O desmame ou a desmama caracteriza-se pelo cancelamento da alimentação com leite, situação essa experimentada pelas crias dos mamíferos. Em condições naturais, as próprias mães impedem que suas crias mamem e, com o tempo, separam-se das mesmas para que possam ter vida independente. Nos bovinos de corte no Brasil, geralmente realizamos o desmame quando as crias chegam ao oitavo mês de idade, em média, apesar de haver situações onde os animais são desmamados precocemente (em torno dos 4 meses de idade).
Analisando-se a época de concentração das montas no Brasil Central e Região Sul, associando-se a isso o período médio de gestação nos bovinos e somando os oito meses de idade quando são desmamados os bezerros e bezerras de corte, observamos que a prática do desmame se concentra entre os meses de março e setembro. Portanto, na maioria das vezes, os animais passam por esta fase em período de escassez de forragens no Brasil Central (período mais seco) e na Região Sul (inverno).
Independentemente da idade ao desmame, a época é marcada por grande estresse nas crias. A separação de suas respectivas mães significa alta vulnerabilidade com relação a perigos representados pelo homem e por predadores. Portanto, os animais ao desmame podem passar por período de baixa imunidade geral contra doenças, já que o estresse é responsável por transformações fisiológicas importantes que culminam com elevados níveis plasmáticos de substâncias produzidas no próprio organismo e que diminuem as defesas do organismo.
Por conta disso, os animais ao desmame ficam mais propensos a infecções que podem ser parasitárias (Tristeza Parasitária, Verminoses, Eimeriose, por exemplo) ou causadas por outros agentes. Outro aspecto importante é que, na maioria do território brasileiro, os desmames no gado de corte ocorre em época estratégica para o controle de verminoses (início do período seco no Brasil Central ou do inverno na Região Sul). Portanto, é preciso também tomar um cuidado especial com relação a este assunto no desmame.
Quanto à prevenção de doenças por meio de vacinações, é importante lembrar que, ao desmame, todos os animais já deverão ter passado pelo regime de primovacinações contra as principais doenças que ocorram na região em que habitam. É importante ressaltar que boa parte das doenças exige duas doses das vacinas específicas, a um intervalo entre 30 e no máximo de 90 dias, sob risco de perdermos a memória imunológica culminando com proteção inadequada e risco de mortalidades futuras.
Por exemplo: ao desmame, os bezerros e bezerras já deverão ter recebido duas doses de uma vacina altamente eficaz contra as principais Clostridioses. O mesmo deve-se notar com relação à Raiva dos Herbívoros nas regiões que registrem a incidência desta doença.
Antes do desmame, as bezerras também já deverão ter recebido vacinação contra a Brucelose, com vacina viva atenuada cujo antígeno é a cepa B-19 da Brucella abortus. Tal vacina deverá ser aplicada por um médico veterinário ou por pessoa por ele autorizada.
Também devemos evitar coincidir vacinações com o desmame em virtude da queda da imunidade que poderá ocorrer naturalmente nos animais. No entanto, em situações onde se desconheça o histórico sanitário dos animais ou quando, por ventura, os animais não tenham recebido a primovacinação antes do desmame, é preciso realizar as vacinações devidas mesmo na época do desmame. A pior vacina é aquela não aplicada.
Considerando a concentração dos desmames no gado de corte entre março e setembro, podemos propor um esquema de primovacinações contra as Clostridioses e a Raiva a partir de novembro, quando é necessário aplicar a primeira dose das vacinas nos animais nascidos em julho, agosto e setembro, aproveitando-se este manejo para aplicar uma dose de um vermífugo de longa ação comprovado.
Em fevereiro, chega o momento de aplicar a segunda dose das vacinas neste grupo de animais e a primeira dose nos animais nascidos em outubro novembro e dezembro, aproveitando para aplicar uma dose de um vermífugo de longa ação comprovado nestes últimos, que estarão entre dois e quatro meses de idade. A próxima etapa para realizar as vacinações pré-desmama ocorrerá em abril, quando deve-se imunizar os animais nascidos em janeiro em fevereiro. Estes mesmos devem receber a segunda dose em maio, época da 2ª dose das vacinas também nos bezerros e bezerras que nasceram entre outubro e dezembro e que foram vacinados pela 1ª vez em fevereiro.
O mês de maio poderá ser a época escolhida para as revacinações anuais contra as doenças em todo o rebanho. Neste sentido, podem ser vacinados novamente os animais nascidos entre julho e setembro para que estes não fiquem mais de 12 meses sem receberem o reforço anual, pois receberam a 2ª dose da primovacinação antes do mês de maio.
Ainda no desmame, todos os animais deverão receber um tratamento com produto antiparasitário de longa ação comprovado a campo, o que traz alto retorno econômico quando analisamos a relação investimentos versus benefícios.
Algumas práticas de manejo na tentativa de se minimizar o estresse dos bezerros e bezerras são recomendadas. Uma delas é o emprego de madrinhas. Elas poderão ser introduzidas no rebanho de vacas com suas crias cerca de três a quatro semanas antes do desmame. Após o desmame, as madrinhas permanecem com os bezerros e bezerras desmamados, minimizando os efeitos negativos da separação das crias de suas mães, pois as madrinhas serão as novas protetoras do rebanho dos jovens animais.
Outra ação simples, porém eficiente, é retirar as mães e manter as crias na pastagem original. Sempre deveremos procurar retirar os animais adultos da pastagem onde se encontravam com as crias. Isso é importante uma vez que os animais desmamados já conhecem o ambiente onde permanecerão após a separação de suas mães, minimizando os efeitos do estresse.
Empregar técnicas de manejo racional e bem-estar animal e, se possível, suplementar os animais desmamados com alimentos que permitam bom desempenho no ganho de peso e no crescimento também são iniciativas indicadas.
Em resumo, o desmame caracteriza-se por um momento de alto estresse com queda na imunidade geral dos animais. Por isso, cuidados sanitários e de manejo devem ser adotados para prevenir impactos negativos no rebanho de bezerros e bezerras desmamados. Seguir a risca estes cuidados é uma questão de organizaç&atild
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