No ano de 2050, quando a população do nosso planeta tiver atingido 9 bilhões de habitantes, provavelmente se intensifiquem as dificuldades de fornecimento de dois insumos fundamentais para a vida humana, alimentos saudáveis e água potável.
Atualmente 1/3 da população mundial já enfrenta problemas de escassez de água, seja pela sua baixa oferta, ou seja, por problemas de contaminação dos mananciais e reservatórios.
Várias são as atividades com potencial poluidor das águas, tanto no setor industrial, como no meio rural e, principalmente, no dia a dia das pessoas que habitam as acidades.
Infelizmente ainda é grande o volume de efluentes lançados pelas indústrias nos corpos d’água, sem o tratamento adequado, como pode ser visto nos leitos dos rios que cortam as grandes cidades como, por exemplo, o Tietê e o Pinheiros, em São Paulo.
A maioria das cidades também lança toneladas de esgoto, sem tratamento ou com tratamento inadequado, diretamente no mar, tornando algumas praias impróprias para banho, ou nos rios, contaminando a sua água e praticamente eliminando os seres vivos que a habitam, em especial as algas e os peixes.
No campo, felizmente o problema da erosão e da contaminação dos corpos d’água vem sendo reduzido significativamente nas duas últimas décadas, graças à ampla adoção do Sistema Plantio Direto (SPD), tecnologia genuinamente brasileira, desenvolvida pelos produtores rurais, que reduz a erosão e a perda de água em até 90%.
Com o SPD, o solo fica protegido com resíduos vegetais (palhada), aumentando a infiltração da água das chuvas, reduzindo ou praticamente eliminando o seu escorrimento sobre a superfície, possibilitando a recarga dos aquíferos e a regularização de vazão das nascentes, que formam riachos e rios e alimentam os lagos e represas.
A redução do escorrimento da água também diminui o carregamento de sedimentos de solo que causam a contaminação da água que é utilizada para ´rretamente no mar ou nos rios, tornando algumas praias impminaçis insumos fundamentais para a vida humanao abastecimento da população urbana, reduzindo substancialmente os custos do seu tratamento para se tornar potável.
O assoreamento dos rios, lagos e represas também é reduzido, aumentando a vida útil dos reservatórios, em especial das usinas hidroelétricas, além de diminuir o desgaste das turbinas e os custos da sua manutenção, refletindo no menor custo da geração de energia elétrica.
Todos esses benefícios já vem sendo percebidos na prática, tanto pelos produtores rurais, como pelas companhias de saneamento e fornecimento de água das cidades dos estados da região Sul do País, além das empresas geradoras de energia, em especial a Binacional Itaipu, que em parceria com a Federação de Plantio Direto na Palha (FEBRAPDP) vem incentivando adoção e a melhoria da qualidade do SPD pelos produtores das bacias hidrográficas dos rios que contribuem para o abastecimento do Lago Itaipu.
Recentemente a ecóloga Jane Siqueira Lino, estudante de pós-graduação da Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” (ESALQ), da Universidade de São Paulo (USP), orientada pelo professor Gerd Sparovek, do Departamento de Ciência do Solo utilizou um modelo espacial de erosão para avaliar a carga de sedimentos em 23 bacias hidrográficas do Rio Grande do Sul, comparando a região Noroeste do estado, predominantemente agrícola, com a região Sul tradicionalmente de pecuária, em três períodos distintos: 1985, início da adoção do SPD; 1996, ano de consolidação do sistema; e 2006, ano da sua máxima adoção.
Os resultados mostraram que a carga de sedimentos não variou nas bacias da região Sul entre os anos de 1985 e 2006. Na região agrícola, houve redução da carga de sedimentos entre os períodos 1985-1996 e 1996-2006, em função do aumento da adoção do SPD. Na prática, a adoção do SPD promoveu uma redução média de 82% na carga de sedimentos, valor próximo da redução das taxas de erosão que tem atingido até 90%.
Estes resultados atestam a relevante contribuição do SPD na melhoria da qualidade da água e na conservação do solo, além de subsidiar a avaliação da geração de serviços ambientais pelos produtores rurais, fazendo jus a remuneração por tais serviços prestados a toda sociedade.
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