Nos sistemas de produção da região Sul do Brasil pode-se utilizar diversas opções forrageiras para a alimentação animal. Mas a produção destas forrageiras sofre influência de fatores do meio, como temperatura, luminosidade e disponibilidade de água no solo, proporcionada pelas chuvas.
Quando a distribuição das chuvas ocorre de forma regular, se observa produção de forragem em quantidade, o que promove altas produtividades. Porém, frequentemente, ocorrem na região eventos de estiagens na primavera e início do verão, além da influência dos fenômenos El Niño e La Niña, que proporcionam irregularidade na distribuição das chuvas e, consequentemente, reduções no potencial de produção das forrageiras para alimentação animal.
Desta forma, com elevada variabilidade climática entre anos e entre locais, é preciso que estejamos atentos aos impactos que esses eventos podem causar e, ao mesmo tempo, pensar alternativas que reduzam os riscos que estes eventos trazem para a atividade pecuária.
Anos com ocorrência do fenômeno de La Niña são caracterizados por chuvas abaixo da média na Região Sul, enquanto El Niño geralmente provoca chuvas acima da média. Ambos os eventos têm trazido prejuízos no aproveitamento do potencial de produção forrageira para alimentação animal na região, ora por excesso de chuva, ora por falta de chuva, fatores que dificultam a implantação ou influenciam fortemente no crescimento das plantas.
Nos últimos quatro anos, as chuvas apresentaram excedentes hídricos durante os períodos de verão. No entanto, no último mês de novembro os modelos meteorológicos apresentaram o início do fenômeno de La Niña. Com esta constatação, espera-se que a distribuição das chuvas fique abaixo dos valores normais da região e, desta forma, que os níveis de umidade no solo sejam insuficientes para o pleno estabelecimento e crescimento das plantas forrageiras. Os modelos indicam que nos meses de dezembro de 2017, janeiro e fevereiro de 2018 a estiagem estará presente e provocará a diminuição de precipitação em cerca de 40 mm mensais em relação aos volumes médios em diversos locais da região Sul do Brasil. Desta forma, o desafio será: como garantir a produção animal a pasto, neste próximo verão.
Baseado nas previsões meteorológicas e em experiências anteriores dos produtores é possível encontrar estratégias para tentar diminuir os impactos de uma situação como essa, ou seja, é possível planejar.
Caso não se tenha utilizado estratégias como conservação de excedente de forragem, na forma de feno e/ou silagem, ou ainda não tenha tido condições de implantar as forrageiras de verão, o momento é de cautela. Para aqueles que não contam com um sistema que permita realização da irrigação, as alternativas passam por aquisição de alimento concentrado ou conservado. A venda de animais também pode ser uma alternativa a ser avaliada dentro da perspectiva de custo-benefício. Aguardar as próximas chuvas visando ter umidade suficiente para implantação de forrageiras de verão se faz necessário. Como este aguardo pelas próximas chuvas pode acarretar em plantio tardio, o interessante é pensar em espécies forrageiras que tenham ciclo de produção mais longo, por exemplo o capim-sudão BRS Estribo, a fim de ainda ser economicamente viável o plantio, bem como buscar espécies ou cultivares que sejam mais tolerantes ao déficit hídrico. Salienta-se que sorgo forrageiro e milheto, apesar do ciclo mais curto, seriam espécies tolerantes ao déficit hídrico.
Ressalta-se, também, a importância do ajuste de carga animal, de forma que o pastejo não seja intenso demais, ou seja, que não fique pouca massa (principalmente de folha) no resíduo após o pastejo (seja em pastagens cultivadas ou no campo nativo). Como, apesar da temperatura elevada e radiação disponível, há baixa disponibilidade de água para manter o crescimento ativo das plantas, a estratégia mais indicada é deixar mais folha no resíduo, com intuito de permitir às plantas manter crescimento adequado. A subdivisão dos potreiros pode auxiliar nesse sentido, pois, caso não seja possível manter maior resíduo de folhas em todos os potreiros, o produtor pode “eleger” alguns potreiros para manejar de forma a tentar garantir esta melhor condição para o crescimento do pasto, e uso destas áreas por categorias animais mais exigentes, mesmo em condição de estresse hídrico. Enquanto isso outras áreas da propriedade serão, de certa forma, ‘’penalizadas’’ pela necessidade de realização de um pastejo mais intenso dos animais de categorias menos exigentes.
Vale ressaltar que aqueles produtores que nos seus planejamentos incluíram a irrigação terão mais uma estratégia para buscar garantir forragem para a alimentação do rebanho. Embora a irrigação possa ocasionar incremento na produtividade em períodos de estiagem, esta é uma ferramenta que encarece o sistema. Assim, se torna imprescindível a utilização da irrigação de forma eficiente. Isso porque o manejo inadequado tem sido apontado como uma das principais causas do insucesso do uso da irrigação em sistemas de produção. Dessa maneira, o conhecimento aprofundado das plantas forrageiras e do seu manejo se mostram fundamentais e devem caminhar juntos com o manejo da irrigação.
Dentro desse enfoque, recentes estudos na Embrapa Pecuária Sul vêm sendo conduzidos visando acompanhamento do crescimento e desenvolvimento de plantas forrageiras e as suas respostas à umidade do solo, a fim de orientar o momento e a quantidade adequada de aplicação de água, via irrigação, em pastagens. De forma prática a altura do pasto é uma ferramenta de acompanhamento de crescimento das plantas e o tensiômetro é um equipamento barato e de simples utilização, orientando o momento apropriado para a irrigação das plantas.
Este fato reforça a ideia de que ao se pensar na irrigação como alternativa de enfrentamento a possíveis estiagens, o seu uso precisará ser trabalhado de forma conjunta com os demais componentes do sistema de criação de animais a pasto, e assim poder gerar benefícios reais à atividade em anos como este sob efeito do fenômeno La Niña.
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