É indiscutível a importância que tem a armazenagem de grãos no País frente ao momento em que o Brasil se coloca como um dos maiores produtores de alimentos do planeta e considerando também a questão de segurança alimentar de nossa população. Porém, se observamos a evolução tecnológica ocorrida nos cultivos (sementes, insumos, maquinário, entre outros), bem como, a evolução ocorrida nos processos industriais (indústrias de alimentos, fábricas de ração) vamos observar que na área de armazenagem não obtivemos a mesma magnitude.
Ainda observamos perdas significativas no processo de pós-colheita e armazenagem, sendo apontados por diversos estudos governamentais e privados. Tais perdas se dão em quantidade e em qualidade e apontam prejuízos econômicos e riscos de saúde pública (contaminações por fungos, insetos, resíduos químicos etc.).
Um dos motivos que levam a esta disparidade entre a evolução tecnológica em cultivos e processos industriais quando comparado ao setor de armazenagem é que este muitas vezes é tratado de forma secundária, ou seja, temos ótimos produtores que se dedicam a produção de grãos e que fazem armazenagem para agregar valor aos seus produtos e igualmente algumas indústrias que tem armazenagem para manterem os estoques e aproveitarem ganhos na compra de produtos em baixa.
Quero dizer com isto que, a área de armazenagem precisa ser tratada como um negócio em si e não mais como um coadjuvante da produção ou da indústria. É fundamental que ocorra uma profissionalização focada na armazenagem.
Feito este comentário inicial sobre o negócio armazenagem, entendimento primordial para que se possa pensar a qualidade na armazenagem de grãos, o segundo ponto a ser compreendido é que o grão é uma semente, um ser vivo, tem seu metabolismo, e quando reunimos milhões destes seres em um armazém temos então um ecossistema vivo, que é composto também por impurezas, poeiras, insetos, ratos... E o importante para manter este ecossistema com baixa atividade metabólica é abaixar a temperatura da massa de grãos para que estes respirem menos, e que fungos e insetos não se proliferem. Em resumo, o estratégico é resfriar massa de grãos.
Para manejar a temperatura da massa de grãos são utilizados basicamente dois sistemas, o sistema de aeração e a termometria. Ou seja, monitora-se a temperatura e quando ocorre aquecimento se faz aeração. Porém, outros dois conceitos são imprescindíveis para o correto manejo do ambiente massa de grãos, quais sejam, exaustão e distribuição dos grãos.
Quanto à exaustão, que é um conceito muito recente, podemos considerar que é um importante item a ser observado. Em uma massa de grãos há uma interação do grão e o ar que o circunda. Para se ter uma noção, podemos tomar como exemplo a massa de grãos de arroz em casca que contém em torno de 58% de ar ocupando o espaço intergranular. Ou seja, qualquer alteração no ar provoca alteração no grão, como perda de base úmida, por exemplo, em função da capacidade de equilíbrio higroscópico do grão provocado muitas vezes por aerações com umidade relativa do ar externo baixa.
O sistema de exaustão bem dimensionado tem a função de remover bolsões de calor que tendem a se formar no interior da massa e que pelo espaço intergranular tendem a subir (princípio físico da convecção). Porém, em um silo ou armazém que não possui sistema de exaustão o calor formado no interior da massa não consegue subir, pois encontra um bolsão mais aquecido formado pela radiação calórica absorvida para o interior do ambiente através do telhado do silo e/ou armazém. Assim, tem-se observado que unidades de armazenagem com sistema de exaustão eficiente, bem dimensionado, tem o consumo de energia elétrica na aeração reduzido em até 70% e com temperaturas homogêneas em toda massa.
Quanto ao sistema de distribuição de grãos é importante considerar que em uma massa de grãos temos em torno de 2% de impurezas (tecnicamente aceitável), porém, se este percentual se concentrar em alguns pontos teremos sérios problemas que somados a formação de dutos de compactação que ocorrem no momento de enchimento do silo ou armazém dificultam a passagem do ar de aeração e formam microclimas (focos) para ativação de fungos e insetos. Quando o enchimento do silo ocorre pelo centro forma-se um duto central de compactação e impurezas densas (grãos quebrados e matérias estranhas) sendo as impurezas menos densas (casca, palhas...) escorridas para as laterais. Quando utilizado espalhador giratório (elétrico ou gravitacioanl) os dutos se invertem. O que é mais denso é jogado mais longe, junto à parede do silo, e o que é menos denso cai no centro, além do que neste caso temos agravado o problema de compactação, pois os grãos são arremessados pela força centrífuga contra outros grãos e as paredes do silo.
Neste sentido, para qualificarmos a armazenagem de grãos precisamos mais estruturas de silos e armazéns, melhorar as estruturas existentes (exaustão, distribuição, hermeticidade do silo para evitar perdas de aeração pela base e laterais...) e investir em formação, capacitação de gestores, técnicos e trabalhadores do setor. Ou seja, equipamentos e conhecimento são pré-requisitos para a qualificação.
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