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Manejo da Lavoura  
Pós-colheita: estratégias para um futuro próximo
Para melhorar etapa e chegar a 200 milhões t. em 2020, Brasil precisa de importantes ajustes estruturais
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Da Redação
11/05/2012

De acordo com o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, a safra de grãos esse ano deve chegar a 160 milhões de toneladas. A previsão é que esse número aumente e passe a ser de 200 milhões em 2020 e 300 milhões em 2050. A produção de grãos no campo vem se desenvolvendo e tecnificando, mas o que dizer do pós-colheita? O transporte e armazenagem adequados da produção e a capacidade do país em dar conta de uma produção tão grande nos próximos anos são os tema da entrevista exclusiva feita pelo Portal Dia de Campo com Irineu Lorini, presidente da Abrapós e pesquisador da Embrapa Soja. Para ele, o pós-colheita ainda precisa de investimentos.

Portal Dia de Campo - Qual o balanço que o senhor faz da safra de verão e o que precisa ser mudado para a próxima?

Lorini - Estamos em um ano em que tivemos uma parte de safra frustrada em função dos problemas climáticos. Tínhamos uma expectativa de aumento da produção de grãos em relação aos 163 milhões da safra passada, mas houve uma redução de volume colhido no ano, ficando em torno de 160 milhões. É uma diminuição muito pequena, quase que desprezível no nosso ponto de vista. Por outro lado, nossa capacidade de armazenamento, onde temos que colocar toda a safra, não mudou do ano passado para cá (142 milhões de capacidade estática).

Portal Dia de Campo - Se levarmos em consideração os problemas climáticos, já que a diminuição do volume da safra não foi grande, significa dizer que foi feito um bom trabalho?

Lorini - Nesse sentido sim. Tínhamos uma previsão de aumento de safra e o trabalho foi feito nesse sentido. Os preços estão bons, o produtor vem produzindo bem e as tecnologias vêm sendo incorporadas na produção, o que é um avanço.

Portal Dia de Campo - Falando um pouco sobre a manutenção da qualidade de grãos, como o processo de colheita e transporte pode ser melhorado?

Lorini - Temos dois pontos importantes: o transporte e o armazenamento. Eles influenciam muito na qualidade e quantidade do produto. A cada ano, estamos melhorando os processos tanto na parte de transporte quanto de armazenamento dos grãos. Temos um melhor controle de pragas, por exemplo. Nosso pessoal tem se especializado mais e treinado mais na área de armazenagem. Na área de transporte, estamos melhorando em termos de cuidado, mas continuamos tendo perdas, principalmente no transporte da unidade armazenadora até as unidades de consumo ou exportação, o que mostra perdas de quantidade de produto. Mas temos que levar em consideração que as estradas que as nossas rodovias não estão em um estado de conservação tão bom que permita a diminuição dessa perda.

Portal Dia de Campo - Na prática do processo de colheita, como as máquinas podem influenciar na qualidade?

Lorini - É importante que o produtor regule e adapte bem a máquina para o processo de colheita, caso contrário ele terá dois problemas sérios que comprometem a lucratividade dele e a qualidade do grão colhido. Se a máquina não estiver bem regulada, ele terá um maior índice de quebra de grãos, o que afeta diretamente a qualidade e a quantidade. Além disso, o operador deve colher na velocidade adequada.

Máquinas devem estar reguladas e operadores bem treinados

Portal Dia de Campo - O produtor sempre leva em conta o ponto certo de maturação na hora da colheita, uma vez que isso influencia diretamente na qualidade do grão?

Lorini - O produtor deve atentar para uma combinação de fatores na hora da colheita. Ele não deve colher o grão nem muito úmido nem muito seco. Por exemplo, o milho colhido com 30% de umidade vai ter muito esmagamento e sua qualidade será danificada. O ponto certo varia de região para região, mas a umidade entre 16% e 22% para a maioria dos grãos seria a faixa ideal. Associado à faixa de umidade ideal, o produtor deve ter um sistema de secagem e armazenagem adequado.

Portal Dia de Campo - Na questão da armazenagem, qual o percentual dos produtores que têm unidades armazenadoras próprias no Brasil?

Lorini - Segundo a Conab, o número de unidades armazenadoras cadastradas no país gira em torno de 17 mil. Desse número, 15% são armazenagens de propriedade.

Portal Dia de Campo - Qual o balanço que o senhor faz desse número?

