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Kamila Pitombeira
23/02/2015
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A mastite bovina é um dos principais problemas que afetam as vacas leiteiras. No entanto, os remédios que costumam ser utilizados podem prejudicar ainda mais a saúde dos animais, podendo até mesmo provocar a morte dos mesmos. Apresentada na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), a dissertação “Atividade Antimicrobiana de Barbatimão (Strephnodendron adstringens). Martius-Coville em Agentes Causadores da Mastite” traz o barbatimão como alternativa para o tratamento da mastite sem prejudicar os animais e sem agredir o meio ambiente, pois sua extração é totalmente sustentável. Segundo Diego Bardal, mestrando em Ciências Agrárias da UFMG e autor da dissertação, o barbatimão é uma planta nativa do Cerrado que possui substâncias chamadas taninos, uma das classes de metabólitos secundários dos vegetais.
— O metabólito secundário que possui ação nesse caso chama-se tanino, podendo ser condensado ou hidrolisado. Esses taninos possuem várias propriedades, mas as três principais são as propriedades antioxidantes, quelantes de metais e complexação de macromoléculas, principalmente proteínas e polissacarídeos. Nesse caso, a principal ação empregada são as propriedades quelantes de metais e complexação de macromoléculas, que fazem com atuem farmacologicamente como antimicrobianos frente a alguns microorganismos. Entre esses microorganismos, estão incluídos os que causam a mastite bovina. Na pesquisa, testamos os dois principais: a Escherichia coli e o Staphylococcus aureus — conta o mestrando.
Para ele, vários são os benefícios da planta. Como ela é nativa do Cerrado, onde costuma-se ter menor renda, esse é um tipo de terapia de caráter sustentável. Isso porque o próprio meio ambiente fornece o vegetal e como essa prática é extrativa ou até de cultivo, ou seja, não é preciso matar a espécie, o vegetal pode servir de fonte recorrente para o produtor.
— Sendo o tratamento fitoterápico retirado da planta, quando administrado no animal, as chances de reações adversas aos medicamentos e as chances de que esse medicamento se acumule como resíduo e que esse resíduo possa vir à mesa dos consumidores reduzem em relação aos antimicrobianos sintéticos hoje utilizados. Caso fosse produzido um medicamento a base dessa matéria-prima, provavelmente, seria um medicamento de menor custo também — explica Bardal.
De acordo com ele, hoje, o tratamento da mastite bovina é geralmente realizado por antimicrobianos sintéticos. Ele conta que o antimicrobiano sintético vem sendo utilizado indiscriminadamente desde a década de 1970 e tem causado a seleção de microorganismos resistentes. Hoje, isso tem causado a superpopulação de bactérias resistentes, o que faz com que esses antimicrobianos não sejam mais efetivos na cura da mastite. Então, outras formas de medicamentos estão sendo procuradas, onde entram os fitoterápicos, que não causam também as reações de hipersensibilidade no animal e diminuem os índices de descarte.
— A dissertação foi a primeira etapa, ou seja, a etapa in vitro. A ideia do prosseguimento do trabalho é o desenvolvimento de uma formulação farmacêutica para aplicação no bovino. Hoje, com os resultados obtidos, é possível fazer apenas um desinfetante para o teto da vaca, para pré e pós dippings, nas ordenhas. Porém, trabalhando a fórmula farmacêutica, será possível desenvolver fórmulas intramamárias, posteriormente, um gel para massagem dos tetos e até mesmo fórmulas como sólidos orais — afirma.
Para mais informações, basta entrar em contato com a UFMG através do número (31) 3409-5000.
Reportagem exclusiva originalmente publicada em 22/08/2011
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