmo ainda longe de alcançar seu potencial máximo, são frequentes os conflitos pelo uso da água por causa da sua utilização relacionada à irrigação. “Isso se deve, principalmente, à falta de um planejamento adequado do uso do solo e dos recursos hídricos no decorrer do processo acelerado de ocupação do Bioma Cerrado, o que acabou resultando na grande concentração de irrigantes em determinadas regiões”, destacou o pesquisador. O estudioso defende ser fundamental que o estabelecimento de novas áreas irrigadas considere a capacidade de suporte das bacias hidrográficas, o que também vem sendo estudado pela Embrapa para a orientação de políticas públicas relacionadas ao tema.
Além das questões relativas ao planejamento da ocupação do solo, os conflitos pelo uso da água em áreas com agricultura irrigada são ampliados pela não utilização das técnicas de manejo da irrigação existentes, apesar de serem há muito tempo conhecidas pelos profissionais da área. “A partir do monitoramento do clima, da umidade do solo ou do potencial da água nas folhas, é possível determinar o momento certo de se irrigar e o quanto de água aplicar nas áreas cultivadas, atendendo às demandas das plantas. Se esse monitoramento não é feito, ou é feito de forma incorreta, o produtor pode acabar utilizando mais ou menos água do que seria realmente necessário, o que pode prejudicar o cultivo e, por fim, seu lucro”, explica Werneck.
Gestão integrada
A Embrapa participa ativamente de diversos Comitês de Bacias Hidrográficas e de outros colegiados formados com o intuito de discutir e deliberar questões relacionadas à adequada gestão dos recursos hídricos. Além de representantes do poder público, esses grupos também são formados por representantes dos usuários das águas e da sociedade civil. “O comitê representa uma grande descentralização do poder em relação às instituições relacionadas ao tema recursos hídricos, na medida em que traz a sociedade para a discussão”, avalia o pesquisador da Embrapa Cerrados. Segundo ele, espera-se que, em breve, com o avanço da implantação da Política Nacional de Recursos Hídricos (Lei nº 9.433/97), que vem ocorrendo em quase todo o território nacional, a gestão integrada do uso do solo e da água, bem como a adoção de boas práticas, no meio rural e urbano, possa continuar gerando bens e riquezas ao país.
Reportagem originalmente publicada em 12/09/2013
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