Lorini - Temos regiões onde a armazenagem de propriedade é essencial, como o Mato Grosso, que possui grandes áreas e grandes propriedades. Nesse caso, como as distâncias são longas e o produtor deve retirar os grãos da lavoura e levá-los imediatamente para a armazenagem, é fundamental que ela seja feita na propriedade. Já no Rio Grande do sul, por exemplo, a armazenagem de propriedade não é importante porque existe um sistema de unidades armazenadoras que recebem muito bem a produção e cuidam muito bem do produto, melhor até que o produtor, devido à falta de experiência ou treinamento. Nesse caso, ele produz e em poucos quilômetros de distância da sua lavoura está um silo armazém de uma cooperativa ou central estadual.

Portal Dia de Campo - Então o produtor deve se preocupar também com a distância...

Lorini - O fundamental é à distância, devido aos custos de transporte inclusive. As máquinas hoje colhem rapidamente. Então, o produtor precisa ter um sistema de transporte rápido. Se o silo for muito distante, o caminhão levará muitas horas para voltar.

Portal Dia de Campo - Costuma-se dizer que o produtor vai muito bem na produção e na condução da lavoura. Mas a comercialização e as práticas do pós-colheita são pontos de estrangulamento, que muitas vezes, jogam por terra toda a boa produção. Quais os erros mais comuns e o que a Abrapós faz para reverter essas falhas?

Lorini - De forma geral, o produtor brasileiro se especializou em produzir. Ele produz muito bem, mas não se especializou em armazenar a safra. Então, o que ele deve fazer é buscar pessoas competentes que cuidem da safra dele, que é justamente o pós-colheita. A Abrapós tem realizado várias ações no sentido de melhorar a qualidade de armazenamento. No ano passado, realizamos eventos semanais de qualidade de armazenamento no Rio Grande do Sul, Mato Grosso e Goiás e trouxemos o que existe de melhor em termos de produto, serviço, equipamento e tecnologia. A Abrapós tem reunido o setor no intuito de reduzir perdas e esse ano realizará outro evento em agosto para promover essa troca de experiências.

Portal Dia de Campo - Em regiões, como o Mato Grosso, por exemplo, onde as unidades armazenadoras de cooperativas não seriam as mais indicadas devido à distância, quais as principais razões para a pouca adesão a unidades armazenadoras dentro da própria fazenda, já que as vantagens são tão expressivas?

Lorini - Devido ao custo de instalações físicas para uma unidade armazenadora, que é bastante alto. O produtor não consegue investir em um silo e ter um retorno financeiro com sua lucratividade. Esse é um dos principais problemas de investir na propriedade. O segundo problema é a falta de mão de obra qualificada para a armazenagem.

Portal Dia de Campo - Sob o ponto de vista financeiro, o Moderinfra tem cumprido sua missão como deveria?

Lorini - Em parte, pois existe o recurso disponível, mas a tomada desse recurso ainda é muito cara. Por isso, uma proposta junto a um grupo de trabalho nomeado recentemente pela Câmara de Infraestrutura e Logística para elaborar um plano nacional de armazenagem. A ideia é ter recursos em áreas estratégicas com juros adequados, ainda melhor que os do próprio Moderinfra, que permitam a capacidade de pagamento do armazenador.

Portal Dia de Campo - Como essas ações, seria possível então aumentar o número de silos?

Lorini - Só com o Moderinfra não. Precisamos de um avanço maior na pós-colheita de grãos brasileira, pois ainda estamos longe do que o campo conseguiu. Precisamos de um planejamento no país e saber onde queremos um número de armazenagem maior em propriedades e em outras centrais de armazenagens, mas não nos portos. Estamos enchendo os portos e criando problemas de logística por falta de armazenagem na zona de produção.

Portal Dia de Campo - Se esses números crescessem, como eles impactariam a economia do setor?

Lorini - Segundo o governo, temos uma projeção de chegar a 200 milhões toneladas de grãos colhidos em 2020. Já em 2050, esse número passaria para 300 milhões. Sem a armazenagem adequada, não vamos conseguir fazer isso. Precisamos investir no aumento de silos, na capacidade da armazenagem para garantir o crescimento da produção. Sem qualidade, ninguém exporta produto, que é a meta pretendida para essa produção. Temos uma capacidade para 140 milhões de toneladas, mas muitos desses silos foram construídos em uma época em que a qualidade não era o principal requisito. Portanto, não oferecem boas condições para a garantia da qualidade.

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