A apicultura é uma atividade rentável que exige manejo diferenciado entre o período produtivo e a entressafra. Se na época de produção de mel e pólen o apicultor precisa ter cuidado para evitar que suas abelhas coletem alimentos industriais, como o açúcar, a rapadura e os refrigerantes, durante a entressafra falta alimento no campo e o fornecimento de alimentação é necessário para garantir a manutenção das colônias.
Existe ainda, em algumas ocasiões especiais, a necessidade de alimentar as colônias durante o período de florada. Como exemplo pode ser citado o período de florescimento do cipó uva (Serjania sp.) na região do Crato, Ceará, pois o teor de pólen produzido na região nesta época não é suficiente para manutenção das crias. Nesse período, mesmo na presença abundante de néctar, se não houver uma suplementação protéica a produção de mel é comprometida devido ao enfraquecimento das famílias.
Outros exemplos em que é necessário fornecer alimento às colônias em pleno período de florada são: durante o florescimento de plantas tóxicas para as abelhas (com o objetivo de desviá-las dessa fonte de alimento), em serviços de polinização de algumas culturas e na produção de rainhas, entre outras atividades apícolas.
As colônias devem ser alimentadas tão logo seja identificado o enfraquecimento das mesmas, não existindo uma época certa para a alimentação, uma vez que este período varia de acordo com a região e o objetivo da criação. A quantidade de cria, o estado geral da colônia, a quantidade e qualidade de néctar e pólen coletados pelas abelhas determinam a necessidade de fornecimento da alimentação suplementar.
Para suprir a deficiência nutricional das abelhas no período de escassez de alimento, pode ser fornecido alimento energético, protéico ou energético-protéico. A decisão vai depender dos recursos disponíveis em cada região e época do ano.
Os alimentos energéticos mais utilizados são o xarope de água e açúcar e o xarope invertido. Para a fabricação desse primeiro xarope, é necessário misturar água e açúcar na mesma quantidade, colocar a mistura no fogo e mexer até o açúcar se dissolver por completo. Para evitar que se estrague, o seu fornecimento deve ser feito no mesmo dia em que for produzido, tendo-se o cuidado de retirar das colônias o alimento que não for consumido pelas abelhas em 24 horas. Após este período, inicia-se a fermentação e o alimento restante deve ser descartado. Para manutenção das colônias, pode ser fornecido 0,5 litro/semana/colônia, contudo, quanto maior a quantidade fornecida, maior a população e a resistência das colônias. Colônias muito fracas não conseguem consumir esta quantidade de alimento no prazo necessário. Nesse caso, deve-se fornecer uma quantidade menor de alimento, evitando prejuízo tanto às abelhas quanto ao produtor pela possibilidade de perdas de enxames e de desperdício de alimento.
Outra receita de alimento energético difundida é o xarope invertido. Produzido com cinco quilos de açúcar, 1,7 litros de água e cinco gramas de ácido tartárico ou ácido cítrico, esse xarope permanece no fogo por 40 a 50 minutos. O ácido inverte a sacarose em glicose e frutose, pré-digerindo o xarope e facilitando a absorção do alimento pelas abelhas, mas também aumenta o teor de hidroximetilfurfural (HMF), podendo tornar o xarope tóxico. Sendo assim, alguns pesquisadores recomendam que o xarope seja fervido somente por três minutos.
O HMF é uma substância naturalmente presente no mel e no xarope de açúcar invertido e pesquisas realizadas nos Estados Unidos demonstram que pode ser prejudicial à saúde das abelhas a partir de uma concentração de 150 miligramas por litro. Pesquisas realizadas na Embrapa indicam que o tempo ideal para inversão do açúcar no xarope ocorre com 63 minutos de fervura. Entretanto, durante esse processo, o HMF passou da concentração de 49,37±0,62 milligramas por quilo após 30 minutos de fervura, para 125,84±0,46 milligramas por quilo aos 45 minutos. Desta forma, apesar de nesse período não haver inversão suficiente do açúcar, o tempo de fervura não deve ser superior aos 30 minutos devido ao teor HMF formado.
Para conciliar a inversão da sacarose, baixo teor de HMF e baixo custo de produção, a Embrapa recomenda a produção do xarope invertido com cinco quilos de açúcar, cinco litros de água e cinco gramas de ácido. A mistura deve permanecer no fogo por 15 a 25 minutos após a fervura. Fornecer 500 mililitros uma ou duas vezes por semana para cada colônia. Em algumas regiões, os apicultores possuem dificuldade em encontrar o ácido cítrico ou tartárico para produção do xarope invertido. Estes ácidos podem ser substituídos pelo suco de limão. Nesse caso, após o início da fervura de cinco quilos de açúcar diluído em cinco litros de água, deve-se adicionar o suco de quatro limões e deixar a mistura permanecer no fogo por 30 minutos. Com esse tempo de fervura, ocorre a inversão de 36% da sacarose e a formação de somente 18,49 miligramas por quilo de HMF. Caso o produtor deseje uma maior inversão do açúcar, poderá ferver o xarope até os 45 minutos, obtendo 50% de inversão da sacarose e a formação 47,94 miligramas por quilo de HMF. A utilização de suco de limão é vantajosa porque ocorre menor formação do HMF, quando comparado à utilização do ácido cítrico.
A substituição do ácido cítrico ou tartárico pelo ácido acético (vinagre) também foi pesquisada. Contudo, além de não haver inversão do açúcar, o xarope fica com sabor e odor de vinagre, demonstrando que essa não é uma opção viável.
O enriquecimento do xarope com aminoácidos tem sido usado por alguns apicultores. Contudo, muitos produtores adquirem esse complemento em forma de pó. Nesse caso, para evitar a precipitação, a quantidade colocada no xarope é pequena. Pesquisas realizadas na Embrapa Meio-Norte não demonstram diferença entre o desenvolvimento das colônias de Apis mellifera alimentadas com xarope, xarope invertido e xarope enriquecido com formulação de aminoácidos em pó. O xarope com complemento do aminoácido possui um odor forte
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