dia de campo

a
Esqueceu a senha?
Quero me cadastrar
     22/11/2024            
 
 
    

Escolhi esse tema a fim de prestar uma justa homenagem a esta cultivar responsável pela expansão da pecuária não apenas no Brasil, mas também em áreas de solos pobres e ácidos de toda a América Latina.

Originária de pradarias da região dos Grandes Lagos em Uganda, a jornada dessa cultivar iniciou pelo envio de sementes  pelo Departamento de Agricultura de Uganda para a Austrália em 1930, onde ganhou o registro CPI 1694. Testes foram conduzidos em South Johnstone, no estado de Queensland entre 1956 e 1966 e resultados mostraram sua alta produtividade, boa resposta a aplicações de fertilizante nitrogenado com aumentos da produção de matéria seca e do conteúdo de proteína bruta.   A germinação das sementes, no entanto era sempre baixa até que se descobriu o tratamento por ácido sulfúrico para a quebra da dormência, e isso viabilizou a utilização comercial dessa cultivar. A aprovação para liberação comercial veio em 1966 e o registro oficial saiu em 1973 pelo “Queensland Herbage Plant Liaison Committee”. Não encontrei referência quanto a escolha do nome, mas perto de South Johnsotne fica a região denominada Basilisk, e pode ter sido essa a razão de chamá-la cultivar Basilisk.

A expansão dessa cultivar a partir de 1965 deveu-se ao interesse do Brasil em  ampliar a pecuária até então concentrada nos estados do sul e sudeste. A ação do CONDEPE (Conselho Nacional de Desenvolvimento da Pecuária), criado em 1967 e de programas de incentivo à formação de pastagens com juros baixos e longos prazos de financiamento como PROPASTO, POLOCENTRO e POPEC, trouxeram progresso e a colonização para o Brasil Central. Milhares de hectares foram desbravados e muitas áreas foram formadas até com semeadura por avião. Para a formação dessas pastagens foram necessárias enormes quantidades de sementes e o desconhecimento de técnicas que possibilitassem a produção de sementes da cv. Basilisk e de outras espécies em escala comercial, foi responsável pela importação da Austrália. Assim navios carregados de sementes australianas chegaram em grande quantidade aos portos brasileiros. Com isso a B. decumbens também ficou conhecida como braquiária australiana. Isso durou até 1975, pois em agosto de 1974 o Ministério da Agricultura proibiu a importação de importação  dada a ameaça da introdução da "ferrugem da soja" através destas sementes. Ainda assim, em 1975 foram importadas mais de 1.600 toneladas de sementes de forrageiras, num valor total que excedeu US$ 2,80 milhões. O interesse por essa cultivar rústica que tão bem adaptou-se aos solos ácidos e fracos dos cerrados brasileiros, e que multiplicou por 2 a 3 vezes o ganho de peso vivo de bovinos em pastagens fez com que a demanda por sementes fosse crescente. Então empresas sementeiras nacionais rapidamente desenvolveram e adaptaram tecnologias de produção para o Brasil e passaram a comercializar essa que era a grande desbravadora do Brasil Central, o “capim milagroso”. Muitos pecuaristas referem-se à era antes e depois da braquiária visto sua importância na colonização dos cerrados e na projeção da pecuária nacional a patamares significativos. Não demorou a aparecem problemas nesses enormes monocultivos – a cigarrinhas-das-pastagens disseminou-se e “queimou” milhões de hectares na época das chuvas na década de 1980, justamente quando mais se esperava que ganhassem peso vivo. Apareceu ainda a morte de animais, principalmente bezerros por fotossensibilização ou “requeima” também atribuída à cv. Basilisk. Foi então que organizações de pesquisa se preocuparam em importar do continente africano, germoplasma de outras braquiárias para tentar contornar o problema de falta de opções forrageiras para a formação de pastagens. Em 1984 foi liberada a B. brizantha cv. Marandu, resistente a cigarrinhas, porém mais exigente em fertilidade do solo. Desde então outras braquiárias integram o portfólio de opções forrageiras como a cv. Xaraés, cv. Piatã, cv. Mulato e várias de Panicum maximum.

Mesmo com a susceptibilidade ao inseto, essa cultivar segue sendo um importante componente das pastagens brasileiras e relevante item na pauta de exportação de sementes forrageiras tropicais. Com a recente viabilização de cruzamentos usando a B. decumbens cv. Basilisk como parental apomíticos e plantas sexuais especiais dessa mesma espécie espera-se finalmente aproveitar o muito que essa cultivar tem de vantagens, como a forte adaptação a solos inférteis, rápido estabelecimento e alta produção de forragem com boa palatabilidade, boa produção de sementes, tolerância ao pastejo pesado e pisoteio, e selecionar para maior resistência a cigarrinhas nas progênies resultantes. Esse seria um nobre e justo final feliz para essa cultivar que tanto tem contribuído com a pecuária de carne e leite brasileira.

 

Aviso Legal
Para fins comerciais e/ou profissionais, em sendo citados os devidos créditos de autoria do material e do Jornal Dia de Campo como fonte original, com remissão para o site do veículo: www.diadecampo.com.br, não há objeção à reprodução total ou parcial de nossos conteúdos em qualquer tipo de mídia. A não observância integral desses critérios, todavia, implica na violação de direitos autorais, conforme Lei Nº 9610, de 19 de fevereiro de 1998, incorrendo em danos morais aos autores.
Ainda não existem comentários para esta matéria.
Para comentar
esta matéria
clique aqui
sem comentários

Forrageiras - Artigos já Publicados

Novas forrageiras em discussão
13/06/2012

O III Simpósio Internacional sobre o Melhoramento de Forrageiras
14/12/2011

A geração de cultivares de forrageiras frente a mudanças climáticas
05/10/2011

Boas Práticas Agropecuárias
16/03/2011

BRS Tupi: uma nova cultivar de B. humidicola
19/01/2011

Como estimar o que engorda o boi
09/12/2010

Brachiaria e/ou Urochloa: dando nomes às plantas
09/08/2010

Apomixia e a reprodução nas gramíneas forrageiras
13/05/2010

Pastagens: mitos e realidades
13/04/2010

A pecuária e os gases de efeito estufa
08/03/2010

A escolha da forrageira para a formação de pastagens
04/02/2010

A biotecnologia e as forrageiras tropicais
06/01/2010

O Melhoramento de Pastagens, ontem e hoje
01/12/2009

Conteúdos Relacionados à: Forrageiras
Palavras-chave

 
11/03/2019
Expodireto Cotrijal 2019
Não-Me-Toque - RS
08/04/2019
Tecnoshow Comigo 2019
Rio Verde - GO
09/04/2019
Simpósio Nacional da Agricultura Digital
Piracicaba - SP
29/04/2019
Agrishow 2019
Ribeirão Preto - SP
14/05/2019
AgroBrasília - Feira Internacional dos Cerrados
Brasília - DF
15/05/2019
Expocafé 2019
Três Pontas - MG
16/07/2019
Minas Láctea 2019
Juiz de Fora


 
 
Palavra-chave
Busca Avançada