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Kamila Pitombeira
07/10/2011
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A rastreabilidade tem sido foco de discussões em diversos setores rurais. Quando o assunto é a produção bovina, existem práticas que devem ser mudas e existem investimentos que devem ser feitos, como a qualificação da mão-de-obra. Isso porque, antes de apresentar toda a história da produção para os consumidores, o produtor deve medir a produção internamente. Para isso, nada melhor que investir sim na qualificação. Esse foi um tema abordado no Curso de Formação de Jurados de Carcaças Bovinas, que aconteceu entre os dias 31 de agosto e 2 de setembro, em Jaboticabal (SP) e discutido com André Bartocci, pecuarista de recria e engorda no sul do estado do Mato Grosso do Sul.
Segundo Bartocci, a moderna pecuária de pasto brasileira é a única produção de animais sustentável do mundo. Para ele, é a melhor produção de proteína animal do mundo porque leva em consideração todos os aspectos bons da produção, como subprodutos de boa qualidade. Nesse contexto entra ainda a questão da rastreabilidade.
— Para mim, rastreabilidade quer dizer contar uma história. Essa história tem duas formas de ser contada. A primeira delas é internamente, ou seja, saber qual é a história da sua produção. A segunda é a história que você conta do seu produto para vendê-lo ao consumidor ou mercado em geral — explica ele.
O pecuarista diz que a história interna é muito importante e que a pecuária brasileira não mede sua produção. Nesse caso, ele afirma existir um stigma brasileiro quando o assunto é rastreabilidade, pois ela foi empurrada ao produtor de maneira obrigatória, mas que, na realidade, é uma boa opção que deve ser buscada.
— A primeira coisa importante a perceber é que nós, produtores, sabemos pouco sobre nossa história interna, além de contarmos mal nossa história para os consumidores. Portanto, existem vários pontos a serem mudados na pecuária brasileira, mas alguns deles já estão sendo. A cadeia da pecuária, principalmente a parte da produção, está sendo mudada, mas um dos problemas é a falta de relação da cadeia como um todo, ou seja, indústria, varejo e produção para atingir o consumidor de forma correta — conta ele.
Bartocci fala também que a moderna pecuária de pasto brasileira é altamente sustentável, mas que existem exceções. Apesar disso, ele afirma que em 80% dos casos, produtores que produzem nesse tipo de pecuária conseguem manter sustentável um boi do nascimento ao embarque.
— Pecuaristas, em geral, respeitam a questão ambiental. Temos uma legislação muito boa e devemos segui-la. Nossos animais são produzidos em seus habitat naturais, são respeitados em 90% dos casos e a maior parte da produção brasileira a pasto leva em consideração o manejo racional. O único dia não digno do animal é o dia do abate, o que deve ser melhorado — afirma.
Para o pecuarista, outro problema grave quando o assunto é a sustentabilidade é a mão-de-obra brasileira. Ele fala que, durante anos, essa mão-de-obra não foi preparada efugiu para a agricultura, para o agronegócio e para a cidade. Outro problema citado por ele é a não existência de centros de formação de mão-de-obra, por exemplo.
— Para mudar isso no dia a dia, por exemplo, encontramos cursos práticos voltados para a mão-de-obra. É importante que o pecuarista busque esses cursos com empresas estatais, como a Embrapa, e com outras empresas do ramo. No entanto, somente isso não basta. É preciso reinventar a mão-de-obra, o que é um grande desafio — explica.
Bartocci conclui que a rastreabilidade apresenta então dois problemas. Um deles é o custo dos materiais usados, que são muito caros. No entanto, com a tecnologia, chips para a rastreabilidade tendem a ser mais baratos. O segundo problema é a mão-de-obra.
— As pessoas não medem a produção porque, para isso, precisam de uma mão-de-obra diferenciada. O peão tradicional precisa aprender tecnologias, aprender a medir, somar e saber o que é importante na produção — orienta.
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