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Embrapa Cerrados
29/01/2014
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Na semana passada, a Caravana Embrapa de Alerta às Ameaças Fitossanitárias percorreu mais um roteiro, dessa vez em Balsas (MA) no dia 21, e em Bom Jesus (PI), no dia 23. A principal mensagem deixada pelos pesquisadores foi a importância do manejo integrado de pragas (MIP) com foco no agroecossistema da região, e não apenas em culturas ou propriedades de maneira isolada.
O MIP é o sistema de manejo de pragas que associa o ambiente e a dinâmica populacional da praga. Utiliza todas as técnicas apropriadas, de forma tão compatível quanto possível, de modo a manter a população da praga em níveis abaixo daqueles capazes de causar danos econômicos.
Em Balsas, cerca de 80 técnicos e consultores rurais acompanharam, no auditório da Unibalsas, as apresentações sobre as ameaças fitossanitárias, conceitos sobre o MIP, controle químico, tecnologia de aplicação e controle biológico. Também foram mencionadas as ações que a Embrapa tem realizado sobre Helicoverpa armigera e outras pragas do agroecossistema. No campus da Universidade Federal do Piauí (UFPI), em Bom Jesus, mais de 200 pessoas, entre produtores, técnicos e estudantes de cursos de ciências agrárias assistiram às apresentações dos pesquisadores da Embrapa. Em seguida, foram promovidos debates e os participantes puderam fazer perguntas aos palestrantes.
Palestras
O coordenador da Caravana, Sérgio Abud, da Embrapa Cerrados (Planaltina, DF), fez um panorama das ameaças fitossanitárias no Brasil e apresentou informações sobre a biologia, a bioecologia, a importância econômica e a identificação da H. armigera. A praga já levou o Piauí e outros Estados de outras regiões a decretar estado de emergência fitossanitária em virtude do alto poder de destruição de diversas culturas. “Se o produtor não tiver cuidados iniciais com a presença da praga e com o manejo da lavoura ao longo do ano, acaba tendo problemas. É muito importante manter o equilíbrio agroecológico para evitar que isso aconteça”, disse, acrescentando que a Embrapa retomou o MIP, com todas as ferramentas disponíveis.
As bases e os pilares do MIP foram apresentadas pelo pesquisador Fábio Aquino, da Embrapa Algodão (Campina Grande, PB). Ele destacou a importância do monitoramento das lavouras para a tomada de decisão de manejo. “Pensar no manejo da H. armigera e das outras pragas não é pensar na cultura algodão, da soja ou do milho, mas sim no sistema produtivo. E não envolve apenas uma propriedade, mas todas. Se de 10 produtores, nove fazem a coisa certa e um não faz, tudo vai degringolar”, enfatizou.
Adeney Bueno, pesquisador da Embrapa Soja (Londrina, PR), falou sobre as diferentes táticas de controle dentro do MIP. “O controle é sempre curativo, enquanto o manejo é preventivo. O que se quer na lavoura é manejar, fazer com que a população de pragas não chegue a causar prejuízos. E o manejo começa no planejamento da lavoura”, explicou.
Entre as táticas de controle está o manejo de plantas Bt (modificadas geneticamente) resistentes a insetos, que requer o plantio de áreas de refúgio com sementes não-Bt. No caso da soja, a Embrapa recomenda o plantio do refúgio em 20% da área, a uma distância não superior a 800 metros da cultura Bt. Quanto ao controle químico, a recomendação é realizar o monitoramento da lavoura e buscar utilizar inseticidas seletivos nos estágios iniciais das culturas, aplicando quando a população de insetos alcançar o nível de controle, e não com base em calendários. A primeira pulverização deve ser retardada ao máximo possível.
A correta aplicação do produto no alvo e na quantidade necessária, de forma econômica e com o mínimo de contaminação de outras áreas, requer o uso dos conhecimentos da tecnologia de aplicação. O produtor deve identificar e monitorar as pragas, utilizar equipamentos e produtos adequados, conhecer o momento certo da aplicação e evitar a contaminação do meio ambiente. Além disso, deve estar atento aos padrões de tamanho e densidade de gotas de pulverização.
“Para inserir a tecnologia de aplicação no MIP, deve-se utilizar critérios técnicos, levando em consideração esses fatores que interferem na qualidade da aplicação. E, sempre que possível, fazer a calibração de deposição e avaliar como a gota (da calda) está chegando ao alvo, para obter a deposição efetiva e desejada”, explicou o pesquisador Augusto Costa, da Embrapa Algodão (Campina Grande, PB).
Ivan Cruz, pesquisador da Embrapa Milho e Sorgo (Sete Lagoas, MG), falou sobre o controle biológico de pragas e a importância da preservação de seus inimigos naturais, que são agentes de controle biológico e “trabalham de graça” para o produtor. Ele lembrou que o controle biológico deve ser utilizado em integração com as outras tecnologias do MIP – como é o caso da vespinha Trichogramma spp., que parasita os ovos das lagartas, reduzindo a população das pragas, e pode ser utilizada em conjunto com áreas de refúgio para o manejo da resistência de plantas Bt.
