Nos últimos dias 18 e 19 de maio, o Presidente Barack Obama foi o anfitrião da reunião do G-8 nos Estados Unidos. Um dos itens mais importantes da agenda foi a segurança alimentar. Exatamente dez dias depois, de 29 de maio a 2 de junho, as Nações Unidas consolidaram as negociações da Rio + 20. Em ambas as reuniões, o cooperativismo mereceria figurar no centro das discussões, já que, durante mais de um século e meio, vem promovendo, em todo o mundo, uma verdadeira revolução, tendo sido o esteio do desenvolvimento econômico e social de muitos países.
As cooperativas se constituem em um modelo único de transações comerciais, que congregam cerca de um bilhão de membros em todo o mundo, sendo que as trezentas maiores cooperativas do planeta somam um movimento de mais de US$ 1,6 trilhão. A maior cooperativa do mundo é uma cooperativa formada de mini e pequenos agricultores japoneses, a ZEN-NOH, a poderosa Confederação das Cooperativas Agrícolas Japonesas que faturou US$ 56,4 bilhões, criada no ano de 2006. Hoje, nenhum produtor rural, no Japão pode sobreviver, se não estiver filiado à uma cooperativa.
No Brasil, o cooperativismo agrícola foi o grande impulsionador do desenvolvimento rural, outrora baseado em grandes culturas, mas que, a partir da organização dos produtores rurais, permitiu o acesso aos mercados dos pequenos e médios rurícolas, abrindo novos horizontes à sua atividade.
Para tanto, foi importante a vinda de imigrantes estrangeiros que trouxeram de seus países de origem a cultura da cooperação. Após cumprir o período contratual labutando nas fazendas de café, saíram desorientados e perdidos na imensidão de uma nação continente e procuraram na mesma atividade, agora por si, buscar a própria sobrevivência e de suas famílias. Sem assistência dos poderes públicos, desconhecendo a língua, os costumes, o mercado, foram presas fáceis dos intermediários que ficavam com a maior parcela dos frutos do seu trabalho. Cedo perceberam que, se eles não se unissem não teriam como permanecer na agricultura.
O cooperativismo foi a grande solução. Unindo-se, estes agricultores, muitos arrendatários, outros pequenos proprietários, que adquiriram, penosamente, um pedaço de terra com as economias de seu trabalho, deram uma enorme contribuição ao nosso país, escrevendo com letras de ouro a história da cooperação.
O Estado do Paraná, coalhado de cooperativas agrícolas, é um exemplo do que pode realizar o cooperativismo, em termos de produção e produtividade. Numa época em que a EMBRAPA não existia, o movimento cooperativo paranaense já possuía uma fazenda experimental, onde realizava pesquisas agronômicas de alto valor. Quando, em determinada ocasião, o governo resolveu tornar o Brasil auto suficiente em trigo, foram as cooperativas agrícolas as grandes parceiras que ajudaram a buscar este desiderato. E a receita do sucesso foi muito simples. Como a cultura de trigo, no inverno, embutia um alto grau de sinistralidade, as cooperativas, ao distribuir as sementes de trigo aos seus cooperados, retinham um pequeno percentual do valor pago para formar um FUNDO DE INDENIZAÇÃO DO TRIGO. Era uma espécie de seguro rural para os cooperados, que funcionou tão bem que o Brasil deixou de importar trigo do Canadá e da Argentina. Até o dia em que, um órgão do governo descobriu a “manobra” e mandou fechar o FUNDO... Hoje importam trigo...
No sudoeste de Santa Catarina pontificam grandes cooperativas agrícolas, muitas, ainda, contando com membros oriundos dos primitivos imigrantes italianos que as fundaram e que legaram líderes de escol como o saudoso cooperativista Aury Bordanese, que foi, por muitos anos, Presidente da Cooperativa Aurora.
O Estado de Minas Gerais abriga a cooperativa que é a maior exportadora de café do mundo. Promovido por uma cooperativa agrícola, foi palco do primeiro assentamento dirigido no cerrado brasileiro – o Programa de Assentamento Dirigido do Alto Paranaíba – que mudou o perfil sócio-econômico do sul de Minas, afrontando uma máxima corrente na região: “cerrado, só dado ou herdado”. Também em Minas está a Itambé, maior cooperativa de leite do país, agregando valor e ganhando mercados. No centro oeste, os agricultores gaúchos que ali aportaram, foram os grandes incentivadores na constituição de cooperativas que estão surgindo na região.
Em São Paulo, o cooperativismo agrícola tem sido um marco no desenvolvimento de vários setores, como na área da citricultura, cafeicultura, horti-fruticola, avicultura e sucro-alcooleiro.
Enfim, o Brasil está pontilhado de exemplos da imensa contribuição do cooperativismo no desenvolvimento da sua agricultura.
Na defesa do meio ambiente, o cooperativismo vem atuando há décadas, competente e silenciosamente, quando o tema nem era objeto de preocupação da sociedade, nem dos ecologistas, nem das centenas de ONGs, que hoje desfraldam esta bandeira como baluartes na preservação natural do planeta.
As cooperativas agrícolas vem fazendo este trabalho há muito tempo, porque é do interesse dos seus membros, que são os principais beneficiários, a prática de uma agricultura sustentável, como o correto uso dos defensivos agrícolas e o descarte apropriado das embalagens vazias, o plantio direto, a proteção das matas ciliares. Fazem, não por modismo ou ideologia, mas pela absoluta necessidade de garantir o progresso de seus membros, familiares e por extensão, à toda sociedade do entorno.
Num extenso documento elaborado pelo governo britânico (UK Government Report on Food & Farming Futures to 2050), o Brasil é apontado como um dos países chaves na produção de alimentos.
E quando o mundo discute a sua segurança alimentar na reunião do G-8 e o desenvolvimento sustentável na RIO+20, o cooperativismo merece ter um lugar de destaque nestas discussões, como o grande protagonista que sempre foi, responsável pelo aumento da produção agrícola e da defesa do meio ambiente.
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