O aumento da taxa de extinção das espécies (em geral) no último século constitui uma das questões ambientais com as quais os diversos segmentos da sociedade contemporânea têm mostrado preocupação. Essa questão fomenta várias discussões sobre o uso responsável dos recursos naturais. As principais causas de extinção resultantes das atividades humanas são a destruição, fragmentação e degradação do habitat. Elas ocorrem principalmente como resultado das atividades econômicas em larga escala que, associadas a uma economia global com uma crescente demanda por bens e serviços, utilizam os recursos naturais. Além dessas, a superexploração (para uso humano), a introdução de espécies exóticas e o aumento da ocorrência de doenças também contribuem para a extinção de espécies naturais. Atualmente, a maioria das espécies ameaçadas de extinção enfrenta, pelo menos, dois desses seis tipos de problema.
Com o objetivo de proporcionar bens e serviços oriundos de plantios florestais e minimizar o impacto ambiental dessa atividade, o planejamento do manejo de florestas de produção tem evoluído ao longo dos anos. Ele passou a incorporar questões ambientais e sociais em seu escopo, além dos objetivos tradicionais de produção de bens e serviços e obtenção de lucros. Algumas estratégias de manejo florestal estão sendo adotadas por empresas de reflorestamento ao redor do mundo para tratar essas questões. Nos Estados Unidos da América, o problema maior é evitar a colheita de grandes áreas contínuas de florestas, planejando a colheita de um determinado talhão (ou área) florestal apenas quando os talhões adjacentes a ele encontram-se regenerados.
No Brasil, o estabelecimento de corredores de conectividade entre fragmentos de áreas nativas que estejam adjacentes aos plantios florestais emerge como uma estratégia de mitigação dos impactos ambientais decorrentes da atividade silvicultural. A ideia é planejar o plantio e a colheita dos vários talhões florestais de modo a obter uma floresta ordenada, ou seja, quantidades semelhantes de áreas plantadas com diferentes idades ao longo do tempo. Dessa forma, é possível planejar essas operações de tal maneira que sempre haja um corredor, formado por talhões florestais mais velhos, conectando os fragmentos nativos adjacentes à área de plantio florestal.
Por exemplo, consideremos uma floresta com 21 talhões de igual área e produtividade, onde cortamos três talhões por ano. Dessa forma, no oitavo ano estaremos colhendo os mesmos talhões que colhemos no primeiro ano. Dentro dessa ideia, imaginem que tenhamos duas áreas distintas de proteção permanente da propriedade separadas pelo plantio, mas que sejam vizinhos dele. Assim é possível planejar os três talhões anuais de corte de forma que tenhamos sempre um corredor conectando as duas áreas naturais, formado com florestas de eucalipto com, por exemplo, mais de dois anos de idade. Todos os talhões serão colhidos, o plantio continuará a exercer a sua função produtiva, mas com um benefício ambiental a mais do que o obtido caso a decisão de formação de corredores de conectividade não houvesse sido implementada no manejo da floresta.
A Figura 1 apresenta um esquema de corte de duas situações. Em uma delas, há colheita tradicional em que não se atenta para a manutenção de um corredor de conectividade entre as áreas naturais remanescentes (em azul). Na outra, esse corredor foi implantado. É possível observar que, ao longo dos três anos de corte em cada um dos tipos de colheita propostos, no segundo sistema, as duas áreas azuis estão sempre ligadas devido à escolha adequadas das áreas a serem cortadas.
Figura 1 – Gráficos com esquema de corte padronizado para manutenção de corredor ecológico (coluna da esquerda) e sem corredor (coluna da direita). UM significa unidade de manejo, ou talhão. Adaptado de Rodriguez (2005).
Esse sistema de planejamento da colheita que incorpora a necessidade do estabelecimento de corredores de conectividade é capaz de beneficiar também os animais, como onças, antas, roedores diversos, veados, aves e mais uma infinidade de outras espécies que utilizam essas áreas para forrageio, dormida e local de circulação. Essas áreas com florestas plantadas – devido ao seu porte, cobertura de folhas (dossel) e outras características – são ambientes mais seguros quando comparados a áreas com culturas agrícolas de baixa estatura ou um pasto, onde os animais silvestres são facilmente visíveis e alvos de caçadores ou predadores.
A importância em propiciar esses refugos à fauna é que os animais formam uma complexa rede alimentar, com exemplares que se alimentam de plantas, têm hábito carnívoro ou são detritívoros, comendo os restos de plantas ou de outros animais. Outra contribuição à natureza – e, por conseguinte, ao ser humano – é que os animais, ao se alimentarem de frutos, eliminam suas sementes em locais distantes e acabam agindo como dispersores de plantas.
Há ainda aqueles que atuam como polinizadores e outros que participam no controle de outros seres que algumas vezes podem até agir como pragas agrícolas ou transmissores de doenças a animais e ao homem. Nesse caso, pode-se citar as corujas e os gaviões, que se alimentam de cobras, roedores e escorpiões e atuam no controle de muitas pragas urbanas.
Esse ponto de vista não defende o desmatamento de áreas nativas, mas indica que, agindo dessa forma, um plantio de árvores para fins industriais, mesmo trazendo uma série de impactos ambientais, como qualquer atividade antrópica, se for bem planejado e manejado, pode aumentar seu impacto positivo. Ele contribui para estabelecer um modo de vida mais perto do sustentável à natureza, propiciando refúgio, abrigo e atuando como corredor de animais que transitam entre diferentes tipos de unidades de conservação e outras formas de áreas protegidas.
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