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Feijão é o nome genérico para um grande grupo de plantas da família das leguminosas (Fabaceaes), que tem como característica marcante a ocorrência do fruto do tipo legume, também conhecido como vagem. Entre a família das leguminosas, as principais espécies de feijão cultivadas no Brasil são Phaseolus vulgaris – ou feijão comum; Vigna unguiculata – também conhecido como feijão-caupi, vigna ou feijão-de-corda; Canavalia ensiformis – popularmente referido como feijão-de-porco, e; Cajanus cajan – conhecido como feijão-guandu. O feijão comum, objeto deste texto, constitui a base da dieta alimentar no Brasil por ser uma fonte, relativamente barata, e rica em proteínas, ferro e carboidratos. O consumo médio estimado de feijão é cerca de 15 kg/brasileiro/ano. Já a preferência do consumidor é regionalizada e diferenciada principalmente quanto à cor e ao tipo de grão.

No Mato Grosso, o feijoeiro comum é cultivado nas três safras (1ª safra ou das chuvas, 2ª safra ou safrinha ou da seca, 3ª safra ou irrigada), destacando-se a segunda e terceira safras com aumento significativo da área cultivada (e da produção) nos últimos três anos agrícolas.

Apesar da pouca relevância econômica, a primeira safra tem elevada relevância social no Estado, pois é cultivada, notadamente, pela agricultura familiar (assentados na sua maioria), constituindo numa excelente fonte de proteínas e, também, de renda pela comercialização regional da sua produção excedente. A área cultivada na safra tem sofrida pouca alteração nos últimos três anos agrícolas, girando em torno de 11 mil hectares (10.800 ha na safra 2014-15). Decorrente das condições climáticas desfavoráveis (temperaturas elevadas e excesso de chuvas) e da baixa tecnologia empregada (adubação e tratos culturais deficitários, uso de grãos como sementes), a produtividade média alcançada no ano agrícola 2014-15 foi de 1.570 kg/ha (26,2 sacas/ha), dentro do esperado para este cultivo (1.550 kg/ha). Infelizmente, em função das condições climáticas desfavoráveis e da inexistência de materiais genéticos no mercado adaptados para tais, a potencialidade deste cultivo deverá continuar limitada para a maioria das áreas produtoras do Mato Grosso a curto e médio prazo.

A área cultivada na 2ª safra (safrinha) com feijoeiro comum no Mato Grosso tem aumentada consideravelmente, notadamente nos últimos cinco anos agrícolas, atingindo cerca de 60 mil hectares em 2015. A região do médio norte tem destacado neste cultivo com mais da metade dessa área plantada. Apesar de ser praticada, na sua maioria absoluta, pela agricultura empresarial (sojicultores altamente tecnificados), a intensidade do uso de tecnologias neste cultivo depende muito da expectativa de preço vislumbrada pelo mercado, notadamente o paulista (“Bolsinha de São Paulo”), transformando-o numa oportunidade de negócios de 2ª safra, concorrendo diretamente com milho, feijão-caupi e algodão. Este fato aliado á restrição pluviométrica da época tem limitado a produtividade deste cultivo em torno de 1.300 kg/ha (21,6 sacas/ha), resultado obtido na safrinha de 2015. Todavia, já foi conseguido em áreas comerciais nos anos de 2014 e 2015, com uso mais intenso de tecnologias, produtividades variando entre 2.100 a 2.400 kg/ha (35 a 40 sacas/ha), evidenciando o potencial deste cultivo para o médio-norte e norte do estado mato-grossense.

Como se trata de um cultivo de oportunidade, onde os produtores mato-grossenses teriam condições de ofertar feijão “novo” (recém-colhido) em pleno período da seca (maio a agosto), é imprescindível que os mesmos armazenem seu produto previamente limpo em sua propriedade e o venda no melhor momento do mercado. Isso exige que o material plantado mantenha sua cor branca (feijão carioca) por um longo tempo (pelo menos seis meses) após a colheita para não perder valor de mercado.

Até 2014, os produtores tinham praticamente dois materiais que atendiam esse quesito, sendo um deles “crioulo” que, apesar de ser o mais cultivado na região, apresenta uma série de desafios agronômicos para os mesmos. A partir de 2014, empresas privadas incentivadas e apoiadas pela Embrapa, passaram a testar e validar outros materiais com essa característica para o médio-norte e norte do Mato Grosso. Dentre os vários materiais testados, a cultivar BRSMG Madrepérola, lançado em 2012 pela parceria Embrapa-Epamig-UFLA, destacou-se tanto nos cultivos de safrinha quanto de 3ª safra (irrigado) para a região médio-norte do Mato Grosso. A validação deste novo material aliado ao incremento no uso de tecnologias e aos bons preços obtidos pelo feijão colhido nas últimas safrinhas tem gerado boas expectativas com relação ao aumento da área e da produção deste cultivo no Mato Grosso para os próximos anos, notadamente para as regiões do médio-norte e norte do estado, mais favoráveis a este cultivo. Muito possivelmente, dentro do médio prazo, o estado deverá ultrapassar o patamar dos 100 mil hectares cultivados na safrinha.

