A semente é um insumo de extrema importância na agricultura, sendo depositária de grande parte dos avanços tecnológicos desenvolvidos pelos programas de melhoramento ao longo de décadas. Com a aprovação da Lei de Proteção de Cultivares em 1995, e mais recentemente, com desenvolvimento da biotecnologia moderna, a indústria brasileira de sementes tem atraído o interesse de grandes empresas multinacionais agroquímicas, as quais disputam a liderança neste mercado.
Há 20 anos, um saco de sementes era apenas uma parcela de grãos reservada da safra anterior. Atualmente, as sementes carregam um genoma estudado minuciosamente, possuem vários eventos biotecnológicos inseridos, sendo desenvolvidas especificamente para resolver problemas que atormentam muitos produtores, entre muitos outros avanços. Esse fenômeno é ainda mais perceptível em grandes cultivos, que há anos têm sido alvo de pesados investimentos da iniciativa pública e privada.
A soja é uma das culturas mais importantes, tanto em termos de volume como de valor, que progrediu muito. Na década de 80 a produção por hectare girava em torno de 35 sacas, e hoje, com todas as tecnologias disponibilizadas existem agricultores chegando a 90 sacas por hectare, um terço acima da média brasileira atual. Todo esse avanço certamente não seria possível sem o uso de sementes de alto padrão genético, físico, fisiológico e sanitário, afinal, elas são o início de qualquer lavoura.
Na safra brasileira de 2010/2011 foram produzidas 2,43 milhões de toneladas de sementes das 16 principais culturas nacionais. De acordo com a Associação Brasileira de Sementes e Mudas (ABRASEM) apenas o mercado de sementes de soja deve faturar aproximadamente R$ 2,75 bilhões em 2013. Em 2012 todo o setor sementeiro faturou uma estimativa de R$ 9 bilhões, e apresenta clara capacidade de aumentar esses números nos próximos anos.
Cultivares híbridas com alto potencial produtivo, tolerância a herbicidas, resistência a diversas pragas e doenças, plantas enriquecidas com nutrientes em baixa na dieta da população, resistência a estiagens são alguns dos eventos tecnológicos inseridos nas sementes pelo melhoramento e biotecnologia, nos últimos anos.
Como exemplo disso temos a tecnologia “Roundup Ready”, inserida em soja e milho, que proporciona resistência ao herbicidas à base de glifosato (N-(fosfonometil)glicina), lançado no mercado brasileiro em 2008; a marca “Liberty link”, lançado em 2007 no Brasil, para o milho, dando resistência ao herbicida glufosinato de amônio; as tecnologias Yield Gard e Agrisure Viptera inseridas no milho, ambas conferem resistência a algumas espécies de insetos praga da Ordem Lepidoptera, promovendo o controle da Diatraea saccharalis (broca-do-colmo) e a supressão da Spodoptera frugiperda (lagarta-do-cartucho) e da Helicoverpa zea (lagarta-da-espiga); a tecnologia “Herculex” que concentra duas resistências, ao herbicida glifosato e a alguns insetos da Ordem Lepidoptera; e ainda híbridos de milho “Drought Gard”, não lançado no mercado brasileiro ainda, tolerante a estiagem.
Essas tecnologias, comprovadamente, reduzem a necessidade de aplicação de inseticidas, proporcionam melhor controle de plantas daninhas, e, por conseguinte, melhoram o desempenho da lavoura. Em todos esses casos, a semente é o veículo utilizado para levar todas as inovações do laboratório de pesquisa até o campo.
A necessidade de uma semente com alta qualidade tornou ainda mais criterioso e especializado seu sistema produtivo. Os cuidados iniciam antes da implementação da cultura no campo e permanecem em todas as etapas de produção, colheita, transporte, secagem, beneficiamento e armazenamento, tudo isso a fim de preservar a qualidade da semente até a sua utilização na próxima safra. Todos esses elementos aliados a profissionais qualificados estão disponibilizando sementes com segurança, através da rastreabilidade, e padrões genéticos, fisiológicos, sanitários e físicos nunca antes vistos no Brasil.
Para as sementes chegarem ao campo com tanta qualidade, várias entidades privadas e públicas fazem grandes investimentos em pesquisa e qualificação de profissionais. Todo esse valor deve retornar aos investidores para que eles possam dar segmento às suas linhas de trabalho, porém, nem sempre é isso que acontece. Em algumas regiões existe o costume de usar parte da produção de grãos como semente para a próxima safra, seja por tradição ou tentativa de economizar com o insumo. Essa equivocada idéia de economia se mostra falsa com diversos levantamentos de safra, demonstrando que áreas onde existe o hábito de usar semente pirata a produtividade é em média um terço menor que nas regiões que usam sementes certificadas.
Nos últimos anos, os índices de taxa de utilização de sementes caíram muito, e as conseqüências somente se manifestam nas safras subseqüentes. A recuperação é lenta, pois o segmento mais afetado é o da pesquisa, o qual, no limite, corre o risco de paralização, seguido pela desestruturação do mercado formal de sementes e finalmente pelo agricultor, que assim, vê seus problemas ampliarem, quanto à incerteza nas colheitas, a redução da produtividade das lavouras e qualidades desejáveis dos produtos.
O agricultor produtor de grãos também sai prejudicado, pois como a semente informal não tem nenhum atestado de qualidade terá problemas com a emergência em campo, ocasionado falhas de estande e necessidade de replantio, acarretando em redução de sua produtividade, além de poder se tornar um veículo para introdução de pragas, doenças e plantas invasoras, antes inexistentes na região.
Pensando no caso de sementes piratas e comercializadas sem fiscalização, foram criadas duas leis que regem o mercado de sementes, atualmente. A primeira é a Lei de Sementes (LS), que cria condições para o sistema de certificação privada e fortalece a fiscalização da produção e do comércio de sementes no Brasil. A segunda é a Lei de Proteção de Cultivares (LPC) que reconhece a propriedade sobre cultivares e protege o direito dos seus criadores, e prevê penalidades para quem vender, oferecer para venda, reproduzir, embalar e armazenar sementes de cultivares protegidas, sem a devida autorização daquele que a criou.
Com a expectativa otimista de crescimento da agricultura brasileira, as sementes podem ser consideradas um dos mais importantes insumos, pois determinam o limite superior possível do rendimento de grãos e, assim sendo, a eficiência dos demais insumos. Elas são o primeiro passo de qualquer lavoura, pois formarão a população de plantas e levam consigo todas as novidades tecnológicas recém saídas dos laboratórios de pesquisa, importantes para se alcançar cada vez mais resultados positivos tanto em termos de rendimento como também, em alguns casos na qualidade do produto final. Sendo assim, todos os envolvidos, de produtores de sementes a agricultores precisam fazer sua parte para a evolução do setor, caso contrário, haverão problemas com os quais todos só tem a perder.
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