Ensilagem é o meio de conservar as plantas colhidas verdes em estado úmido, via processos fermentativos, mantendo seu valor nutritivo. Embora a abordagem aqui seja silagem de milho, outras plantas como o capim-elefante, capim-mombaça, capim-tanzânia, sorgo, parte aérea das plantas de mandioca, além de grãos úmidos, podem ser ensilados. A silagem é uma alternativa para garantir a alimentação do rebanho durante a época seca do ano, quando o pasto não supre as necessidades nutricionais dos animais. Deve ser utilizada preferencialmente para as vacas leiteiras, no período de lactação.
O processo de produção de uma silagem de qualidade envolve diversas etapas, podendo ser sumarizadas em dez passos, iniciando com a escolha da área para construção dos silos, que devem ser o mais próximo possível do local de alimentação dos animais. Além disso, a topografia e geometria do terreno devem ser adequadas às operações de mecanização e manejo cultural e o solo apresentar boa fertilidade. Solos de textura média, com teores de argila em torno de 30%–35%, com boa estrutura, como os Latossolos, que possibilitam drenagem adequada e apresentam boa capacidade de retenção de água e de nutrientes disponíveis às plantas, são os mais recomendados para a cultura do milho.
Escolhido o local, o segundo passo é a seleção da semente a ser utilizada no plantio. Essa escolha vai depender do nível tecnológico do produtor. Aqueles que possuem maior poder aquisitivo ou desejam utilizar materiais de maior produtividade e potencial genético podem utilizar sementes híbridas. No Estado do Acre os híbridos de milho mais cultivados são AG 1051 (Agroceres), 2B655PW e 2B655HX (Biomatrix). Em propriedades rurais com menor nível tecnológico, recomenda-se o uso de variedades convencionais como a BR 106, lançada pela Embrapa. Desde o seu lançamento comercial, em 1985, o milho BR 106 vem sendo geneticamente melhorado, por meio de ciclos de seleção que proporcionam ganhos em uniformização de plantas, empalhamento de espigas e, principalmente, na produtividade de grãos.
Sendo uma variedade, o milho BR 106 é mais rústico, possui menor custo de semente, apresenta boa estabilidade de produção e adaptabilidade a todas as regiões brasileiras, resistência ao acamamento e ao ataque das principais pragas. Por tudo isso, é um milho de baixo custo/kg de semente e acessível a todos os produtores brasileiros, independente do seu nível tecnológico, econômico ou social. Essa variedade também é utilizada pelas empresas de melhoramento de milho híbrido, como fonte na obtenção de linhagens, e apresenta recomendações tanto para produção de grãos quanto para silagem.
Selecionada a semente, o terceiro passo é o plantio, etapa que deve ser realizada de acordo com recomendações técnicas para o tipo de semente selecionada, observando-se a época de plantio, espaçamento, recomendações de calagem, adubação e o ciclo da planta.
O quarto passo, de suma importância para a qualidade da silagem, é a identificação do ponto de colheita. A melhor época é aquela em que os grãos apresentam de 30% a 35% de umidade. Nesse momento é possível marcar o grão com a unha e, ao esmagá-lo, esfarela entre os dedos e não solta leite. Os técnicos costumam chamar esse ponto de R4-R5 (fase reprodutiva 4 a 5) e entre os produtores é conhecido por ponto de pamonha. Nas condições ambientais do Acre, o ponto de colheita dos híbridos mais utilizados ocorre por volta de 95 dias após o plantio.
Identificado o ponto de colheita, o passo seguinte é a colheita do material a ser ensilado, que pode ser manual ou mecanizada, dependendo da escala de plantio. Para colheitas tratorizadas, recomenda-se atenção às facas da colheitadeira, visto que lâminas cegas ocasionam perdas no processo de ensilagem e sérios problemas no momento da compactação do material colhido.
O sexto passo envolve a escolha do tipo de silo a ser confeccionado. Existem diversas opções, desde o silo tipo superfície (mais comum) e silo trincheira (que exige a construção de estruturas em alvenaria), até silos dos tipos bag e salsicha, que incluem máquinas específicas e embalagens plásticas. Também são construídos silos em caixas-d’água, buracos escavados na terra e recobertos com lona, em baldes plásticos e estruturas em madeira, entre outros tipos. O importante é manter o material picado, bem compactado e livre de oxigênio.
Selecionado o tipo de silo, o sétimo passo trata do seu dimensionamento. As dimensões do silo dependem do número de animais a serem alimentados e do tempo (em dias) de suplementação e a sua capacidade de armazenagem relaciona-se diretamente com o tipo de estrutura. Sabe-se que em um silo tipo superfície é possível armazenar até 400 kg de silagem/m³ de silo. Já em um silo trincheira, devido às condições mais favoráveis de compactação, é possível armazenar até 650 kg/m³. Um silo trincheira de 20 m x 4 m x 1,5 m (comprimento, largura e altura) pode ser concluído em apenas um dia e pode armazenar até 78 toneladas de silagem (densidade 650 kg/m³) e alimentar até 20 vacas durante 120 dias.
Dimensionado o silo, o próximo passo é o seu enchimento, procedimento que deve ser realizado em um único dia, embora em muitos casos dure até três. Para o enchimento de silo tipo superfície, recomenda-se que o trator inicie a compactação no sentido do comprimento e finalize no sentido da largura do silo, enquanto o silo do tipo trincheira deve ser cheio no sentido do comprimento, observando que as camadas do material ensilado não devem ser superiores a 30 cm e que a compactação deve ser feita no formato de pirâmide (Figura 1).
Figura 1. Vistas frontal e lateral de um silo tipo trincheira. Detalhe para o sentido do trator e espessura das camadas de material a ser ensilado
Na vedação do silo, nono passo do processo de ensilagem, recomenda-se utilizar lona plástica com espessura superior a 200µ e dar preferência para as lonas com face branca, deixando sempre esse lado para cima, de forma que o sol possa ser refletido para evitar o superaquecimento do silo. Orienta-se, também, cavar uma vala ao redor do silo, na qual devem ser enterradas as bordas da lona, para favorecer a vedação. Além disso, colocar uma fina camada de terra e capim sobre o silo reduz a quantidade de ar entre a lona e o material ensilado e ajuda a proteger a superfície do silo.
Para finalizar, tem-se a abertura do silo, procedimento que nunca deve acontecer antes de 30 dias do seu fechamento. O mais recomendado é que seja aberto após 60 dias. Silos bem vedados podem permanecer fechados por meses, até anos. Após a abertura, deve-se retirar apenas a quantidade de silagem suficiente para o uso diário. Por isso, é importante estabelecer uma fatia diária de uso, a qual não deve ser inferior a 20 cm. Após sua retirada, deve-se vedar novamente, para proteger o painel.
A silagem deve ser fornecida às vacas em lactação, com produção diária média superior a 8 kg de leite/dia. Não custa lembrar que esse é um dos volumosos mais nobres e mais caros, devendo, portanto, ter seu uso criteriosamente avaliado quanto à relação custo-benefício.
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