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Centenas de hectares de terra espalhados pelo país sofrem com a exploração incorreta e se tornam impróprios para a plantação. Os motivos são vários, entre elas a exploração de minérios que pode chegar a causar buracos de até 50 metros para a extração mineral. Para isso, a primeira coisa a ser feita pelos extrativistas é a remoção de toda a vegetação nativa da área, árvores são cortadas e toda a camada superficial do solo é destruída, acabando com as propriedades físicas, químicas e biológicas do solo e tornando-o estéril. Para recuperar centímetros de áreas degradas são necessárias décadas, dependendo do tipo de minério extraído e da região isso pode levar, no mínimo, 30 anos e não há garantias de que o solo volte a ter o mesmo nível de fertilidade do que antes da exploração.
Alguns pesquisadores brasileiros dedicam seus trabalhos à recuperação destas áreas degradadas, um deles é o professor de biogeoquímica da Unesp (Universidade Paulista) Wanderley José de Melo. Ele coordena a recuperação de uma área degradada pela extração de estanho na Floresta Nacional do Jamari, na Região Amazônica, Estado de Rondônia, e vai apresentar os resultados do que está sendo feito no local durante a 18º Reunião Brasileira de Manejo e Conservação do Solo e da Água, que acontece de 8 a 13 de agosto, em Teresina, Piauí.
— Nós temos vários tipos de mineração podemos extrair calcário, argila e no caso da palestra que será apresentada no evento é o trabalho sobre mineração em cafiterita, que é um minério de estanho. Toda a parte fértil e a vegetação que cobria o solo é removida para ser feita a escavação do minério, que chega a até 50 metros de profundidade. Com isso, você tem uma área totalmente estéril, não nasce nada nesta área, apesar de você ter toda a floresta amazônica no entorno com um excelente banco de sementes. O que a gente tem que fazer é tentar restituir ao solo as suas propriedades físicas, químicas e biológicas para devolver este solo para o sistema de pastagem ou para restituir a própria floresta nativa do local — diz Melo.
O professor explica que a primeira coisa que os pesquisadores devem fazer para começar a restituir a área é ir ao local e fazer um levantamento da vegetação ao entorno da área degradada para saber que árvores predominam e qual é o nível de fertilidade de solo da região. Depois, é preciso verificar como está a topografia do terreno e entender como ela foi alterada pelos buracos da mineração. Uma amostra do solo degradado é retirada para ser estudada nos laboratórios e é testada em casas de plantas experimentais para que os pesquisadores entendam que tipo de vegetação irá se adequar àquelas condições e que adubação precisa ser feita. A partir daí, começam as ações de fato na área.
No caso da recuperação da Floresta Nacional do Jamari, os pesquisadores instalaram terraços para conter a erosão e plantaram, durante três anos seguidos, um coquetel de leguminosas para adubação verde como mucuna preta e feijão de porco. Em paralelo a isso, foi feita uma adubação específica e calagem para permitir o crescimento inicial destas plantas. Aos poucos, o solo foi recuperando os níveis de nitrogênio, fósforo e matéria orgânica na camada superficial e, a partir do quarto ano, eles começaram a plantar mudas nativas da região. O projeto começou em 1997 e já há plantas que atingem os 30 metros de altura, mas Melo diz que ainda serão preciso décadas para que a produtividade e fertilidade voltem aos altos índices de antes da degradação.
— Anualmente é feito um poroamento das mudas, porque começa a crescer outro tipo de vegetação que vai concorrer com a muda, temos que fazer a reposição de mudas que provavelmente morreram, porque aquele material que sobrou tem pouca capacidade de retenção de água e a planta cresce bem no período chuvoso, mas no período seco ela corre o risco de morrer. A gente vai à área, tira uma mostra de solo do local que está sendo recuperado e da mata que está ao seu entorno e faz a comparação. Ainda não temos dados precisos para informar, mas deve ser coisa de mais 15 a 20 anos ainda para voltar aos níveis de fertilidade, mas a gente espera que com 7 a 10 anos já se pare de ter os cuidados, porque a partir daí, a própria natureza vai cuidando. As sementes germinam e gradativamente a paisagem vai se assimilando com a que existia antes — explica.
O professor de biogeoquímica diz que antes dos 40 anos de projeto não acredita que a fertilidade retorne como antes e nem sabe se quando chegar este tempo ela estará totalmente recuperada, mas diz que as medidas devem ser pensadas a longo prazo, principalmente a nível de floresta, o mais importante é dar condições para que o solo vá retomando a fertilidade gradativamente para que as raízes vão se aprofundando, as plantas crescendo e a fauna típica volte à área. Ele diz que este aspecto também é importante, já que quando a exploração mineral foi feita, retirou toda a cobertura do solo e expulsou a fauna que vivia na região.
— O que eu gostaria de colocar é que é muito importante não só na Amazônia, porque a gente gosta de falar muito na Amazônia, mas recuperar áreas do Brasil como um todo. Existem muitos e muitos hectares de terras que são degradadas e se tornam impróprias para a produção. Nós temos que tomar muito cuidado porque o solo é um patrimônio e um bem não-renovável. Para que você destrua uma camada de 5 centímetros de solo é preciso centenas de anos de recuperação — ressalta Melo.
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