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Helicoverpa armigera: dois anos nas lavouras brasileiras
Em 2013, ocorreu a identificação correta da praga que estava causando muitos prejuízos. A H. armigera é polífaga e se reproduz rapidamente
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Marina Torres, Embrapa Milho e Sorgo
17/07/2015

A chegada de uma nova praga ao Brasil causou preocupação e grandes prejuízos em 2013. A lagarta Helicoverpa armigera provocou danos em lavouras de diversas culturas e alarmou produtores de várias regiões. Dois anos depois, qual é a situação? Por que a Helicoverpa armigera causou tantas perdas e hoje já não preocupa os agricultores como antes?

A pesquisadora da Embrapa Milho e Sorgo (Sete Lagoas-MG) Simone Mendes explica que quando a praga chegou ao país não encontrou resistência ambiental, e sua população cresceu muito. "Não havia inimigos naturais estabelecidos para a H. armigera aqui. Ela é polífaga, ou seja, come de tudo, e encontrou alimento à vontade. Além disso, a espécie se multiplica muito rápido."

O pesquisador Ivan Cruz, também da Embrapa Milho e Sorgo, afirma que a Helicoverpa armigera teve ocorrência mais acentuada em regiões onde havia desequilíbrio biológico. No Oeste da Bahia, por exemplo, as culturas de milho, soja e algodão garantiram alimentos em fartura para a praga. Além disso, o uso intensivo de inseticidas químicos diminui a presença de insetos benéficos, que poderiam ajudar a controlar a lagarta.

"Quando a praga chega, não traz consigo benéficos da região de origem, mas no local surgem inimigos naturais. Como no Brasil já existia a Helicoverpa zea, que é parente da H. armigera, os mesmos insetos benéficos passaram a atuar sobre a nova espécie. Por exemplo, a vespinha trichogramma é inimigo comum da zea e da armigera", explica Ivan.

Simone Mendes lembra que um fato importante em 2013 foi a identificação correta da praga que estava causando tantos prejuízos. Inicialmente, muitos produtores acreditaram que a Helicoverpa zea era a responsável pelas perdas nas lavouras. O trabalho de pesquisa da Embrapa Cerrados e da Embrapa Soja permitiu o reconhecimento da lagarta exótica Helicoverpa armigera e, a partir de então, foram feitos estudos e desenvolvidas ações de controle da praga.

Atualmente, a H. armigera não desapareceu. "O inseto continua a ocorrer, mas agora dentro da normalidade. Não sumiu, mas está num padrão aceitável para manejo", comenta Ivan Cruz. Simone acredita que houve um reequilíbrio do sistema. "Hoje existe resistência no ambiente que mantém a armigera sob controle."

O pesquisador da Embrapa Milho e Sorgo Paulo Viana ressalta que inimigos naturais e condições climáticas regulam as populações de pragas. "Como esses fatores variam de uma região para outra, pode ocorrer maior incidência num local e não ocorrer em outro", explica.

Ivan acredita que a diminuição da ocorrência de H. armigera se deve à ação dos controladores biológicos naturais. "Hoje é comum ver ovos de helicoverpa parasitados por trichogramma. Há ainda o orius, percevejo que tem presença na espiga e come ovos de lagartas, e a tesourinha, que também devora grande quantidade de ovos de pragas. Ou seja, temos agentes de controle biológico de alta incidência. A praga está presente, mas não causa danos consideráveis."

Importância do Manejo Integrado de Pragas (MIP)
Segundo Ivan Cruz, a Helicoverpa armigera tem grande resistência a vários produtos químicos. "No Oeste da Bahia, os produtores usaram muitos agrotóxicos, mas não evitaram perdas econômicas até verem que o caminho não era esse."

No milho, assim como no algodão, a deposição de inseticidas químicos no local onde a praga se encontra é difícil. A H. armigera põe seus ovos no cabelo do milho e, na fase de larva, ela se abriga dentro da espiga. A cobertura das folhas e a proteção da palha impedem que produtos químicos atinjam o inseto. Ivan Cruz ressalta ainda que o controle químico tem ação de choque, mas pouco efeito residual. "O inseticida mata os benéficos, além das pragas. Em poucos dias, acaba o resíduo químico. A praga volta, não encontra inimigos naturais e sua população volta a crescer."

