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Ivan Marinović Brsćan, Embrapa Tabuleiros Costeiros
14/06/2016
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Produtividade acima da média nacional, proximidade do porto para exportação, demanda do mercado local e possibilidade de rotacionar a soja com o milho, diversificando as culturas no estado, evitando risco de comercialização de um só produto e diminuindo a proliferação de pragas e doenças. Essas são apenas algumas das vantagens das variedades de soja testadas pela Embrapa Tabuleiros Costeiros e validadas para a região que fazem do estado um grande polo competitivo para os produtores interessados em plantar soja, tanto em Sergipe quanto nos estados vizinhos, Alagoas e Bahia.
A VLI, empresa administradora do Porto de Sergipe, no fim de 2015, carregou um navio com 32 mil toneladas de soja provenientes do Município de Luiz Eduardo Magalhães no oeste baiano, que percorreu 1.200 quilômetros até chegar ao litoral. Foi o quinto navio com o produto, dessa vez com destino à Rússia. "Produtores de Sergipe, Alagoas e nordeste da Bahia podem exportar a soja produzida de uma distância muito menor, em um raio em torno de 300 quilômetros do porto", disse o gerente da VLI, Valdeilson Paiva. "A soja é uma commodity com grande mercado internacional, e Sergipe precisa aproveitar essa potencialidade", complementa.
"Constatei o drama de levar a soja de Mato Grosso até o porto de Paranaguá, no Paraná. O caminhão roda até dois mil quilômetros", conta o pesquisador da Embrapa Sérgio de Oliveira Procópio, que, desde 2013, avaliou mais de 70 cultivares de soja nas condições de solo e clima dos Tabuleiros Costeiros e Agreste.
"O agricultor do estado teria uma vantagem econômica de cerca de R$ 10,00 por saca pela proximidade do porto de Sergipe, pois quem paga o frete é o produtor. Se considerar a média nacional de produção do grão de aproximadamente três mil quilos por hectare, seriam 50 sacas, ou seja, R$ 500,00 por hectare, só de vantagem do frete", explica.
E as vantagens competitivas não param por aí. De acordo com o pesquisador, a época de plantio e colheita diferenciada em relação às demais regiões produtoras de soja no Brasil é muito favorável para o estado. Enquanto no Centro-Sul (RS, SC, PR, SP, GO, MT e MS) a colheita ocorre no fim de janeiro até fim de março, a da nova fronteira agrícola denominada Matopiba (que compreende o Maranhão, Tocantins, Piauí e o oeste da Bahia) ocorre de março a maio. Em Sergipe, pode ocorrer entre fim de agosto e início de outubro. "É uma vantagem muito grande. A soja pode ser colhida na época em que os produtores no resto do País estão plantando, tornando-a mais competitiva inclusive no mercado internacional", comemora o pesquisador.
Fornecedor de sementes
Enquanto nas demais regiões do Brasil o cultivo da soja é de primavera-verão, em Sergipe é de outono-inverno, favorável ao desenvolvimento da planta, pois o gasto de fotoassimilados (compostos resultantes da fotossíntese) pelas plantas de soja em noites mais frias é menor.
Sergipe pode ser ainda fornecedor de sementes de soja para outras regiões do Brasil, pois é possível colher a soja destinada à semente no final de agosto até o começo de setembro, no momento em que os produtores das demais regiões do País precisam de sementes de boa qualidade. "Eles teriam uma semente ‘fresquinha', de alta qualidade, do tipo premium com 90% de germinação e 80% de vigor, mais cara", disse. Apesar de o custo de produção ser maior em Sergipe, devido aos cuidados fitossanitários, o preço de venda compensa, ressalta Procópio.
Há ganhos também no sentido inverso. Sergipe se beneficia das sementes disponíveis na pós-colheita do resto do País, que chega ‘fresquinha', no momento do plantio na região, em maio. O pesquisador ressalta que, para o cultivo da soja, isso é muito importante, pois ela tem 21% de teor de óleo e necessita de condições especiais de armazenamento, em temperatura baixa e, ainda assim, seu vigor vai caindo. "Uma semente colhida em abril e plantada em maio é de altíssima qualidade fisiológica", diz o pesquisador.
Pode-se destacar ainda a vantagem competitiva da proximidade com bacias leiteiras importantes como Batalha, em Alagoas, Nossa Senhora da Glória, em Sergipe e Garanhuns, em Pernambuco. Toda produção animal necessita de complemento energético, o milho, mas também de complemento proteico, a soja, que possui aproximadamente 40% de proteína. Hoje, o farelo de soja vem do Maranhão e do oeste da Bahia. Há também a produção de aves, que demanda farelo de soja, tanto em Sergipe como também em Alagoas, Pernambuco e Ceará. Para cada frango abatido, necessita-se em média de 3,4 kg de milho e 1,39 kg de farelo de soja.
Além disso, boa parte da produção de biodiesel no Brasil vem do óleo de soja, e existem duas empresas de beneficiamento do óleo próximas, uma em Candeias, na Bahia, e outra em Quixadá, no Ceará. "O produtor de soja em Sergipe não vai depender de apenas um comprador. Ele terá um leque de opções", constata o pesquisador.
Condições de plantio em Sergipe
Há um "núcleo de chuva" com regularidade entre 10 de maio e 20 de agosto na região, e a soja tem que ser posicionada dentro desse intervalo. Após três anos de ensaios, Sérgio Procópio acredita que o período de plantio tem que começar após 10 de maio, já que o enchimento dos grãos deve acabar em 20 de agosto. A colheita deve começar depois de 25 de agosto, para evitar problemas de chuva na colheita.