O pesquisador disse que o controle biológico é uma ferramenta bastante promissora para o MIP. “É possível comprar agentes de controle biológico no mercado. Mas existe a possibilidade real de os produtores, em associações, montarem biofábricas, como já ocorre no Rio Grande do Sul. Infelizmente, somos os maiores consumidores de agrotóxicos, e as pragas estão voltando. Temos que ser os maiores consumidores de MIP”, afirmou.
Situação regional
O consultor da empresa Agrex Brasil, Ronaldo Bastos, fez um breve relato sobre os principais insetos-pragas que têm atacado a cultura da soja na região de Balsas, no Sul maranhense. Um dos maiores problemas enfrentados é o percevejo marrom (Euschistus heros). “Antes, a população aumentava no cultivo, e hoje observamos surtos no período vegetativo. Com a retirada de algumas moléculas do mercado, o controle tem sido bem difícil”, explicou. Outro percevejo que preocupa é o barriga-verde (Dichelops melacanthus), que ataca o milho, já que a área de milho safrinha está aumentando na região.
Entre as lagartas, ele destacou a lagarta da soja (Anticarsia gemmatalis) e, principalmente, a lagarta falsa-medideira (Pseudoplusia includens), cujo pico populacional tem trazido dificuldades de controle, tanto do ponto de vista de tecnologia de aplicação como de produto, que não têm obtido sucesso. A lagarta ataca principalmente os terços médio e inferior das plantas de soja e algodão. Outra lagarta preocupante é a lagarta da maçã do algodoeiro (Heliothis virescens), que vem aumentando a população na cultura da soja.
Quanto à H. armigera, Bastos afirmou que a região tem tido problemas com a lagarta. “Antes, não havia muita preocupação com o monitoramento de pragas. As decisões eram tomadas sem critérios de MIP, as pulverizações eram calendarizadas, com sub ou superdoses. Com a chegada da H. armigera, começaram a ser implementados alguns programas de amostragem, monitoramento e a busca por produtos mais seletivos”, lembrou. Com isso, o custo de produção aumentou de forma significativa, segundo o consultor.
Já a situação no Piauí foi relatada pelo pesquisador Paulo Henrique Soares, da Embrapa Meio Norte (Teresina, PI), que fez um resumo do histórico da entrada da H. armigera no Estado. Grupos de trabalho coletaram mariposas em vários municípios do Cerrado e do Semiárido piauiense. Até o momento, a praga não foi encontrada nos municípios do Semiárido. Em dezembro de 2013, quando o Ministério da Agricultura decretou estado de emergência fitossanitária em 25 municípios do Estado, já estava sendo elaborado o plano de supressão da praga para o Piauí, baseado em documentos apresentados pela Embrapa.
Segundo Soares, além da H. armigera, que ataca algodão, soja, milho e feijão-caupi, as principais pragas que têm atacado as lavouras piauienses são Helicoverpa zea (milho); Alabama argillacea, Antonomus grandis, Pectinophora gossypiella e Heliothis virescens (algodão); Nezara viridula, Piezodorus guildinii (soja e feijão-caupi); Anticarsia gemmatalis (soja); Spodoptera cosmioides e Spodoptera frugiperda (soja, milho e feijão-caupi). “Nossa situação não é diferente da do restante do País. Existe uma forte tendência de calendarização da aplicação de agroquímicos. O monitoramento das pragas é ausente ou parcial, e não há critérios para tomada de decisão”, concluiu.
Ao final, o pesquisador e coordenador regional da Caravana, Dirceu Klepker, da UEP Balsas (Embrapa Cocais, São Luís-MA), deixou um recado aos participantes: “A questão da H. armigera é um desafio, mas é também uma oportunidade para trabalharmos de forma conjunta e com isso fazer uma grande parceria. A Embrapa tem que atuar em parceria com os produtores, com as associações, com as universidades, com os órgãos dos Estados e com quem mais quiser se agregar. Junto com vocês, vamos definir como atuar nesse processo”.
Caravana
O propósito da Caravana Embrapa é reunir informações técnicas com os especialistas e apresentar informações e recomendações focadas no agroecossistema, além de coletar informações para subsidiar as pesquisas que têm sido desenvolvidas. Desde dezembro, a Caravana está percorrendo os polos agrícolas brasileiros para orientar técnicos da extensão rural e de cooperativas, além de representantes dos sindicatos e associações rurais para que atuem como multiplicadores de conhecimentos sobre a H. armigera e de outras pragas que têm causado prejuízos bilionários às lavouras do País.
A Caravana é uma iniciativa da Embrapa e conta com apoio da Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa), Associação Brasileira dos Produtores de Soja (Aprosoja) e Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB). No Maranhão, o evento contou com a parceria com a Agência Estadual de Pesquisa Agropecuária e de Extensão Rural do Maranhão (AGERP-MA), da Secretaria de Agricultura, Pecuária e Abastecimento do Maranhão (Sagrima) e da Agência Estadual de Defesa Agropecuária do Maranhão (AGED-MA). No Piauí, teve o apoio da Secretaria de Desenvolvimento Rural do Piauí (SDR), da Agência de Defesa Agropecuária do Piauí (ADAPI) e da UFPI.
O roteiro completo pode ser acompanhado no Site da Caravana (http://www.embrapa.br/caravana). No site, também é possível baixar os materiais informativos.
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