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O Iapar lançou na sexta-feira (1º) a cultivar IPR Celeiro, de feijão carioca. Resultado de mais de 40 anos de pesquisas, a nova variedade pode ser considerada um marco na história de conquistas do Instituto por sua tolerância ao mosaico dourado – uma das principais doenças do feijão, responsável por inviabilizar lavouras Brasil afora.
A resistência da cultivar de feijão carioca IPR Celeiro ao mosaico dourado é do tipo horizontal ou parcial, ou seja, as plantas podem ser infectadas pelo vírus, porém, reagem com sintomas fracos da doença, com danos reduzidos. Desenvolvida pelos métodos tradicionais de melhoramento genético (sem transgenia), seu lançamento promete inaugurar um novo panorama no cultivo nacional de feijão, visto que é indicada para plantio na safra de outono/inverno (3ª safra), para as regiões de ocorrência do mosaico dourado, de acordo com o zoneamento agrícola estabelecido pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa).
Segundo o pesquisador Anésio Bianchini, responsável pelo desenvolvimento da IPR Celeiro, a cultivar é um componente essencial ao sistema de cultivo para viabilizar o plantio do feijão nas áreas afetadas pelo mosaico dourado. Isso significa a possibilidade de retorno de uma excelente alternativa de cultivo, altamente lucrativa em curto espaço de tempo, pós-culturas de verão (plantios de fevereiro – abril).
“Em caso de manutenção de preços atrativos, prevê-se a possibilidade de, em poucos anos, um aumento de plantio em uma área superior a 100 mil hectares apenas no estado do Paraná, onde cerca de 200 mil hectares estão sujeitos a ocorrência da doença. Se houver uma expansão das fronteiras de mercado, como industrialização do feijão ou exportação, essa área poderá ser muito maior”, estima Bianchini.
No contexto nacional, cuja área atingida pelo mosaico dourado pode superar a 1,5 milhão de hectares, a Celeiro também poderá contribuir para o aumento da produção, colaborando com o retorno do cultivo do feijão nos demais Estados na época de ocorrência da virose. A indicação da IPR Celeiro em nível nacional, no entanto, depende da extensão de recomendação a partir dos testes que estão sendo realizados com essa finalidade.
Inimigo do feijoeiro
O mosaico dourado é uma das doenças viróticas de maior importância que podem ocorrer na cultura do feijoeiro comum. Causado pelo vírus BGMV (Bean Golden Mosaic Vírus), transmitido pela mosca branca (Bemisia tabaci), é o mais prejudicial à cultura nas regiões de clima tropical.
O mosaico dourado é limitante à produtividade do feijoeiro no período de janeiro a abril – safras da seca e de outono-inverno – nas regiões mais quentes, onde ocorrem temperaturas acima de 30ºC durante o ciclo da cultura.
Ao norte, noroeste, centro-oeste e oeste do Paraná e nos demais estados – com exceção do Rio Grande do Sul e Santa Catarina –, os índices de infecção das plantas são superiores a 80%, gerando perdas equivalentes na produção. Considerando o que se perde em peso e também na qualidade de grãos, o prejuízo pode ser de 100%. Nos estados das regiões Sudeste, Centro-oeste, Central e Nordeste do Brasil, onde o plantio do feijão se estende até maio ou junho, o período crítico da doença também é mais amplo.
Os sintomas mais característicos causados pelo BGMV são: o mosaico constituído por salpicamento amarelo intenso, deformações e redução das folhas e da planta. A intensidade e tipos dos sintomas podem variar de acordo com a cultivar de feijão, população de mosca branca portadora do vírus, idade da planta no momento da infecção, isolados do vírus ou infecção mista do BGMV com outras espécies de vírus.
Quando ocorre infecção com diferentes isolados ou espécies de vírus, no início do crescimento das plantas, ocasiona redução drástica no seu desenvolvimento, excesso de brotações anormais e abortamento total das flores. Esses sintomas, denominados de nanismo ou superbrotamento, constituem o que se classifica de forma severa da virose.
Pesquisa e determinação
Bianchini está à frente das pesquisas sobre mosaico dourado desde sua admissão no Iapar, em 1976. “Em virtude de não haver nenhuma outra medida eficiente, já que o mosaico dourado não tem controle químico, a opção sempre foi desenvolver uma variedade resistente à essa virose”, explica o pesquisador, que é nascido em Ibiporã , no norte do Paraná, e filho de agricultor. Seu pai, inclusive, plantava feijão e também sofria com o mosaico dourado. “Antes mesmo de me formar agrônomo já botei na cabeça que tinha que resolver esse problema”, lembra.
Além da característica relevante de resistência moderada ao mosaico dourado, a IPR Celeiro se destaca também pelo porte ereto, favorecendo a colheita mecânica direta e pela excelente qualidade comercial e culinária. O tempo de cozimento é de 22 minutos, assemelhando-se à média das demais cultivares.
De acordo com a projeção do pesquisador Anésio Bianchini, as primeiras sementes da IPR Celeiro chegarão aos produtores, principalmente aos multiplicadores de sementes, em 2017, já para a safra de outono-inverno, época de ocorrência do mosaico dourado. Prevê-se um atendimento aos produtores, em maior escala, na safra da seca e de outono-inverno de 2018.
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