Uma das perguntas sempre feitas na pecuária de corte é qual o tamanho do rebanho nacional?
Existem diversos dados publicados sobre o tamanho do rebanho brasileiro. Nas estimativas constantemente divulgadas os números variam entre cerca de 160 milhões a cerca de 205 milhões de cabeças. A diferença entre os dados, portanto, atingem a ordem de 40 a 50 milhões de cabeças. Até mesmo por dois critérios diferentes de estimativa do rebanho, o mesmo instituto (IBGE) apresenta números com diferenças da ordem de 35 milhões de cabeças.
Não são raras as ocasiões em que as discussões em torno do tamanho do rebanho brasileiro acabam gerando debates acalorados, muitas vezes carregados de emoção.
Pois bem, conhecer o rebanho é de extrema importância para o estabelecimento de políticas públicas e de estratégias comerciais para empresas relacionadas, tanto na produção de insumos como as indústrias que utilizarão os produtos oriundos da pecuária.
Em termos práticos, para fins de informações estratégicas de mercado, conhecer o rebanho permite estimar ou mesmo se antecipar à quantidade de animais que estão aptos ao abate em determinado período. Trata-se do acompanhamento simples da evolução do rebanho através da formação de estoques, do nascimento, mortalidade e do abate.
O regulador final do mercado é justamente a oferta de animais prontos, a serem abatidos. Observe, na figura 1, a evolução dos abates nos últimos anos.
Para estimar o número de cabeças abatidas nos últimos anos, a Bigma Consultoria coletou diversas fontes de dados, sendo que a base principal das informações é composta pela produção de carne divulgada pela Conab (Companhia Nacional de Abastecimento), e calibrada com as estimativas da Abiec (Associação Brasileira da Industria Exportadora de Carne). Finalmente, o número de cabeças abatidas é calculado pelo peso médio da carcaça abatida no ano.
Essa informação é obtida com base no peso total de carcaça e número total de animais abatidos no ano, divulgado pela pesquisa trimestral do IBGE.
A produção total de carne inclui o mercado informal, enquanto os dados da pesquisa trimestral do IBGE são compostos apenas por animais fiscalizados. Por isso adotamos tal critério, ao invés de usar diretamente o número de animais abatidos.
Comparando a estimativa de cabeças abatidas, com o rebanho, segundo os dados da pesquisa pecuária municipal do IBGE, chega-se à evolução da taxa de desfrute do rebanho brasileiro, conforme apresentado na figura 2.
O desfrute é a quantidade abatida sobre o total do rebanho brasileiro. É um indicador de eficiência, usado nas propriedades para conhecer a eficiência zootécnica do rebanho. Pode-se imaginar o Brasil como uma enorme fazenda de ciclo completo.
Os anos de picos do desfrute correspondem a anos de abates de matrizes, característicos dos períodos de ciclo de baixa do rebanho. Por isso dizemos desfrute aparente. Zootecnicamente, o rebanho trabalha com desfrute da ordem de 19%, considerando os dados da figura 2. Entre 2006 e 2007, o abate de matrizes teria superestimado o desfrute do rebanho nacional.
Considerando que o número de cabeças abatidas esteja correto, o principal indicador zootécnico do rebanho nacional (desfrute) varia de acordo com o número de cabeças que se considera no rebanho nacional.
Caso os dados da pesquisa pecuária municipal (PPM) do IBGE estejam corretos e o rebanho seja ao redor de 200 a 205 milhões de cabeças, o desfrute estaria na faixa dos 19% a 20%. Caso o rebanho divulgado pelo Censo de 2006 esteja correto, o desfrute do rebanho seria de 23% a 24%.
Em ambos os casos, o desfrute do período de 2006 e 2007 estariam superestimados. O que muda é apenas a faixa considerada para o indicador.
Evidentemente que para planejamento de uma indústria de insumos, por exemplo, ou para políticas de governo, interessa conhecer o real número do rebanho brasileiro. Mas para o mercado, o que interessa é quantos animais podem ser abatidos sem consumir o rebanho, conforme colocado anteriormente.
Grosso modo, o rebanho maior pressupõe um indicador zootécnico pior para a pecuária brasileira; enquanto o rebanho inferior considera que zootecnicamente a pecuária, em geral, esteja bem melhor.
Quando se diz que o desfrute é o principal indicador zootécnico da pecuária é porque se trata do indicador final, aquele que resumo todos os demais. O desfrute inclui os índices de fertilidade, natalidade, desmama, mortalidade, ganho de peso, etc.
Para efeito comparativo, a Bigma Consultoria considera que o desfrute em torno de 30% a 34% em uma fazenda de ciclo completo seja eficiente. Para atingir tal índice de desfrute, a fazenda precisa ser competente em todas as etapas de produção, desde a fertilidade das fêmeas até o ganho de peso nas etapas finais da vida do animal.
Todo o raciocínio nos leva obrigatoriamente a pensar na estratificação do rebanho brasileiro, ou seja, no número de animais por categoria e sexo. Quanto melhor forem os indicadores, menores as porcentagens de fêmeas aptas a parir no ano. Lógico, se os indicadores são melhores significa que as fêmeas são mais eficientes.
Aí sim o tamanho do rebanho começa a ser realmente decisivo para fins de planejamento. Há algum tempo o setor da cria tem sido o gargalo tecnológico da pecuária. E parece claro que este fator tende a mudar no curto prazo, com maior incorporação de tecnologias nas fazendas de cria.
Uma das evidências é a própria relação de troca atual, com o boi gordo valendo cerca de 1,8 bezerro com peso entre 6 a 7 arrobas. Na média histórica, essa relação é de 2,6 bezerros por boi gordo abatido com 16,5@.
Quando se analisa a evolução das relações de troca, fica clara a tendência de que o setor de cria vem se tornando cada vez mais o gargalo da pecuária nacional. A capacidade do Brasil em responder a estímulos na demanda com o aumento de produção dependerá do avanço tecnológico da produção de bezerros.
E voltamos à questão. Qual é realmente os índices zootécnicos médios do rebanho brasileiro?
Quanto melhor estiverem tais índices, mais difícil será a resposta em aumento da oferta; o que implicaria em um ambiente de preços crescentes no mé
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