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A soja louca II é uma grave anomalia que tem ocorrido nas plantações de soja em diversas áreas de lavoura pelo País, nos últimos anos, principalmente no Norte do Mato Grosso, Tocantins, Maranhão e Pará. 

Esta anomalia causa deformações na planta que a impede de produzir vagens normais ou reduz a qualidade dos grãos colhidos por provocar retenção foliar e hastes verdes, resultando na redução da produtividade e na perda de qualidade da produção. Além de dificultar a colheita pode até comprometer o processo de armazenagem causando apodrecimento da massa de grãos.

A preocupação com este problema se agrava pelo desconhecimento do agente causal, o que impede que ações efetivas sejam tomadas para evitar a soja louca II. Inicialmente suspeitou-se que o agente transmissor poderia ser um ácaro preto que ocorre nas lavouras, geralmente associado a palhada que cobre o solo nas áreas com plantio direto.

Testes realizados em bioensaios através da inoculação de parcelas de soja com o ácaro preto coletado de áreas afetadas com a soja louca II não provocaram a contaminação das plantas, derrubando esta hipótese.

Nos dois últimos anos formou-se uma grande rede de pesquisa no Brasil para discutir o problema e tentar descobrir o motivo da anomalia e até o momento os estudos apontam para uma relação entre a soja louca II e a presença de plantas invasoras durante a entressafra. 

Outra hipótese que tem sido levantada é a presença de um agente causal tipo fitoplasma. Nesta safra as amostras já estão sendo coletadas em campo e analisadas pelos pesquisadores.

Experiências estão mostrando que a anomalia é mais grave e se manifesta em uma área maior quando a dessecação é feita perto da data de plantio da soja ou quando houve muita presença de plantas invasoras. Os efeitos mais brandos da soja louca II nesta safra estão confirmando as suspeitas dos pesquisadores. 

Nesta safra a seca foi maior e o cenário foi desfavorável para a formação de grandes quantidades de plantas invasoras. Isto pode explicar porque esta safra está tendo menos problemas com a doença do que a safra passada, em que a intensidade foi maior.

Observações de campo estão verificando menor incidência da soja louca II em áreas de lavoura que foram implantadas em rotação com milho consorciado com braquiária, onde ocorre excelente formação de palhada e redução de plantas daninhas de difícil controle, como por exemplo, o andropogon.

Em campo verificou-se uma maior incidência da soja louca II implantadas em áreas com alta infestação do andropogon, que é um hospedeiro do ácaro preto, o que levou alguns técnicos a recomendarem o manejo pós-colheita como uma prática para minimizar o risco dessa anomalia, porém, esta prática tem impossibilitado a formação de palhada, o que pode comprometer a sustentabilidade do sistema plantio direto (SPD).

O SPD é um sistema de cultivo que se baseia em três princípios fundamentais: ausência de revolvimento do solo ou revolvimento mínimo da linha de plantio, proporcionado pelo uso de máquinas apropriadas; biodiversidade, alcançada pela rotação de culturas e pela integração lavoura-pecuária; e cobertura permanente do solo, possibilitada pela produção de palhada pelos resíduos das culturas comerciais e/ou pelo cultivo de plantas de cobertura do solo.

Dessa forma, nas áreas cultivadas com feijão das águas ou com soja de ciclo precoce/médio, na região Centro-Oeste, torna-se imperativo o cultivo de milho e sorgo na safrinha, e/ou a implantação de plantas de cobertura do solo como, braquiárias, capim pé-de-galinha, milheto, crotalária, guandu etc., que além de produzirem palhada para o SPD, auxiliam no controle da soja voluntária e de plantas daninhas, que podem ser hospedeiras de pragas e doenças.

Nas áreas cultivadas com soja de ciclo tardio e/ou onde o clima não favorece o cultivo de safrinha e/ou de plantas de cobertura é imprescindível a eliminação das plantas voluntárias de soja e de plantas daninhas de difícil controle, potenciais hospedeiros de pragas e doenças, adotando-se o manejo pós-colheita, o qual é realizado através da aplicação de herbicidas de efeito total, não seletivos, geralmente à base de 2,4-D e glifosato.

A implantação das culturas de cobertura do solo pode ser realizada em sobressemeadura na soja, quando as folhas começam a amarelar, mas antes da sua queda, ou após a colheita do feijão ou da soja, através do plantio com semeadoras de trigo ou arroz.

A incorporação das sementes das plantas de cobertura com grade ainda é bastante utilizada na região, porém esta prática não é recomendada porque causa grande prejuízo a sustentabilidade do SPD, pois provoca a queima de matéria orgânica (6 a 8 toneladas de matéria seca por hectare) e a redução de até 90% da atividade biológica na camada superficial do solo, em especial de 0 a 5 cm, onde se concentra 80% dos microorganismos vivos do solo.

Outra possibilidade de implantação das plantas de cobertura é através do plantio consorciado com a cultura de safrinha, utilizando-se o Sistema Santa Fé (Embrapa), onde as sementes das espécies forrageiras (braquiárias) podem ser distribuídas a lanço antes do plantio, em milho ou sorgo com espaçamentos reduzidos do (0,45 a 0,50 m); podem ser misturadas ao adubo de plantio; podem ser misturadas ao fertilizante nitrogenado de cobertura (uréia), ou até mesmo sobressemeadas a lanço, aos 25 dias após o plantio.

Na implantação da planta de cobertura do solo deve-se observar se a mesma não é hospedeira da ferrugem e de outras doenças como o mofo branco e de pragas como os nematóides, que poderão atacar a próxima cultura a ser cultivada na área.

A orientação e assistência técnica de um engenheiro agrônomo, com conhecimento e experiência no SPD e no manejo das plantas de cobertura é indispensável para o cultivo de plantas de cobertura visando à formação de palhada, que é insumo fundamental para a sustentabilidade dos sistemas de produção agrícola em países de clima tropical como o Brasil.
 

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