O cultivo do feijão irrigado (3ª safra), realizado pela agricultura empresarial (sojicultores e cotonicultores), empregando alta tecnologia, tem sua área aumentada ano após ano no Mato Grosso, notadamente nas regiões sul e médio-norte do estado. Segundo levantamento da Agencia Nacional de Águas (ANA, 2013), o estado contava com mais de 67 mil hectares sob pivôs centrais dos quais, pelo menos, 60 mil hectares eram ocupados pelo cultivo do feijoeiro comum (Associação dos Irrigantes do Mato Grosso, 2015 – informação pessoal). Infelizmente devido, principalmente, a limitação de temperatura, a produtividade média do feijoeiro comum irrigado no Mato Grosso foi de 2.449 kg/ha (40,8 sacas/ha) no ano de 2015, próximo da média dos últimos três anos agrícolas (2.400 kg/ha ou 40 sacas/ha).

De forma semelhante ao ocorrido com o cultivo de safrinha, diversas áreas comerciais de pivô central implantadas com o material BRSMG Madrepérola em 2015, na região do médio-norte mato-grossense, teve uma elevação significativa na sua produtividade. Esta, em alguns casos, ultrapassou os 3.300 kg/ha (55 sacas/ha), atingindo os mesmos patamares das regiões tradicionais de produção de feijão irrigado dos estados de Goiás e Minas Gerais. Estes resultados, ainda que num primeiro ano de validações de tecnologias, mostraram-se muito promissores, revelando o grande potencial que o médio-norte e norte do Mato Grosso possuem para a produção do feijoeiro comum irrigado (ainda falta testar e validar esse material para outras regiões produtores de feijão comum do estado). Na região norte do estado (Bioma Amazônia), com a limitação legal do uso da área na propriedade em 20%, é fundamental intensificar o uso da terra de forma sustentável.

O feijoeiro comum irrigado é uma das opções promissoras para o uso da terra no período da seca, pois tem grande potencial produtivo e nem a água e nem a energia elétrica para irrigação serão fatores limitantes na região. Nestas áreas irrigadas podem ser utilizados diferentes sistemas de produção agrícola sustentável. O sistema com soja na safra, arroz na safrinha e feijoeiro comum irrigado na terceira safra seria um bom exemplo. Outra opção que também pode ser usada é a entrada do feijoeiro comum irrigado em terceira safra após a sucessão soja-milho. Neste último caso, o uso da braquiária em consórcio com o milho teria papel importante na formação de palhada para o feijoeiro, além de incrementar matéria orgânica no solo. Ainda o sistema formado por soja na safra, consórcio milheto com braquiária na safrinha e feijoeiro comum irrigado na terceira safra seria outro bom exemplo.

Em áreas com problemas de nematoides, o milheto poderia ser substituído por crotalárias no consórcio com a braquiária. Independentemente do sistema utilizado, é necessário respeitar a “janela” de semeadura do feijoeiro comum irrigado definida, para o médio-norte e norte mato-grossense, entre meados de maio e meados de junho. Isso para se evitar o enchimento de grãos em agosto e a colheita dos mesmos já no início do período chuvoso. Além de prejudicar a qualidade do produto, esse atraso aumentaria o período com planta viva no campo, formando uma ponte verde para pragas e doenças entre a 3ª safra e a 1ª safra do ano agrícola seguinte.

Independentemente do cultivo, em função da logística desfavorável do estado e da distancia do mesmo aos grandes centros consumidores, somado a volatilidade e imprevisibilidade do mercado comprador, é imprescindível que os produtores mato-grossenses utilizem as melhores estratégias de comercialização para viabilizar economicamente a cultura no Mato Grosso. Assim, a utilização de materiais genéticos de feijoeiro comum com retardamento do escurecimento dos grãos após a colheita e existência de uma infraestrutura básica de pré-limpeza e armazenamento dos mesmos na propriedade rural é tão ou mais relevante do que os melhores tratos culturais para viabilizar economicamente a cultura do feijoeiro comum mato-grossense.

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Patrícia Campos
19/09/2016 - 17:24
Qual a fonte para os dados de área e produção declarados ao longo do texto.

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