O III Simpósio Internacional sobre Melhoramento de Forrageiras (SIMF) foi realizado em Bonito, Mato Grosso do Sul, entre 7 e 11 de novembro de 2011, organizado pela Embrapa Gado de Corte e contou com cerca de 100 participantes entre palestrantes, painelistas, pesquisadores, técnicos e estudantes. O objetivo geral do evento de apresentar e discutir temas de relevância para o melhoramento genético de forrageiras visando viabilizar uma produção animal eco-eficiente foi plenamente atingido. Houve excelentes oportunidades de interlocução e debates entre os participantes, incluindo também um dia de campo em uma fazenda que associa produção animal ao eco-turismo e extração de calcário.
A palestra de abertura apresentou as previsões de mudanças no clima e seus impactos na agricultura, focando aumentos progressivos nas temperaturas e ocorrências de eventos extremos de falta e excesso de precipitação. Com base em dados e projeções por modelagem o palestrante mostrou cenários otimistas e pessimistas comentando que algumas plantas poderão ter sua área de utilização expandida enquanto outras deverão deixar de ser cultivadas. Com alterações no clima esperam-se diferentes padrões e níveis de ocorrência de doenças e pragas nas pastagens. Nesse contexto, foram discutidos os mecanismos de resposta das plantas e apresentados alguns mecanismos moleculares em resposta ao ataque de patógenos e insetos. Foi possível observar que há avanços notáveis nos estudos da interação planta-inseto-patógeno cujo entendimento deve redundar em métodos mais eficientes de triagem de plantas resistentes dentro dos programas de melhoramento genético bem como em formas mais adequadas de controle. A discussão de mecanismos de resistência de plantas a estresses hídricos foi extensa e proveitosa, incluindo a possibilidade de transformação de plantas para resistência a seca, que já é uma realidade na pesquisa com cana-de-açúcar e arroz, que são gramíneas como os capins usados no Brasil. Testes de campo em breve permitirão avaliar o impacto dessa tecnologia em condições reais.
Muito interessante foi a apresentação sobre a capacidade de capins do gênero Brachiaria em inibir a nitrificação, processo que devolve óxido nitroso a atmosfera quando o adubo nitrogenado é aplicado ao solo e as plantas não o absorve completamente. O óxido nitroso é um gás de efeito estufa muito mais potente do que o dióxido de carbono (CO2). Um composto químico exudado das raízes da B. humidicola e da B. decumbens impedem que o nitrogênio se perca tornando a adubação mais eco-eficiente e menos nociva a atmosfera. Esse potencial vem sendo estudado por cientistas como o Dr. Guntur Subbarao do Japanese International Research Center for Agricultural Sciences (JIRCAS) no Japão em consórcio com o Centro Internacional de Agricultura Tropical (CIAT) na Colômbia. Mediante a participação desse pesquisador no III SIMF surgiu a possibilidade do Brasil também realizar esse tipo de pesquisa com o JIRCAS, uma vez que temos programas de melhoramento genético dessas duas espécies em andamento na Embrapa.
As contribuições de dois melhoristas estrangeiros – Dr. Michael Abberton e Dr. Kenneth Quesenberry da Grã-Bretanha e Estados Unidos respectivamente – trouxeram resultados alentadores para a seleção de forrageiras com melhor adaptação a estresses. Ambos confirmaram que o uso de métodos de seleção recorrente permite acumular alelos favoráveis resultando em forrageiras cada vez mais adaptadas a estresses a cada ciclo e frisaram que vale a pena recorrer à seleção assistida por marcadores moleculares (MAS) sempre que os métodos tradicionais de triagem sejam difíceis e morosos.
Quanto à melhoria da qualidade das forrageiras visando amenizar a emissão de gases de efeito estufa pelos ruminantes foi enfatizada a necessidade de mensurar a digestibilidade da fibra como parâmetro de seleção. A maturidade da planta forrageira é um excelente indicador de qualidade, portanto o manejo da pastagem exerce forte impacto no desempenho animal e consequentemente na emissão de gases para a atmosfera. A palestra sobre anatomia foliar mostrou que a deposição de lignina (carboidrato praticamente indigestível) que aumenta com a maturidade em vários tecidos da planta é também um excelente indicador de qualidade e pode ser manipulada geneticamente de forma a melhorar o valor nutritivo, como já vem sendo feito na Austrália com azevém e mais recentemente com a cv. Marandu em parceria com a Embrapa.
O papel do Brasil como produtor de alimentos é inconteste e o “boi de pasto” confere uma vantagem competitiva ao setor brasileiro, pela redução nos custos de produção e pela segurança alimentar, visto que doenças podem ser transmitidas a partir de uma alimentação baseada em proteína animal, como o mal da vaca louca. Daí a grande importância em adequar os programas de melhoramento para desenvolver forrageiras que apresentem maior adaptação às mudanças previstas na temperatura e disponibilidade de água. A pesquisa precisa estar alguns anos a frente dos problemas porque é necessário tempo para desenvolver novas cultivares. As discussões e debates em eventos como o III SIMF abrem novas possibilidades de cooperação e permitem redirecionar os programas visando maior eficiência. Por fim, a qualidade técnica do III SIMF, motivou o Professor e Pesquisador Dr. German Spangenberg a comprometer-se em realizar o próximo SIMF, em 2013, na Austrália, como uma reunião satélite do Congresso Internacional de Pastagens, internacionalizando de fato esse simpósio.
|