O custo de produção do açúcar, álcool e demais derivados provenientes da cana-de-açúcar, e a viabilidade econômica de sua industrialização estão intimamente relacionados com a quantidade de açúcares presentes nos colmos industrializáveis enviados para o processamento através da operação de colheita. O produtor de cana procura realizar a colheita quando a quantidade de açúcares presente no colmo atinge valores máximos, porém isso normalmente não ocorre no início e no final da safra.
Existem vantagens econômicas em iniciar a colheita da cana-de-açúcar antecipadamente, antes de atingir o pico de maturação em abril (para a região centro sul do Brasil), assim como prolongar a safra até novembro, sendo que para isso o ideal é que haja manutenção dos teores de açúcar em níveis elevados até o final da safra. Em ambas as situações pode ser utilizado o maturador para que os teores de açúcares sejam adequados para a colheita.
O maturador é uma ferramenta utilizada para proporcionar aumento no início da safra ou manutenção no final de safra dos teores de açúcar na cana, mas sem prejudicar outros atributos, principalmente a produtividade. Este processo permite ao produtor de cana colher matéria-prima com maior quantidade de ATR (Açúcar Total Recuperável) e, consequentemente, maior taxa de retorno líquido dos investimentos para a produção de álcool, açúcar e seus derivados. Sendo assim, a prática de uso de maturadores em cana-de-açúcar está se tornando cada vez mais comum nos canaviais, principalmente no final da safra. O retardo no ritmo de crescimento para o acúmulo de mais açúcar ocorre devido à temperatura do ar, umidade do solo e luminosidade. Há efeito interativo entre luz solar, temperatura e diferentes variedades de cana-de-açúcar em resposta ao processo de maturação.
Dentre os inúmeros fatores que atuam sobre a maturação da cana-de-açúcar o clima é o mais importante e preponderante. A gradativa queda de temperatura e redução das precipitações é determinante para a ocorrência do processo de maturação. Por isso, a maturação é mais difícil em situações de altas temperaturas e precipitação pluvial. Na região Centro-Sul do Brasil, por exemplo, o processo tem ocorrência natural a partir de abril/maio, com clímax no mês de setembro. Temperaturas de 17-18ºC parecem ser particularmente favoráveis para o acúmulo de altos níveis de sacarose.
A época de aplicação dos produtos químicos, doses utilizadas, época de corte da matéria-prima e variedades são também alguns dos fatores que podem influenciar na eficiência dos maturadores. Por outro lado as variedades precoces e tardias também têm maior dificuldade de maturação. Na figura 1 podem ser observados na região Centro-Sul os períodos quando são colhidas as variedade precoces médias e tardias.
Figura 1. Caracterização dos períodos de maturação da cana-de-açúcar na região Centro-Sul do Brasil para as variedades consideradas precoces, médias e tardias.
Variedades
A cana colhida nos meses de Outubro e Novembro (final de safra), e eventualmente em Dezembro quando há atrasos operacionais de colheita na região Centro-sul do Brasil, resulta em matéria-prima de baixa qualidade tecnológica para sua industrialização, pois fisiologicamente a planta reinicia o seu crescimento, convertendo seus açúcares em energia de crescimento. Este fenômeno ocorre devido às condições climáticas de temperatura e umidade (chuva) serem favoráveis ao crescimento vegetativo da cana. Os dados apresentados na Tabela 1 representam a média dos teores de sacarose em três estados brasileiros, onde pode ser observado que no início e no final de safra os teores de pol% (porcentagem em massa de sacarose aparente contida em uma solução açucarada de peso normal determinada pelo desvio provocado pela solução no plano de vibração da luz polarizada) da cana são reduzidos, quando então os maturadores podem ser utilizados, destacando que no final da safra objetiva-se evitar a queda do teor de sacarose na cana.
Fonte Idea (2010)
Os maturadores à base de herbicidas com mecanismo de ação da inibição da ALS (acetolactato sintase) têm sido aplicados pelos produtores de cana em final de safra com resultados satisfatórios de relação custo/benefício. Como resultado de sua aplicação a planta de cana-de-açúcar tem a síntese de aminoácidos alifáticos de cadeia lateral valina, leucina e isoleucina, inibida por estes herbicidas. Como consequência a planta de cana não retoma seu crescimento normal e mantém maior teor de ATR.
A aplicação dos herbicidas inibidores da ALS é feita normalmente em torno de 45 dias antes da colheita da cultura, via aérea. Ressalta-se a necessidade de planejamento de colheita para evitar a colheita tardia da cana, pois nesta situação começa a inversão de sacarose e degeneração dos tecidos nas plantas. Atualmente são poucos os produtos disponíveis no mercado para essa prática, portanto, há necessidade de desenvolvimento de novos produtos de alta eficácia e aplicabilidade para a cultura.
O Brasil cultiva mais de nove milhões de ha de cana, dentre os quais em torno de 15 a 20% são colhidos no final da safra, volume que potencialmente poderia ser aplicado com maturadores de final de safra. A decisão pelo produtor de uso dos maturadores é função principalmente da receita líquida que a cultura proporciona. Assim, nos anos de bons preços dos produtos finais (álcool e açúcar), a probabilidade de uso pelo produtor aumenta.
Outro fator que influencia o uso de maturadores no fim de safra é a precocidade do início das chuvas e a necessidade de estender a safra por algumas unidades. Esse aspecto tem sido muito comum nos últimos anos na região dos Cerrados, que ao final da safra tem temperaturas consideradas elevadas e alta precipitação, condições que estimulam o crescimento da cana e aumentam a necessidade de maturadores.
Destaca-se também que uma das tendências futuras dos sistemas de produção industrial da cana é levar para a indústria a palhada para a produção de bioeletricidade, e, quem sabe no futuro, o álcool de segunda geração a partir da celulose. Para que isso aconteça é desejável que na colheita exista o mínimo possível de folhas vegetando (folhas verdes), assim o uso maturadores no final da safra pode também contribuir para que isso ocorra.
* Pedro Jacob Christoffoleti é Professor Associado - ESALQ - USP - Departamento de Produção Vegetal, Marcelo Nicolai é Pós-doutorando ESALQ - USP - Departamento de Produção Vegetal e José Antonio de Souza Junior é Consultor Técnico de Pesquisa da IHARA.
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