“90% do consumo dos países é o que é processado e consumido localmente, só 10% é exportação”, disse José Antonio do Prado Fay, presidente da BR Foods, durante o Congresso Brasileiro de Agribusiness (realizado em Agosto). Uma menção que considero sutil, mas de alta importância estratégica quando falamos do agronegócio. Quando olho para a cadeia de valor do agribusiness, em linhas gerais o antes da porteira das fazendas (insumos e bens de produção para a agropecuária) representam 10%; o dentro da porteira das fazendas (a produção rural propriamente dita) significa 20% do volume total da cadeia; e o grosso desse montante, somando 70%, é o que é processado, distribuído, comercializado e oferecido como serviços do setor de alimentos e bebidas, o pós porteira das fazendas (a agroindustrialização, varejo e serviços do setor). Fica evidente, a partir da visão dos números, a importância para o agronegócio brasileiro da criação de companhias que reúnam escalabilidade global, gestão de “brand”, e talento administrativo para operar plantas e marketing localizados, ao longo de todo o planeta.
Precisamos de agroindústrias e cadeias de distribuição com real poder de “glocalidade” (pensamento global com ação local). A exportação de alimentos processados e de valor agregado, significam apenas 10% do total consumido no mundo. 90% é oriundo de atividades implantadas e localizadas nos mercados onde o consumo ocorre. Desta forma, o apoio e o incentivo à orquestração de companhias fortes, atuando como efetivas locomotivas do agronegócio, tendo presença nos mercados locais, é condição “sine qua non” para adentrarmos na parte generosa e substanciosa do bolo do agribusiness: os 70% do pós-porteira das fazendas.
Não é nada excludente uma política de acesso aos mercados, pela via das exportações para a nova geração de “commodities”, onde já vem embarcadas a tecnologia, a sustentabilidade e os padrões exigentes da origem; e ao mesmo tempo, a configuração de grandes corporações, como BR Foods; JBS; AMBEV e outras, para a parte da agregação de valor “in loco” dos produtos. Além disso, não deveríamos estranhar a importância de termos redes de distribuição poderosas para a competição “glocal”, onde a regra do jogo é chamada de “capilaridade”. Nesse sentido, o Sr Abílio Diniz e o BNDES não estariam tão errados assim.
A síntese do Congresso é a de que vivemos um verdadeiro choque de demanda, por energia renovável e alimentos; e que os próximos 10 anos continuariam a ser demandantes. A política pública e a eliminação dos velhos entraves brasileiros, como o custo Brasil, burocracia e “lego” tributário; são os assuntos recorrentes para que o Brasil possa aproveitar a década onde já entramos.
Vale ainda salientar que há um gigantesco espaço para o “middle market”, dentro do agronegócio, tanto no campo das “commodities” especiais, ou dos embarques de alguns “containers”, de grãos mesmo; assim como para as pequenas e médias empresas agroindustriais brasileiras, que podem e devem buscar parcerias e acordos com “players” existentes em todos os mercados externos.
Entretanto, o grande negócio do agronegócio é local: o pós-porteira das fazendas.
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