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     22/11/2024            
 
 
    

O Brasil se destaca como o maior exportador mundial de carne bovina e o segundo maior produtor, atrás apenas dos Estados Unidos, que tem grande parte do seu rebanho alimentado com base em grãos. Já o nosso rebanho é principalmente um “boi de capim”, permanecendo no pasto quase toda sua vida. Então como avaliar o que será melhor e mais eficiente em termos de pastagens para que a produção animal seja sustentável e rentável ao mesmo tempo? Uma variedade de metodologias precisa ser aplicada para estimar o potencial de uma forrageira. Isso por que ela em si não é o alvo direto da avaliação dos agrônomos e zootecnistas. O alvo é o animal, que ao utilizá-la necessita mostrar desempenho. A isso chamamos de avaliação indireta onde o indicativo de uma boa forrageira é o ganho em peso individual ou por área, o ganho em precocidade reprodutiva, ou ainda o aumento em produção de leite.

Então como fazer para estimar o valor nutritivo de uma pastagem? Sabe-se que a qualidade de uma forrageira depende de inúmeros fatores intrínsecos bem como de externos como, por exemplo, o tipo de solo em que é cultivada, o clima e em qual estação do ano concentra seu crescimento, seu tipo de florescimento (se concentrado ou disperso), freqüência de utilização pelos bovinos, e níveis de fertilizante utilizados para repor o que foi removido pelo animal em pastejo. Assim para se determinar o valor nutritivo é necessário conhecer a fenologia da planta, realizar amostragens freqüentes e analisar as amostras com a maior exatidão possível. Tudo isso sem contar com o fator da preferência animal que seleciona com base na arquitetura da planta e volume de folhas.  Podem-se usar as análises químicas tradicionais para estimar o conteúdo de proteína bruta, de fibras em detergente neutro e detergente ácido e mesmo a digestibilidade in vitro que por sua vez simula no laboratório o que ocorre no interior do rúmen. De posse dessa informação é possível comparar forrageiras e predizer aproximadamente qual resultará em melhor desempenho animal. A análise química poderá ser complementada por uma análise física dessa forragem como a que mede a resistência à moagem e ao cisalhamento. Isso porque o animal terá que remover a parte aérea do pasto com dentes e lábios e depois ruminar tal forragem para reduzir o tamanho das partículas a fim de que as bactérias e protozoários do rúmen efetivem a decomposição. Os teores de fibras interferem diretamente nessa decomposição por isso quanto maior a força necessária para moer ou cisalhar a amostra, maior deverá ser o tempo de retenção da forragem no rúmen e isso implica no menor consumo. O animal saciado não volta a consumir pasto até que o rúmen se esvazie.

Ainda outra análise que auxilia na explicação dos resultados de desempenho animal é a análise anatômica dos tecidos da planta, pois dependendo da estrutura dos tecidos e depósito de substâncias menos digestíveis como a lignina, por exemplo, o material demorará mais ou menos tempo no rúmen. Excesso de cutina sobre as folhas, estrutura girder (lignificação de tecidos), espessura do xilema e floema podem determinar uma lenta decomposição reduzindo a taxa de passagem no rúmen. É possível ainda realizar uma análise biológica da forragem na qual se mede a taxa de desaparecimento usando-se sacos de nylon contendo amostras moídas de peso conhecido colocadas dentro do rúmen de animais fístulados. Pode-se ainda usar garrafas de vidro contendo as amostras e simular a digestão in vitro usando líquido ruminal, saliva artificial e soluções tampão em banhos-maria para manter a fermentação anaeróbica como no animal e ainda medir a produção de gases resultante da fermentação. Se realizarmos a amostragem no campo simulando o pastejo, isto é, recolhendo amostras com a mão como se fosse a boca do boi, poderemos ter resultados mais realistas, mas ainda assim não deixam de ser estimativas de consumo e qualidade. Tudo isso para exemplificar o quanto é complicado avaliar forrageiras quando o que se precisa é predizer o desempenho animal. Nem por isso deixa-se de ter sucesso com forrageiras em pastagens desde que sejam seguidas as recomendações de uso e mediante análises criteriosas chega-se bem próximo do que realmente engorda o boi.
 


 

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