Como as aplicações de agroquímicos não se mostraram eficientes no combate à H. armigera, foram adotadas outras ações emergenciais. "Os resultados provaram que o controle biológico é uma alternativa relevante. Isso ajudou a incentivar a criação de biofábricas, pois a demanda cresceu", relembra Ivan.

Paulo Viana destaca que um bom conhecimento da população de determinado inseto demanda acompanhamento sistemático, o que resulta no Manejo Integrado de Pragas (MIP).

"O MIP é o conjunto de medidas que devem ser tomadas para que se tenha melhor controle da situação. Desde a identificação correta, levantamento e monitoramento tanto da praga quanto dos inimigos naturais, o uso de tratos culturais, eliminação de plantas hospedeiras antes do plantio, escolha de cultivares resistentes, adoção do controle biológico e, no último caso, o uso do controle químico", explica Paulo. "É preciso avaliar a população da praga e a fase em que o inseto se encontra", completa.

Atualmente, existem vários inseticidas aprovados e registrados para o controle da H. armigera. A lista de produtos pode ser consultada no site Agrofit, do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. É importante destacar que os biopesticidas têm papel relevante para o manejo da praga. "Houve a aprovação emergencial de um isolado de baculovírus que já é comercializado no Brasil. Há também várias pesquisas sendo conduzidas com o uso de isolados de Bt (Bacillus thuringiensis), com resultados promissores", explica o pesquisador da Embrapa Fernando Valicente.

Os biopesticidas à base de baculovírus (vírus com potencial para controle de pragas) e à base de Bt (bactérias que têm propriedades inseticidas) são específicos em relação aos insetos-alvo e não causam danos a outras formas de vida.

Ivan Cruz defende o uso de armadilhas de feromônio para monitoramento. "A coleta de mariposas melhora o tempo hábil para adotar medidas de controle." Se a captura de mariposas indicar uma incidência da praga que demanda controle, é feita a liberação de vespinhas de trichogramma.

Outro estudo que Ivan tem conduzido é o redesenho da paisagem agrícola com cultivos para proteção e manutenção dos insetos benéficos. São inseridas faixas de plantas, como girassol e sorgo, junto às lavouras para que esses insetos tenham mais abrigo e alimentos complementares. "A diversidade vegetal favorece a atuação dos benéficos", explica.

Aprendizado
A pesquisadora Simone acredita que as perdas provocadas pela Helicoverpa armigera trouxeram aprendizado. "Quando ocorre algo muito ruim, a gente aprende. Voltou a crescer a preocupação com estratégias de manejo mais sustentáveis, a demanda pelo controle biológico aumentou".

Ivan Cruz afirma que, após a entrada da H. armigera no país, o agricultor está mais consciente da importância dos insetos benéficos. "Ainda falta o produtor conhecer melhor os benéficos e sua atuação. Para isso, ações de capacitação em MIP são fundamentais", explica.

Nesse sentido, a caravana realizada pela Embrapa é uma ação de grande importância. A primeira fase da caravana começou em dezembro de 2013. Foram percorridos 18 estados até março de 2014, mobilizando mais de 6 mil técnicos de extensão rural, cooperativas e associações de produtores. A abordagem era diretamente relacionada com presença da Helicoverpa armigera e o desequilíbrio provocado por ela nos mais diversos sistemas de produção. Ao todo, a Embrapa deslocou 30 especialistas para atuar diretamente nas palestras e mais de 200 empregados nas ações em todo o Brasil.

Na segunda fase, iniciada em dezembro do ano passado, a Caravana Embrapa percorre nove polos de produção de grãos e fibras do país até o final de 2015. A estratégia adotada agora passa pela capacitação de representantes da assistência técnica e extensão rural em dois focos de atuação no campo: a identificação correta de pragas e inimigos naturais e a tomada de decisão sobre qual melhor ação de controle a ser implementada, dependendo das ameaças que forem encontradas no campo.

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