No Agreste é outra história. Em 2013, no campo experimental da Embrapa em Frei Paulo (SE), a produção variou de 4 a 5 mil quilos por hectare (a média nacional é de 3 mil kg/ha). "Há regiões em Sergipe com solos muito ricos, como Carira, Frei Paulo, Pinhão, Simão Dias, Paripiranga, Pedra Mole e Macambira, além de alta fertilidade e temperatura noturna baixa. Com isso, a altura da planta chega a 90 cm", afirma o pesquisador. Nesse caso, acontece o acamamento – no momento de colher, a planta está deitada. "É ruim. Foi uma surpresa enorme", disse.
É comum, entre os produtores de soja de outras regiões do País, dizerem que para uma boa produtividade é preciso chover mais de 400 mm. Mas pesquisas da Embrapa Tabuleiros Costeiros constataram que Sergipe produz soja com altas produtividades no outono-inverno com 300 mm de chuva, devido à menor evapotranspiração. "Não é uma soja de primavera-verão, onde a demanda hídrica é maior", constata o pesquisador.
Gargalos
São muitas as vantagens para o plantio de soja em Sergipe, mas o pesquisador Sérgio Procópio enumera também os gargalos. "Uma variedade de soja produzida em Umbaúba (Tabuleiros) não serve para ser produzida em Frei Paulo (Agreste). São regiões próximas, mas com condições de clima e solo completamente diferentes. É preciso avaliar", adverte.
Ele explica que é preciso dividir Sergipe em duas regiões distintas: a dos Tabuleiros Costeiros e a do Agreste. O problema é que, em várias áreas dos Tabuleiros Costeiros, a presença de camada adensada, coesa, nos argissolos, aliada às precipitações intensas, dificulta a drenagem da água, podendo causar encharcamento superficial. "Isso é péssimo para a soja, aliás, para a maioria das culturas agrícolas", diz.
O encharcamento causa redução do crescimento das plantas, perda de produtividade, morte de raízes e das bactérias do gênero Rhizobium, que proveem a soja com nitrogênio. "O agricultor tem que escolher áreas com boa drenagem. Se não tem, é preciso realizar práticas mecânicas para quebrar essa compactação e facilitar a drenagem", recomenda Procópio.
O residual de herbicidas, como o picloram, tebutiuron, amicabazone, entre outros, utilizado por pecuaristas e produtores de cana-de-açúcar também pode dificultar a atividade, pois é preciso esperar até três anos para proceder ao cultivo de soja nessas áreas.
Outro problema que o produtor terá que enfrentar está na proximidade que as vagens alcançam do solo. O ideal é que elas estejam 12 cm acima da superfície. Caso estejam mais baixas, a barra de corte da colhedora terá que trabalhar muito próxima da superfície, algo que não é de costume para quem trabalha com milho, cultura em que não é feito um bom nivelamento do solo, pois a espiga de milho fica em uma posição mais alta, muito mais cômoda para colher. "É normal a perda de uma saca de soja por hectare por esse motivo. A média do Brasil é de duas sacas", ressalta o pesquisador.
Zoneamento Agrícola
Uma dificuldade extra que até o momento impede o desenvolvimento da soja em Sergipe é a não inserção da cultura no programa de Zoneamento de Risco Climático do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), condição essencial para que o produtor possa obter empréstimo bancário, seguro rural e subvenções federais.
O Zoneamento é um instrumento elaborado a partir de metodologia definida pela Embrapa, com o objetivo de minimizar os riscos relacionados aos fenômenos climáticos e permite a cada município identificar as culturas e a melhor época de plantio, nos diferentes tipos de solos e ciclos de cultivares.
A pesquisadora da Embrapa Tabuleiros Costeiros Ana Alexandrina Gama tem discutido com outros centros de pesquisa da Embrapa uma metodologia do zoneamento da soja para Alagoas e Sergipe. "Acreditamos que a inserção aconteça ainda no início do próximo ano, 2016", acredita ela. Após um período de discussões e articulações com setor produtivo e autoridades agrícolas locais, a Embrapa finalizou a nota técnica para o Zoneamento Agrícola de Risco Climático para a Soja em Sergipe e Alagoas. O documento já foi recebido pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento e está em fase de ajustes finais para a publicação das portarias. A pesquisadora Ana Gama, agrometeorologista da Embrapa Tabuleiros Costeiros (SE) e integrante da equipe de Zoneamento da Embrapa, participou dos trabalhos de análise dos dados e parâmetros de clima e solo de cada município, além dos ciclos de cultivares de soja para os dois estados.
Com a soja inserida no Zoneamento Agrícola em regiões dos dois estados, os agentes financeiros estarão autorizados a conceder empréstimos e seguro rural, possibilitando o impulso da soja na região.
Pragas e doenças
A Embrapa realizou também levantamento das pragas que podem ocorrer na lavoura de soja, como lagartas, percevejos e coleópteros desfolhadores. Os pesquisadores identificaram todos os espécimes e vêm definindo as melhores formas de controle para a região.
O controle das pragas e doenças da soja já é bem conhecido entre os produtores tradicionais e pesquisadores recomendam o monitoramento constante das áreas de produção. "Deve-se evitar o uso de inseticidas que eliminam os inimigos naturais de pragas, como os piretroides", afirma o pesquisador da Embrapa Tabuleiros Costeiros Adenir Teodoro.
"Além disso, existem os produtos biológicos, como Baculovirus, Beauveria bassiana e Metharizium anisoplia. Outra alternativa é inundar o campo com inimigos naturais, como a minúscula vespa Trichogramma, que parasita os ovos das lagartas", complementa o pesquisador. Outro fator favorável ao cultivo da soja é a possibilidade de ser cultivada no sistema de plantio direto, evitando o revolvimento do solo e a utilização de arados e grades.
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