A visão da potencialidade da agricultura brasileira remonta da época do descobrimento, mesmo antes da atividade ser iniciada no país, quando Pero Vaz de Caminha relata na Carta escrita ao Rei de Portugal Dom Manuel “Águas são muitas; infindas. E em tal maneira é graciosa que, querendo-a aproveitar, dar-se-á nela tudo, por bem das águas que tem”. Mai tarde esse trecho é celebrizado na frase “Em se plantando tudo dá”.
A agricultura brasileira deu os seus primeiros passos como atividade produtiva com o processo de colonização, por meio da instalação das Capitanias Hereditárias, onde grandes extensões de terras foram cedidas a amigos do Reino, para a criação de animais e para a produção de grãos visando dar suporte alimentar às atividades extrativistas do Pau-Brasil.
Posteriormente vieram outras atividades produtivas que também predominaram durante certo período de tempo, passando a ser denominadas de ciclo. Houve então o ciclo da borracha, o da cana-de-açúcar e o do café. Todas essas atividades tiveram em comum o uso maciço de mão de obra para o seu desenvolvimento, com o trabalho árduo braçal realizado de sol a sol no campo.
Com o início do processo de industrialização e a consequente migração da população rural para os centros urbanos, as propriedades rurais tiveram que adotar máquinas agrícolas para substituir a mão de obra utilizada nas atividades de produção de alimentos e produtos para exportação, especialmente o café.
Nessa época tínhamos 80% da população brasileira residindo no meio rural e 20% nas cidades e o abastecimento alimentar estava assegurado com a produção de alimentos em terras naturalmente férteis.
Na década de 1970 a população brasileira crescia a taxas elevadas e a demanda por alimentos superava a capacidade de produção no campo, que já ocupara todas as áreas férteis. O Brasil passou a importar alimentos para garantir o abastecimento da população, que já contava com 50% do seu contingente residindo nos centros urbanos.
No início dessa mesma década o Brasil teve que enfrentar a primeira crise mundial do petróleo e o país que era grande importador dessa fonte de energia utilizada para mover as indústrias e abastecer os meios de transporte ficou diante de uma encruzilhada: usar suas divisas para a importação de petróleo ou de alimentos.
A decisão foi manter a importação do combustível fóssil e criar um programa de incentivo ao aumento da produção de alimentos. Para tanto, o governo resolveu ampliar as pesquisas agropecuárias criando a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e programas de colonização e desenvolvimento agrícola no Brasil Central.
Nesses programas os produtores rurais receberam recursos amplos para a aquisição de máquinas e equipamentos visando à abertura de novas áreas, correção e preparo do solo, plantio, pulverização e colheita. Desenvolveu-se rapidamente a indústria nacional de máquinas, em especial, os fabricantes de tratores, grades, semeadoras e colhedoras de médio e grande porte. O desenvolvimento e a produção de máquinas e equipamentos para pequenas propriedades foram relegados ao segundo plano.
O preparo intensivo do solo com arados e grades para o plantio expos os solos à erosão causando grandes perdas de solo e água. Para estancar esse processo severo de empobrecimento surgiu o Plantio Direto onde a semeadura é realizada sobre os restos culturais do cultivo anterior, sem revolvimento do solo. Essa técnica provocou uma mudança profunda no perfil da produção de máquinas pela indústria nacional. Novamente a indústria priorizou o mercado de larga escala para atender médias e grandes propriedades.
Com a redução da expansão da área plantada nas regiões de fronteira agrícola e consequente redução da demanda de máquinas de médio e grande porte e com a criação de programas governamentais de incentivo à agricultura familiar, especialmente o Programa Nacional de Apoio ao Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf), com financiamento para a aquisição de máquinas e equipamentos paras as pequenas propriedades, as indústrias passaram a dar maior atenção ao desenvolvimento e produção de máquinas e equipamentos para este mercado.
Com a criação do Pronaf Mais Alimentos e do Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) pelo Governo Federal, com destaque aos alimentos que compõem a cesta da merenda escolar, a produção pela Agricultura Familiar ganhou um forte impulso e despertou maior atenção da indústria nacional para a produção, em escala, de máquinas e equipamentos de pequeno porte. Atualmente já é comum a exposição e demonstração desses produtos em feiras, exposições agropecuárias e dias de campo.
Como ação integrante da Semana Nacional de Ciência e Tecnologia o Governo do Distrito Federal (GDF), por meio da Secretaria de Agricultura e Desenvolvimento Rural (SEAGRI) e da Emater-DF, em parceria com a Cooperativa Agropecuária da Região do Distrito Federal (COOPA-DF), com o Banco de Brasília (BRB) e com o Sebrae-DF, realizou em outubro do ano passado, o Dia Especial de Mecanização Agrícola para a Pequena Propriedade, no Parque Ivaldo Cenci, onde todo ano, em maio é realizada a Feira AGROBRASÍLIA.
Nesse evento foram demonstradas máquinas e equipamentos para as mais variadas atividades nas pequenas propriedades, como microtratores e tratores de baixa potência; encanteiradoras, enlonadoras de canteiros, semeadoras e transplantadoras de hortaliças; ceifadoras, revolvedoras e enfardadoras para fenação; guinchos, lâminas e perfuradores hidráulicos; semeadoras hidráulicas de grãos; entre outros.
A aquisição dessas máquinas e equipamentos conta hoje com linhas de crédito muito atrativas e vantajosas para os agricultores familiares, porém, ela deve ser planejada, isto é, precedida de um projeto elaborado por técnico competente, considerando: o tamanho da área; os cultivos a serem desenvolvidos em função do mercado; o dimensionamento da potência e da configuração das máquinas em função das áreas a cultivar e das operações a realizar, dentre outros fatores. Mesmo pequenas, algumas máquinas podem ser muito onerosas para serem adquiridas individualmente, além de que podem tornar-se ociosas devido ao seu uso reduzido durante uma safra.
Destaca-se a importância fundamental dos produtores de pensar e agir em grupo, isto é, por meio de associações e cooperativas, para dar viabilidade à aquisição coletiva, não só de máquinas e equipamentos, mas também de insumos e serviços. Essa união também possibilita a formação de escala facilitando a comercialização da produção.
Dessa forma a mecanização agrícola terá viabilidade e poderá ser adotada amplamente pela Agricultura Familiar, melhorando a renda e a qualidade de vida no campo, trazendo um novo horizonte para a juventude rural, com perspectivas promissoras de um futuro, onde possam dignamente continuar produzindo para alimentar a nossa crescente população urbana.
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