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Não se pode negar o papel que a tecnologia agrícola representa na escalada da sociedade moderna, mas também é importante refletir sobre qual o papel que a agricultura representa no desenvolvimento humano e nas outras formas de vida. Da mesma forma devemos reconhecer que na sua essência a agricultura se desenvolveu diante da necessidade de produzir alimentos, erradicar a fome e a pobreza do mundo. Porém, devemos reconhecer que apesar de recordes de produtividade até os dias de hoje estamos longe de resolver estas questões.

A fome que estamos tratando não é aquela que a gente sente antes da refeição diária, mas aquela relacionada com a falta de alimento disponível para as pessoas, nas cidades, estados ou em países. Trata-se da falta de comida ou da impossibilidade de se conseguir o acesso, ou incapacidade de comprar seus alimentos.

Como o alimento está relacionado com a economia, a fome fica vinculada à miséria do povo e assim boa parte dos cidadãos sofre com maior ou menor intensidade. Fato é que milhões de cidadãos passam fome no mundo.

Buscando um maior entendimento, estudiosos classificam a fome em dois tipos: A fome oculta e a fome aberta.

A fome oculta tem origem na subnutrição. É a fome das pessoas que não conseguem ter acesso à comida de qualidade e a quantidade é insuficiente para garantir as necessidades básicas de nutrientes ao organismo.

A fome aberta tem origem na miséria graças à falta de alimentos em função de uma situação específica do local. Pela seca, pela guerra ou pela segregação humana. Em ambos os casos, as pessoas que não conseguem consumir 2500 calorias diárias, segundo a Organização Mundial da Saúde, passam fome.

Olhando para a situação das médias e grandes cidades brasileiras não difícil perceber a fome ocorrendo em muitos lugares da localidade, principalmente naquelas enfraquecidas economicamente. Normalmente é possível perceber sinal da fome nas periferias e ruas. Muitas crianças e idosos possuem pouco acesso à comida e visivelmente apresentam sinais clássicos da fome com a debilidade corporal.

Sabemos que não existe um consenso sobre como resolver o problema da fome nas cidades do mundo. Algumas iniciativas tiveram sucesso mas outras fracassaram. É certo que combater as desigualdades sociais e econômicas com melhor distribuição de renda ameniza o problema, mas não o elimina. Parece que desigualdades humanas são características do processo civilizatório de todas as nações e isso dificulta a resolução definitiva do problema.

Analisando a fome nas médias e grandes cidades acreditamos que é possível diminuir ou erradicar o problema restabelecendo uma ‘nova política de abastecimento”. O modelo atual concentra alimentos em grandes centrais de distribuição que repassam em sua maioria para serem ofertados em supermercados e quitandas. O cidadão da periferia tem que atravessar a cidade para fazer a “compra” do mês. Normalmente os produtos hortifrutigranjeiros são consumidos logo na primeira semana gerando um déficit de qualidade nutricional de 23 dias. Um desafio viável para resolver essa crônica realidade é valorizar efetivamente o agricultor local e desenvolver uma política de abastecimento com bases na organização comunitária. A produção de alimentos na cidade é, e sempre será, fundamental para garantir a qualidade dos produtos e desenvolver a economia local. A organização comunitária para o abastecimento passa por entender assertividade na chegada do alimento na mesa do consumidor todos os dias. A organização em torno do abastecimento de um coletivo gera demanda direta, constante e conhecida, garantindo ao agricultor o planejamento da produção e poder de venda.

Uma “nova política de abastecimento” pode delinear princípios para o desenvolvimento de soluções mais específicas e adaptáveis às realidades locais. Tem-se também a certeza de que o combate à fome e a pobreza nas média e grandes cidades pode ter significativos avanços definindo objetivos mais claros para abastecer a população e organizando o fomento para valorizar e desenvolver a agricultura da cidade.

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